Capítulo 1

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Sabe aqueles dias em que você se sente tão feliz, mas TÃO feliz que parece que nada pode mudar seu bom humor? Bem, eu me senti assim hoje. Depois de um ano de trabalho duro e muito estudo, depois de tantas privações, estresses e etecetera, meu nome estava no topo da lista. Meu. Nome. Estava. No. Topo. Da. Lista.

Talvez se você não for brasileiro, não saiba do que eu estou falando. Você deve estar se perguntando: o que danado é essa lista? Não, não é uma lista de entrada VIP em festas glamorosas. Na verdade, eu nem sou uma garota de ir muito a festas.

Deixem-me explicar uma coisa sobre o Brasil que você provavelmente não sabe. Nós temos duas coisas horrendas chamadas "Enem" e "SISU". Essas palavras são simplesmente aterrorizantes para qualquer adolescente entre quinze e dezoito anos.

Nosso sistema de ensino superior é público. Ou melhor, claro que existem faculdades particulares, mas todo mundo quer entrar numa universidade pública porque elas são consideradas as melhores no país — e são de graça. Completamente de graça. Nossos pais não precisam pagar um centavo para nós estudarmos nelas – na verdade, até que pagam sim já que nossos impostos servem para isso, mas essa discussão não vem ao caso.

Mas tudo que é bom tem um preço, certo? Para entrar em uma dessas universidades públicas, você precisa se submeter a um dos mais difíceis e decisivos exames de sua vida, o tão temido Enem, e, depois, submeter sua nota ao sistema do SISU e escolher dois cursos, em ordem de preferência, em universidades de todo o Brasil.

Durante o período de inscrição, o SISU divulga por dia a sua classificação dentro desses cursos e, se sua nota não for boa, você pode migrar para outro curso em que você fique melhor qualificado. O problema é que, justamente por ser um sistema universitário público, não existem vagas suficientes para suprir o número de estudantes. Para alguns cursos como Medicina e Direito, a competição por uma vaguinha fica insana. É sério. Teve gente no meu ano que até remédio para a ansiedade teve que tomar para conseguir aguentar a pressão.

Isso me faz lembrar uma coisa que eu aprendi nesse ano. Deixem-me ser um pouco filosófica agora, sim? Ca-ham. É como a Lei da Oferta e da Procura nos ensinou: quando a demanda (nós, pobres estudantes) é muito grande e o estoque muito pequeno (as vagas), os preços aumentam (a concorrência). Ha ha. Eu sou uma gênia. Espera... A lei é essa mesmo? Ih, já esqueci. Ainda bem que não caiu no Enem esse ano.

Mas sabe de uma coisa? EU NÃO ME IMPORTO PORQUE EU FIQUEI NO TOPO DA LISTA DO SISU PARA O CURSO DE DIREITO NA USP — que é tipo uma das melhores faculdades do país — E AMANHÃ É O ÚLTIMO DIA DE INSCRIÇÃO! É claro que minha nota pode descer ou subir, mas, CARAMBA, se eu fiquei no TOPO da lista até agora, não é possível que tantas pessoas entrem a ponto de me jogar para fora do número de vagas. CARAMBA! EU VOU PASSAR. EU. VOU. PASSAR.

Sim, sim, sim! Eu vou entrar para a faculdade! Sim, eu vou ser fabulosa! Sim, eu vou ser uma mulher de sucesso! Eu vou ganhar o prêmio Nobel da Paz e vou descobrir a cura do câncer e... Ok, melhor eu parar por aqui.

Mas, falando sério agora, o melhor sentimento nem era ver meu nome naquela lista tão esperada. O melhor sentimento de todos era ver as caras de felicidade dos meus pais por saberem que eu já estava praticamente dentro da faculdade. Eles haviam batalhado tanto para que eu chegasse onde cheguei hoje.

Nos últimos três anos, meu pai se matou de trabalhar, fazendo todas as horas extras que podia, para que nós pudéssemos bancar o colégio e os cursinhos caros que eu frequentei. Minha mãe me levava para cima e para baixo pela cidade para que eu não perdesse qualquer aula ou precisasse pegar ônibus, sempre deixou meus lanches prontos para que eu não passasse fome fora de casa nem em pensamento e até mesmo começou a costurar para fora para que eu pudesse ter alguns trocados para minhas necessidades do dia a dia.

Quando eu caí na netOnde histórias criam vida. Descubra agora