Capítulo 1: O Olhar - Ana Flor

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Coração

Sem perdão,

Diga fale por mim

Quem roubou

Toda minha alegria

O amor me pegou,

Me pegou pra valer

Aí que a dor do querer,

Muda o tempo e a maré

Vendaval sobre o mar azul.

   ANA FLOR

Eu nunca me senti tão tensa e confusa como naquele instante. Todos os centros nervosos do meu corpo pareciam ter sofrido um curto circuito. O que aquele homem fez comigo?

Quase dei graças a Deus quando vi Vítor no mesmo lugar onde o tínhamos deixado, conversando animadamente com uma linda mulher alta e loira. Fui até ele ansiosa, abalada, com medo, tentando disfarçar tudo sob a aparência mais calma que consegui. Mas era difícil manter a calma com João tão perto de mim.

- E aí, está convencida? - Vítor brincou, estendendo a mão para mim.

Segurei sua mão e apenas sorri. João parou ao meu lado, mas nem ousei olhá-lo.

- Convencida do quê? - Perguntou a loira, fitando-me com claros olhos verdes, muito bem delineados e maquiados.

- João está me ajudando a convencer a Ana a se casar comigo. - Explicou Vítor.

- Ah, é? Essa é nova! Pensei que casamento fosse uma palavra que não faz parte do seu dicionário. - Ela brincou com João.

- Do meu dicionário não faz. Mas o casamento é pra ele. - Indicou o primo.

- Essa é Fernanda Linhares, amiga de João. E essa é minha noiva, Ana Flor Cândido.

- Ana Flor. Que nome encantador! Como vai? - Fernanda estendeu sua mão e eu a apertei.

- É um prazer. - Sorri, notando o quanto ela era bonita e elegante. Devia ter por volta de trinta anos, era bem alta e seus cabelos eram lisos e em fio reto até quase os ombros. Estava ao lado de João e percebi, incomodada, que eles faziam um casal impressionante. Lembrei de tudo que Vítor me falara sobre eles, sobre serem amantes e sobre o clube de BDSM. Foi impossível não imaginá-los transando e me encher de um ciúme tão violento que até me assustei.

- Estava procurando você. - Fernanda o fitou com carinho. - Já que você está com espírito para dançar, que tal me levar para a pista?

- Claro, madame. - João sorriu para ela, à vontade e lhe estendeu o braço.

Eu observei como ele parecia ainda mais lindo sem a cara de mau com que olhava pra mim.

- Com licença. - João disse a mim e ao Vítor. Antes de sair, ele fixou seus olhos profundos e de um belíssimo tom azul escuro, quase violeta, nos meus. Senti meu coração falhar uma batida, pois seu olhar era quase uma despedida.

Eles se afastaram e por um momento tive o pensamento insano de tomar o lugar de Fernanda, pegá-lo para mim e fugir para bem longe com ele. Então lembrei de Vítor ao meu lado e me enchi de vergonha. Eu era horrível! Por isso João achara que eu era uma garota fácil, que traía o meu noivo. Que vergonha, meu Deus!

- Você está tão calada. - Vítor me virou para ele e segurou minhas duas mãos. - O que houve?

- Nada. - Forcei um sorriso.

- Gostou do João?

- Sim.

- Que bom. Geralmente as mulheres ficam loucas por ele, mas sei que você não é assim.

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