Capítulo 5 - A Luxúria dos amantes - João Pedro.

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Aqui

Eu nunca disse que iria ser

A pessoa certa pra você

Mas sou eu quem te adora 

Se fico um tempo sem te procurar

É pra saudade nos aproximar

E eu já não vejo a hora

Eu não consigo esconder

Certo ou errado, eu quero ter você

Você sabe que eu não sei jogar 

Não é meu dom representar

Não dá pra disfarçar 

Eu tento aparentar frieza mas não dá

É como uma represa pronta pra jorrar

Querendo iluminar

A estrada, a casa, o quarto onde você está

Não dá pra ocultar

Algo preso quer sair do meu olhar

Atravessar montanhas e te alcançar

Tocar o seu olhar 

Te fazer me enxergar e se enxergar em mim

JOÃO PEDRO

Eu acordei com o sol iluminando o quarto. Abri os olhos sonolentos e na mesma hora fui invadido por uma sensação de que havia algo importante naquele dia. Quase que imediatamente lembrei da noite anterior e busquei Ana na cama. Quando meus olhos deram com ela, senti um baque por dentro e fiquei imóvel, apenas olhando-a.

Deitada de bruços, com os cabelos longos e castanhos espalhados pelas costas nuas, ela estava com o rosto virado para o outro lado, uma perna esticada e a outra dobrada, O lençol tinha descido até os quadris e dava para ver o início de sua bunda redondinha e macia.

A ereção com que acordava toda manhã ficou ainda mais dura. Sensações quentes, lascivas, percorreram meu corpo. Fui engolfado pelo desejo, mas também por sentimentos que iam além, de júbilo e alegria, simplesmente pelo fato dela estar ali. Flashes da noite anterior vieram à minha mente, o modo como seu corpo recebeu o meu, como me senti ao estar dentro dela, a textura de sua pele e cabelo, seu cheiro delicioso de morango que parecia impregnado em mim.

Fiquei assustado com a intensidade dos meus sentimentos. Por isso lutei contra a vontade de puxá-la para mim, abrir suas pernas e penetrá-la como eu queria, até me esvair todo dentro dela. Pulei da cama, ansioso, nervoso. Desde o início eu sabia que Ana era perigosa para mim. Agora aquilo só se tornava ainda mais patente.

Tomei uma chuveirada rápida, vesti um roupão branco e voltava descalço ao quarto, lutando para me controlar, quando a campainha tocou. Parei estático. Ana acordou e se moveu na cama, olhando em volta, se virando. Quando me viu, seus olhos se arregalaram e brilharam. Tardiamente se deu conta dos seios nus e puxou o lençol para cima, ficando corada, sorrindo um pouco tímida.

A campainha tocou de novo e respirei fundo, pois poucas pessoas eram liberadas pela recepção para subir direto. E nenhuma delas eu queria que visse Ana ali. Fiquei com medo que pudesse ser Vítor. Culpa me engolfou, mas não perdi tempo com aquilo. Falei baixo:

- Fique aqui, Ana.

- Tá. – Ela concordou com a cabeça, linda e pura. Tive vontade de ignorar quem quer que fosse e ir beijá-la. Mas respirei fundo e saí do quarto.

Quando cheguei até a porta da frente, olhei pelo olho mágico e dei com Fernanda. Porra. Suspirei e abri a porta.

- Oi, querido. Já tomou café da manhã? – Deu-me um beijo nos lábios e entrou no apartamento, mostrando-me duas sacolas. – Trouxe delícias dessa padaria que tem aqui perto!

Sorriu para mim, linda e jovial em jeans, os cabelos soltos pelos ombros, os olhos verdes brilhando. Só então fechei a porta. Quando a encarei em silêncio, seu sorriso diminuiu e indagou:

- Hei, aconteceu alguma coisa? Desde ontem você está esquisito. Quando saiu sem se despedir, fiquei preocupada. João?

- Estou acompanhado, Nanda.

- O quê? – Ela arregalou um pouco os olhos, surpresa. – Aqui?

- É, aqui.

- Mas ... Você não traz ninguém aqui! Nenhuma mulher.

- Essa eu trouxe.

- Meu Deus. Não sei nem o que falar. – Parecia pálida, realmente surpresa. Franziu o cenho. – Pensei que ... Bom, desculpe aparecer assim. É que não tem esse negócio de avisar entre nós dois.

- Claro que não. – Passei a mão pelo cabelo úmido, tanto eu quanto ela desconfortáveis. Lançou um olhar em direção ao corredor, onde ficava o quarto.

- Por isso estava estranho. Conheceu alguém. E deve ser importante, ou ela não estaria aqui.

Entre nós não havia ciúmes ou cobranças. Por isso me senti mais à vontade, mesmo sabendo que Fernanda tinha razão e que a única mulher com quem eu transava que deixava frequentar meu apartamento era ela, por nossa relação antiga e de amizade sincera. Sabíamos tudo um do outro e percebi seu incômodo, relacionando-o mais ao fato de não ter lhe contado nada do que por ciúme.

- É complicado, Nanda.

- Imagino. – Fitou-me atentamente. – É uma submissa?

- Mais ou menos.

- Como assim?

- Eu a iniciei ontem.

- Complicado mesmo. Baunilha. Deve ser mesmo importante. Posso saber quem é ou é um segredo? – Mantive-me em silêncio, pensativo. Confiava cegamente em Fernanda, mas algo me travava. Eu ainda não queria expor Ana. E havia Vítor. Ainda me sentia um traidor.  – Tudo bem, não precisa dizer nada. Vou indo.

Ia se dirigir à porta, mas passou por mim e segurei seu braço. Vi que estava magoada e acabei abrindo o jogo:

- Eu ia contar a você. É que ainda não entendo bem o que aconteceu. Ela é a ex-noiva do Vítor.

Fernanda franziu o cenho, estática.

- Fala sério? E ele sabe?

- Não pode nem sonhar.

- João, o que deu em você? É louco por seu primo, sua família ... E sabe que Vítor está desesperado por causa dela.

Soltei seu braço, irritado por me fazer sentir pior. Fernanda se arrependeu de imediato e me abraçou.

- Desculpe. Só tomei um susto. É que não esperava isso.

- Nem eu, Nanda. Mas aconteceu.

- Agora to preocupada. – Acariciou meu rosto e deu um passo para trás. – Você não é de agir sem pensar. Posso fazer alguma coisa?

- Não.

- Ah, João ... Meu amigo, cuidado. Olha lá onde está se metendo!

- É temporário. E está tudo sob controle. Não se preocupe.

- Certo. Cuide-se, ta bom? E se precisar de mim, sabe onde me encontrar. – Estendeu-me as sacolas. – Toma, divida o café-da-manhã com ela.

Eu me senti tão culpado, que por um momento tive raiva por ficar com a Ana e ver Fernanda sair dali bem diferente do que tinha entrado. Ela era importante demais para mim.

- Não. Esse café era nosso. Prometo recompensá-la logo.

- Eu insisto. – Deixou as sacolas sobre o aparador do Hall e suspirou. – Depois a gente se fala.

- Procuro você ainda hoje.

- Não esquenta. – Beijou meu rosto e abriu a porta.

- Fernanda ...

- Sim? – Virou, quieta, sem sorrir.

- É temporário.

- Eu sei. Sempre é. – Soprou-me um beijo e saiu.

A culpa que senti foi ainda mais forte naquela manhã. Se eu me sentia assim perto de Fernanda, como seria ao encarar Vítor?

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