Capítulo 6

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Eu não sei se vocês sabem, mas o que aconteceu comigo tem nome e é conhecido como revenge porn ou pornografia de vingança.

Se você não sabe do que eu estou falando — de que mundo você é?! —, eu posso explicar. A pornografia de vingança acontece quando fotos ou vídeos íntimos da gente são divulgados na Internet sem a nossa autorização, normalmente por um companheiro ou ex, e com o intuito de nos prejudicar. E foi exatamente isso que aconteceu comigo.

Meu vídeo íntimo foi inicialmente compartilhado numa pasta de arquivos num site de divulgação de imagens e vídeos pornôs. Diversos downloads foram feitos e, em pouco tempo, o vídeo já estava circulando no Whatsapp de pessoas próximas a mim. A partir daí foi uma questão de tempo até todo o colégio ficar sabendo.

Naquela noite trágica, quando eu já estava fora de perigo após a lavagem estomacal, meu pai entrou em contato com um amigo advogado e nós entramos na justiça — enquanto isso minha mãe resolvia a questão da mudança para Recife. Com a ação judicial, meu pai conseguiu obrigar o site que hospedou o meu vídeo a retirá-lo do ar e isso, de certa forma, minimizou os estragos.

Mas deixem-me explicar uma outra coisinha para vocês. Uma vez que um arquivo entra no mundo virtual, não tem como apagar. Você acha que, quando aquela pasta foi deletada do site, meu vídeo se apagou para sempre? Sim? Pensou errado.

A não ser que eu descobrisse todas as pessoas que haviam feito o download do vídeo em seus computadores e celulares — o que, em pouco tempo, era uma questão de centenas ou milhares — e fosse pessoalmente bater na porta de cada uma delas e apagasse o arquivo eu mesma dos dispositivos deles, não havia jeito de sumir com ele definitivamente.

Eu não estou dizendo que não há como punir a pessoa que fez esse tipo de coisa. Dá sim e, para isso, você tirar print de todas as postagens ou mensagens ofensivas com o link e a data em que você acessou a página — em hipótese alguma delete tudo assim de cara porque você vai precisar dessas imagens depois — e registre a ocorrência na delegacia mais próxima da sua casa e num cartório¹ ². Somente depois de reunir todas essas provas é que você deve entrar em contato com os sites e o Google para retirar as imagens e vídeos ofensivos e seu nome das buscas.

Mas, infelizmente, no Brasil, até esse dia que eu tô falando aqui, a gente ainda não tem uma lei que preveja o que Vinícius fez como um crime específico. O que o pessoal faz é tentar enquadrar esses caras em crimes como difamação ou injúria, os quais, para quem está vivendo o que eu vivi, têm uma pena leve pra caramba. Mas já é alguma coisa.

Acontece que nem isso eu consegui fazer contra Vinícius. É que, no dia em que meu vídeo foi divulgado, meu ex-namorado deu parte na polícia informando que ele e um amigo haviam sido roubados horas antes de a pasta ter sido upada no site. E, obviamente, ele simplesmente negou veementemente ter tido qualquer participação na divulgação do vídeo.

Para piorar tudo, segundo o depoimento de Vinícius na delegacia, o nosso vídeo havia sido feito de maneira consensual e, inclusive, ideia minha. O que havia acontecido posteriormente, infelizmente, fora uma fatalidade e Vinícius torcia para que os verdadeiros culpados fossem encontrados e punidos. Mas eu e sabia que aquela história toda dele era mentira. Eu sabia.

Mas nem meu pai acreditou na minha palavra.

E, assim, de repente, não mais que de repente, eu virei a ovelha negra da família.

~*~

Vocês podem imaginar agora qual foi a sensação que eu tive ao ler aquelas palavras de Nalu. Por um segundo louco, tudo o que eu consegui pensar foi "meu pesadelo vai acabar". Com as mãos tremendo, eu consegui digitar lentamente uma resposta para minha amiga:

Quando eu caí na netOnde histórias criam vida. Descubra agora