xlvi. 10 dias depois

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naquela noite de sábado

nossos corpos iluminavam a luz do luar,

corpos cor de mármore que irradiavam mais que

bombas nucleares em mundos apocalípticos

e realidades sírias que nunca viveremos;

seus cabelos longos lutavam com garras

com as partículas atômicas do ar,

mas a vitória era certa:

ventos levavam casas 

e vidas, afinal de contas.

suas palavras bonitas falavam por nós dois

porque você conhecia demais sobre 

literatura europeia e eu sou descomprometido

demais para me comprometer a ler mais de um livro escrito

com a mesma ideologia 

(e talvez eu não estivesse falando tanto

porque estava tentando não deixar

areia entrar na minha bunda).

lembro de colocar um cigarro daqueles de menta,

o mesmo que mata milhares todos os anos,

na boca e escutar

você falando tudo aquilo que eu

já sabia sobre cigarros e bocas e saúde

e menta e sabotagem.

e também lembro de guardar o cigarro

e pensar em tudo aquilo sobre cigarros e bocas e saúde

e menta e sabotagem como se fosse a primeira vez.

você é bom com palavras. 


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