Capítulo 3: Cada vez mais difícil resistir - João Pedro

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A noite é longa

O dia sem graça

Eu já fiz de tudo

A saudade não passa

Cadê o mundo

Que eu vivia

E você carregou?

JOÃO PEDRO

Eu não acreditei no que minha tia me contava, no sábado quando cheguei à mansão para saber de Vítor. Eu e ela estávamos na sala, sentados lado a lado no sofá.

- Deixa ver se entendi. Vítor passou a noite com a amiga de Ana, que o trouxe para casa ontem? Aquela de quem ele não gostava?

- Isso mesmo. – Tia Laurinha acabou sorrindo. – Dá pra entender esse garoto? Passou dias desesperado pelo fim do noivado e bastou aquela moça bonita ficar no quarto sozinha com ele e os dois dormiram juntos. Agora está lá no escritório, pondo o trabalho em dia no computador, todo calado.

- Vou falar com ele.

- Vê se passa um pouco do seu juízo pra ele.

Sorri antes de sair da sala e ir até o escritório. Vítor estava à vontade em um sofá, recostado e com um notebook apoiado nas pernas.

- Posso entrar?

- João! Claro, cara. – Vítor se sentou direito, fechou o notebook e o pôs na mesinha ao lado. Parecia abatido.

Sentei na poltrona em frente, já dizendo:

- Vim pra cá preocupado com você, mas tia Laurinha disse que a noite foi realmente boa.

Ele corou e passou a mão pelo cabelo claro e ondulado, um pouco sem graça.

- Cara, ontem foi um dia louco. Acabei bebendo e fui atrás da Ana lá na Lapa. Falei um monte de besteira. Acho que ela ficou com pena e disse que me traria em casa. Já estava ligando para um táxi, quando a Paola começou a me dar esporro. Tomou a frente de tudo e quase me arrastou pra fora do bar. 

- Sei disso. Fui até lá atrás de você e a Ana me contou. Falei também com a Paola por telefone, quando ela estava trazendo você para casa.

- Pois é. João, estou dizendo, foi uma loucura. Ela me levou pro quarto com a minha mãe. As duas falaram muito e eu prometi que deixaria a Ana em paz. Mas eu precisava conversar e pedi pra Paola ficar um pouco. Na verdade, eu ainda queria arrumar um jeito de reconquistar a Ana e achei que ter Paola como aliada era a melhor saída.

Vítor se remexeu no sofá. Quando me olhou, parecia confuso:

- A Paola notou logo minha jogada e me chamou de idiota, molengão, porra, me xingou de várias coisas. Ela estava exaltada, com o rosto perto do meu e aí, não sei direito o que aconteceu. De repente fiquei bem consciente que ela tem uma boca linda, de que os seios dela quase encostavam em mim e quando vi eu a deixava muda com um beijo. Foi muito rápido. De repente ela me agarrava e beijava também e... aconteceu.

Eu o observava. Estava cabisbaixo.

- Não parece muito feliz.

- E não to mesmo. Aconteceu por que passei meses na seca com a Ana e estava bêbado. Mas não é Paola que quero. E agora ela vai contar pra Ana e me ferrar de vez. – Ficou pálido. – Que merda que eu fiz!

Vítor se levantou, passando a mão no cabelo. Se dirigiu até o bar ali perto e pegou uma garrafinha de cerveja no frigobar.

- Quer uma?

- Quero.

Ele destampou duas, me deu uma e voltou a se sentar tomando um gole da sua. Então me olhou e tentou explicar:

- Depois que Paola foi embora, fiquei tentando entender tudo o que aconteceu. Cara, ela é um mulherão, do tipo que sempre gostei. Mas eu amo a Ana. Ela tem um jeitinho especial, doce, feminina, diferente de todas as mulheres que já conheci. Com ela eu me sinto bem, feliz, seguro. Não posso desistir do amor da minha vida assim.

- Mas se ela não quer, Vítor, você tem que aceitar.

- Não posso. Preciso fazer alguma coisa. Ainda mais agora, depois desse vacilo com Paola. – Recostou-se, arrasado.

Fiquei quieto e foi impossível não pensar na noite anterior, com Ana nos meus braços, a voz dela dizendo que me esperaria, nem que fosse por dez anos. E o desejo absurdo de jogar tudo para o alto e ficar com ela. Mas agora, vendo Vítor, me dava conta que agi certo. Ele ainda estava ligado demais nela para aguentar algo assim vindo de mim. Mesmo tendo transado com a melhor amiga dela na noite anterior.

- Cara, me dá uma ajuda. Fale com a Ana. – Vítor me encarou, como um garoto perdido.

- Ficou louco? – Eu me levantei. – A única coisa que posso fazer é dizer para você aceitar. Mas como sei que não vai adiantar, só peço que lembre o que uma obsessão pode fazer a uma pessoa. Minha mãe e Angélica eram assim comigo. E olha o que fizeram. Nunca acaba bem.

- Mas não sou como elas. – Se defendeu.

- Sempre achei que não. Mas cuidado para não passar dos limites. Vou lá, Vítor.

- Tá, cara, vou pensar em tudo.

- Faça isso.

E saí. Talvez fosse melhor ficar o mais distante possível daquela história.

QUANDO VI VOCÊOnde histórias criam vida. Descubra agora