Capítulo 10

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Quando deitei minha cabeça no travesseiro naquela tarde, eu automaticamente toquei meus lábios com a ponta dos dedos e sorri. Não sabia como, mas ainda conseguia sentir o gosto salgado do mar na minha boca. Beijar Miguel havia sido uma das melhores coisas que me acontecera nos últimos tempos. Aliás, de todos os tempos. Como eu havia conseguido ficar tanto tempo sem aquele sentimento de leveza no corpo?

De supetão, voltei a me sentar na beirada da cama. Havia alguma coisa dentro de mim que precisava... cantar. Com um pulo, eu me levantei e escolhi uma música para tocar num aplicativo de streaming. Assim que as primeiras notas começaram a tocar, eu corri para pegar minha escova de cabelos.

Enquanto eu cantava a plenos pulmões em perfeita sintonia *cof cof* com Pharrell Williams, as memórias das últimas horas se repetiam em minha cabeça. O beijo. O desnecessariamente longo caminho de volta com Maria no banco de passageiros. A despedida rápida no hall porque tia Fátima chegou bem na mesma hora.

— Bruna? — Minha tia pôs a cabeça para dentro do meu quarto, sendo imitada por Nandinho.

— "Because I'm happyyyy"¹! — Eu não me intimidei e continuei cantando, chamando Nandinho com a mão livre.

Meu primo gargalhou e correu para se juntar a mim, pulando animadamente na cama. Tia Fátima ainda me olhava estranhamente.

— "Clap along if you feel like a room without a roooof".² — Eu dancei em sua volta, batendo palmas no ritmo da música.

Aos poucos, a expressão de preocupação dela começou a ser substituída por um riso no canto da boca. Para minha surpresa, ela pegou meu estojo que estava em cima da cômoda e entrou na brincadeira. Quando dei por mim, estávamos nós três cantando e batendo palmas como três bobos felizes.

Quando a música finalmente terminou, nós sentamos na cama e rimos, ainda arfando pelo exercício.

— O que deu em você? — Tia Fátima perguntou, levando a mão ao peito.

— Nada. Deu vontade de cantar, só isso. — Eu dei de ombros, mas o sorriso de um canto a outro do meu rosto me entregava completamente. Tia Fátima estreitou o olhar para mim, mas se conteve, provavelmente por causa da presença de Nandinho, que já implorava para nós escolhermos outra música.

— Depois nós conversamos. — Ela sorriu desconfiada para mim e se levantou. — E trate de arrumar esse quarto, mocinha. — Ela disse antes de sumir pela porta, levando meu primo.

— Já já! — Eu falei para depois me jogar na cama e pegar meu celular.

Eu tinha que contar tudo para Nalu nos mínimos detalhes. Minha amiga nunca me perdoaria se eu não lhe falasse a notícia em primeira mão. Antes que eu abrisse a conversa com Nalu, no entanto, notei que havia uma mensagem de Miguel que eu ainda não havia visto.

"Eu sinto lhe informar, Bruna, mas as paredes desse prédio são extremamente finas".

Eu havia esquecido completamente que Miguel estava no apartamento ao lado e, provavelmente, podia ouvir toda a minha cantoria.

"Ooooops!", eu escrevi e coloquei o emoji do macaquinho tapando a própria boca.

"Então você está feliz?"

Eu sorri. Sim, eu estava.

"Eu só respondo na presença do meu advogado", eu desconversei.

Miguel passou algum tempo digitando e eu presumi que deveria algo mais sério, o que me deixou apreensiva.

Quando eu caí na netOnde histórias criam vida. Descubra agora