Capítulo 5

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— Por que você nunca me disse que estudava aqui?

— Você nunca perguntou. — Ele deu de ombros.

Eu estreitei instantaneamente o olhar.

— Em que período você está? — Eu perguntei.

— No quinto.

Antes que eu pudesse fazer qualquer outra pergunta, no entanto, nós fomos interrompidos por um senhor de meia idade que passava por nós.

— Bom dia, Miguel! — O senhor o cumprimentou e acenou levemente com a cabeça para mim, que retribuí o gesto, apesar de não fazer ideia de quem ele era.

— Bom dia, professor! O senhor já vai para o anfiteatro? — Miguel me deixou de lado e acompanhou o tal professor corredor a dentro.

Eu fiquei olhando para o lugar em que as duas figuras haviam sumido ao dobrar à esquerda, sem acreditar no tamanho do azar que eu tinha — e também com uma pitada de ressentimento por Miguel ter saído sem se despedir de mim.

Depois de balançar a cabeça negativamente, eu respirei fundo e subi o resto das escadas, fazendo questão de entrar no prédio com o pé direito — um pouco de sorte nessa vida não é pedir demais, é?

A primeira impressão que eu tive do interior da Faculdade de Direito do Recife foi a de estar entrando num lugar amplo, claro e... charmoso. O edifício tinha o formato retangular e se erguia em volta de um pequeno jardim, que ficava bem no centro e num piso inferior ao que eu estava. Todos os quatro cantos do jardim eram marcados por enormes palmeiras que pareciam ultrapassar a altura do telhado. E eu nem havia olhado para o chão que estava debaixo dos meus pés! Todo ladrilhado com pequeninas pastilhas, o piso carregava desenhos de mosaicos em formatos geométricos e de pequenas flores.

Eu estava tão entretida com aquilo tudo que nem havia notado as pessoas à minha volta — o que eu só vim a perceber depois que quase atropelei um grupo que cruzou o meu caminho.

Havia vários grupos de jovens espalhados pelos corredores. Alguns, com carinhas mais novas como a minha, se vestiam de forma casual e despojada — Havaianas no pé e tudo — e pareciam estar de boa com a vida. Outros se vestiam completamente engomados e engravatados, parecendo prontos para entrar num episódio de The Good Wife e gritar "Objeção, Meritíssimo!". Esses tinham umas caras mais velhas.

Mas o que quase todos tinham em comum era o fato de carregarem um livro gigante debaixo dos braços. Ninguém havia me alertado que eu praticamente teria que fazer academia para estudar Direito. Sério, vocês não têm noção do tamanho daquela bíblia que as pessoas levavam para cima e para baixo — que eu vim a descobrir que se chamava Vade Mecum e se tratava de uma compilação de diversas leis.

Aquelas eram pessoas tão diferentes das com as quais eu estava acostumada. Eu não conhecia absolutamente ninguém. Todos aqueles rostos eram completos estranhos para mim... E eu era uma completa estranha para eles. A centelha de esperança de que eu poderia ter um novo começo parecia ganhar força a cada instante.

Deixando minhas impressões de lado, eu me dirigi a um painel que estava exposto num canto do corredor e que parecia conter diversos avisos. Por entre os anúncios de estágio e de congressos, eu finalmente encontrei uma grade com os horários e salas de todas as turmas da faculdade. Vasculhei o papel com o olhar até descobrir que o meu primeiro horário se daria no Anfiteatro 01.

Mas, antes mesmo de chegar lá, eu logo percebi que nem precisava ter me dado ao trabalho de procurar onde seria minha sala. Assim que meu olhar recaiu na direção do suposto Anfiteatro 01, eu pude avistar um grupo enorme de adolescentes aglomerado em volta de um banquinho de madeira que ficava ao lado de uma enorme porta feita do mesmo material.

Quando eu caí na netOnde histórias criam vida. Descubra agora