Capítulo 2: Uma decisão difícil - João Pedro

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O que é o amor

Onde vai dar

Parece não ter fim

Uma canção

Cheirando a mar

Que bate forte em mim

                   

 

JOÃO PEDRO

A minha vontade era de ir embora dali.

Eu me sentia estranho, engolfado por sentimentos desconhecidos e intensos, que não faziam parte do meu dia a dia.

Acostumei-me a levar uma vida controlada, harmoniosa, sem grandes mudanças. Alcancei isso com luta, empenho e dedicação, principalmente depois que fui morar naquela casa com meus tios. Antes minha vida era um caos, que mexeu com minha cabeça, que afetou minhas ações e meu pensamento. Assim, eu fugia de emoções fortes e descontroladas. Dois acontecimentos, um antes dos doze anos e outro aos vinte e três, me deixaram cascudo, preparado para identificar problemas e evitá-los.

Aquela mulher sentada à mesa de jantar, na minha frente, era problema na certa. Ela despertava em mim esses sentimentos incontroláveis e impetuosos que me faziam ficar em alerta. E era ainda mais perigosa, pois esses sentimentos iam muito além do que eu já senti, pois eram desconhecidos.

Além de ser noiva do meu primo, portanto proibida para mim, ela também me assustava por despertar esses sentimentos. Por isso eu deveria evitá-la. Queria que minha vida continuasse exatamente do jeito que planejei, sob controle.

Estávamos todos almoçando e Vítor tentava brincar com o fato de não conseguir comer sozinho, já que estava com o braço direito imobilizado. Tia Laurinha e Ana Flor se ofereceram para lhe dar comida na boca, mas ele insistiu em comer com a mão esquerda. Toda hora a comida caía no prato e ele fazia piadas, causando risadas em todos.

Sentada à minha frente, Ana Flor sorria para Vítor ao seu lado e conversava, mas eu notava que ela estava nervosa. Evitava ao máximo erguer os olhos para mim e, quando isso acontecia, ela corava, arregalava um pouco aqueles lindos e grandes olhos castanho-claros e parecia não saber bem o que fazer.

Eu a afetava da mesma maneira que ela a mim. Seu jeito meio tímido, doce e expressivo me deram a certeza de que ela não era uma garota que gostasse de paquerar pelas costas de Vítor. O que acontecera fora uma atração forte entre nós e ela não estava sabendo reagir bem quanto a isso. Como eu.

Pensei no Clube Voraz, onde Fernanda era uma das donas e eu um sócio há alguns anos. Lá eu havia conhecido muitas mulheres praticantes de práticas sadomasoquistas, que queriam ser submissas. Aprendi a treiná-las, prepará-las. Eu era um dominador naquele meio. E como tal, sentia imenso prazer quando conhecia uma submissa de verdade. E Ana Flor era uma. Aqueles olhos doces, aquela voz macia, a suavidade natural, fariam dela a submissa perfeita. Imaginei aqueles olhos para mim enquanto eu realizava com ela todos os meus desejos. A luxúria veio violenta e fiz de tudo para frear meus pensamentos.

Porra, eu tinha que parar de pensar coisas assim. Ana nunca seria minha. Era a mulher mais errada para mim no mundo, noiva do meu primo, virgem, romântica e inocente. Proibida. 

Comi e conversei, mais experiente do que ela em esconder meus sentimentos. Mas não via a hora de ir embora dali e fugir de toda aquela tensão que me envolvia quando ela estava perto.

Por mais que eu me controlasse, era difícil manter o olhar longe dela. Eu tentava intimamente entender o que ela tinha que chamou tanto a minha atenção.

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