Então eu não conseguia resistir a Miguel. Acontece. Todo mundo tem um ponto fraco. Sem julgamentos, por favor. E, em minha defesa, fica difícil manter qualquer resolução quando ele é tão encantador comigo o tempo inteiro. E lindo.
Miguel nem havia tentado nada comigo naquele dia e nós voltamos para casa de bicicleta e nos despedimos como bons amigos, como ele havia prometido que seria. Ainda assim, qualquer inclinação diferente dele em minha direção me fizera acelerar o coração e sentir um misto de medo e vontade de que ele me beijasse.
Foi então que eu tive a certeza de que não podia me deixar envolver mais ou seria um caminho sem volta. Eu precisava evitar Miguel a todo custo. O que era bem difícil visto que nós morávamos lado a lado — mas que eu, incrivelmente, havia conseguido.
Não que ele tenha me perseguido nem nada. Miguel, apesar de toda a sua determinação, não era uma pessoa pegajosa. Quando ele percebeu que minhas respostas às mensagens dele eram vagas e monossilábicas, ele logo parou de falar comigo. Mas, por via das dúvidas, eu também não deixei acontecer nenhuma oportunidade de nos encontrarmos nos corredores da faculdade ou do nosso prédio. Os únicos momentos em que nos vimos durante a semana haviam sido durante as aulas de IED, quando eu propositalmente evitava olhar em sua direção.
Em pouco tempo, eu consegui fulminar o interesse dele por mim. Meu interesse nele, eu já não tinha tanta certeza. Tudo em que eu havia conseguido pensar naquela semana inteira era nele... e em Nalu. Minha amiga continuava empenhada em nosso plano de arrancar provas contra Vinícius.
Assim que acordei naquele sábado de manhã, vi que Nalu havia me enviado algumas mensagens quase de meia noite. Não eram lá grandes avanços, mas ela havia conseguido se infiltrar numa festa em que Vinícius estava e havia pedido desculpas pelo murro que dera nele. Vinícius, com todo o cinismo do mundo, aceitou-as de bom grado. Depois disso, Nalu parou de me mandar mensagens.
Eu deixei o celular de lado e respirei fundo, desejando internamente que minha amiga não se metesse numa enrascada por minha causa.
— Bom diaaa! — Uma voz já conhecida exclamou ao meu lado. Em seguida, Nandinho pulou em minha cama desajeitadamente.
— Bom diaaa! — Eu ri e o segurei antes que seu cotovelo me atingisse bem no meio da barriga. — Então o que nós vamos fazer nesse sábado?
— Nós vamos... Vamos... — Ele levou o dedo indicador à boca, pensativo.
Meu primo era a coisa mais fofa desse mundo. Dava vontade de apertar, não, morder aquelas bochechas dele!
— Que tal irmos ao Parque da Jaqueira? — Eu sugeri. Tia Fátima havia comentado que Nandinho adorava brincar naquele parque nos finais de semana.
— Siiim! Vamos pra lá! — Ele se animou.
— Bruna? — Tia Fátima apareceu no vão da porta. — Tem dois amigos seus da faculdade te esperando lá embaixo.
— O quê? — Eu sentei de brusco, quase derrubando Nandinho da cama.
— Caio e Raíssa. — Ela completou.
— Como assim? — Eu esfreguei meus olhos com força como se aquilo fosse me ajudar a raciocinar. — Minha nossa! — Eu arregalei os olhos quando lembrei.
Eu havia esquecido completamente da viagem para Porto. Eu havia ficado de ir no carro de Caio até a FDR, de onde um micro-ônibus sairia para levar a turma toda até a praia. Maldita hora em que eu silenciei o grupo da sala!
— Nandinho, nosso passeio vai ter que ficar para depois! — Eu pulei da cama.
~*~
Quinze minutos depois do banho mais rápido da face da Terra — se eu não entrei para Guiness Book, foi por pouco — lá estava eu, sentada no banco traseiro do carro de Caio. Eu já havia pedido mil desculpas para os dois, mas Raíssa ainda parecia um pouco chateada com meu atraso.
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Quando eu caí na net
Ficção Adolescente[VENCEDOR WATTYS 2017] • Bruna está prestes a realizar o grande sonho de entrar para a faculdade e ter uma vida comum como qualquer outra garota de dezessete anos. Tudo o que ela não esperava era que um vídeo da sua primeira vez a transformasse, do...