Capítulo 12

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Eu apertei a tecla de espaço do notebook assim que senti meu estômago embrulhar. A última vez que eu havia visto aquele vídeo até o fim havia sido naquela noite no ginásio do colégio e eu acho que jamais conseguiria fazê-lo novamente.

— Miguel? — Eu tentei entender a expressão que estava estampada no rosto dele enquanto ele mirava a tela do meu computador. — Miguel. Fala comigo. — Eu me inclinei para tentar encará-lo melhor, mas Miguel continuava mudo e com os olhos fixados na tela.

Eu fechei o notebook na tentativa de ganhar sua atenção.

— Por que você me mostrou isso? — Ele finalmente se voltou para mim, como se meu gesto houvesse quebrado o estado de transe em que ele estava.

— Você sempre quis saber o que meu namorado fez comigo. Agora você sabe.

Miguel se levantou de brusco da cadeira, me fazendo dar um passo para trás com o susto.

— Eu sei que vocês transaram. Eu não ligo para isso e você sabe. — Ele falou friamente.

— Eu sei que você não liga, Miguel, mas...

— Mas você não precisava esfregar isso na minha cara. Já basta saber, eu não preciso ter a imagem gravada na minha cabeça, Bruna. Muito menos essa. — Ele apontou para o notebook.

Aparentemente, minha forma de contar meu problema para Miguel não havia sido uma boa escolha.

— Calma. — Eu comecei, mas ele me interrompeu novamente. — Você entendeu errado. — Ele estava começando a ficar visivelmente transtornado e atropelava minha fala toda vez que eu tentava me explicar.

— Se você e seu ex curtiam fazer vídeos, era um problema de vocês e...

— Eu nunca autorizei o vídeo! — Eu gritei com impaciência.

Miguel finalmente se calou. Apesar do silêncio que havia se instalado na sala, era como se meu grito ainda ecoasse em minha mente.

— Eu nunca... — Eu voltei a falar depois de um longo suspiro. — Eu nunca autorizei esse vídeo.

Miguel me encarou, com uma ruga de expressão que parecia materializar uma interrogação enorme em sua testa.

— Do que você está falando?

— O que você ouviu. — Eu falei. — Ele gravou esse vídeo sem minha permissão.

Miguel olhou do notebook para mim e, em seguida, abriu a boca e a fechou, sem emitir som algum. Eu podia jurar que, a qualquer momento, poderia ver uma fumaça saindo da cabeça dele enquanto ele visivelmente tentava entender o que estava acontecendo.

— E porque você tem o vídeo gravado num pen drive?

— Você não consegue imaginar? — Eu dei as costas para Miguel e retirei o pen drive da entrada USB para, em seguida, devolvê-lo ao mini cofre que eu mantinha em meu guarda-roupa.

— Ele te chantageia?

— Não. Antes fosse. — Eu cruzei os braços e olhei para baixo, sem conseguir olhá-lo nos olhos. — Vinícius... — Eu percebi que era a primeira vez que eu falava o nome do meu ex-namorado para Miguel. — Ele compartilhou esse vídeo com o colégio inteiro. Com a cidade inteira. Eu tenho o vídeo guardado porque ele foi usado como prova no meu processo contra ele.

Eu ergui meu olhar a tempo de ver o queixo de Miguel cair ligeiramente. Eu tentei decifrar o que aquela expressão no rosto dele significava, mas era impossível. Seus olhos negros, antes tão cheios de certeza, agora me encaravam de uma forma vazia.

Quando eu caí na netOnde histórias criam vida. Descubra agora