Capítulo 16 - Febre da Guerra

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Lucy inspirou. Estava parada na porta que levava a cozinha de sua casa. tudo aparentemente permanecia o mesmo na propriedade. A mesma calma que uma casa longe dos arredores de uma cidade grande poderia proporcionar.

Empurrou a porta de madeira de uma só vez. Estava com medo, mas também muita saudade de seus entes queridos.

Apesar do cheiro delicioso de pão recém assado Beth não se encontrava ali. Provavelmente estava as voltas pela vila, comprando algo que faltasse. Lucy não resistiu e descobriu a travessa que estava sobre a mesa. O pão tão corado e douradinho estava encarando-a com tanto ardor que ela arrancou um pequeno pedaço, levando-o gentilmente a boca. O sabor inigualável preencheu todas as suas papilas gustativas, fazendo-a perder mão da etiqueta e arrancar logo a metade da iguaria, arrancando mordidas ávidas e mastigando com dificuldade. atravessou o corredor em direção a sala de leitura, tudo estava tão quieto. Vivienne parecia nem morar ali. Ah, os irmãos! Estava morta de saudades de seus gêmeos mais novos. Queria abraçá-los e apertar até que perdessem o fôlego. Deu mais uma mordida no pão e entrou no cômodo.

Tudo parecia tão estranho e diferente, apesar de estar a mesma coisa. Ela senti como se não pertencesse mais ali, como se fosse apenas uma visitante, uma estranha, uma invasora... Olhou para o quadro de família que estava pendurado acima da lareira e sorriu. A pintura havia sido feita há alguns anos. Ela e os irmãos ainda eram pequenos e a mãe estava viva e saudável. A aparência de seu pai era muito mais jovial. Não que ele não fosse feliz, mas a perda da esposa lhe tirara muito da alegria.

- Quem é você e o que faz aqui?

A voz grave a fez voltar suas atenções para a entrada da sala, em prontidão.

Lucian estava de pé, olhando com uma estranha calma para ela. O sorriso de Lucy se abriu. Seu pai estava um pouco abatido, mas certamente ainda era o mesmo.

- Pai! - ela largou o pão sobre o aparador da lareira e correu em direção ao amado progenitor.

E foi com incrível surpresa que recebeu um sonoro tapa na face esquerda.

Lucy ficou sem ação, tocando com a mão calejada a face em chamas. Olhou para Lucian, incrédula. O homem a olhava não com ódio ou rancor, mas tinha uma expressão indefinida.

- Como você pôde fazer isso conosco? - ele sussurrou, entre dentes.

- Pai...eu só queria...queria proteger vocês...

- Você queria se matar! E me matar junto...

O pai nem tocara na possível vergonha que isso poderia acarretar, na verdade isso nem importava.

Visivelmente emocionado o homem aproximou-se dela, temeroso. Tocou seus cabelo que já haviam começado a ganhar forma e a abraçou, deixando as lágrimas rolarem.

- Oh, Lucy! eu quis te esganar, só Deus sabe! Quis cavalgar até o front e trazê-la para casa a custas de uma boa surra, mas sabia que não poderia fazer isso. Você seria descoberta e... - deu um longo suspiro emocionado - Eu não suportaria.

Lucy também soluçava de encontro ao peito do pai, agarrada a sua túnica.

- E eu tive tanto medo, pai! Senti tanta saudade! Em certos momentos eu só desejava voltar! Me perdoe, por tudo o que há de mais sagrado! Perdoe-me por ser uma péssima filha!

Ele ergueu o queixo delicado da filha entre seus dedos.

- Você é minha heroína! A melhor filha que um pai poderia querer! - ele adquiriu uma expressão zangada - Mas não faça uma coisa dessas na sua vida, nunca mais!

Ela assentiu, limpando com a manga da camisa os olhos.

Lucy contou quase tudo o que ocorrera para o pai, omitindo as partes em que amava o comandante de seu regimento. Na verdade seu relacionamento seria assunto para outro dia, quando Jacob voltasse para buscá-la.

Por outro lado ela recebera também uma bronca do irmão e descobriu que Vivienne optara por se casar com o amigo de infância e agora era um Hunnigan. Uniram-se de uma forma tão abrupta que fizeram todos pensar que ela estava grávida. Mas até o presente momento nada de pequenos, o que fez com que Lucian respirasse aliviado.

Agora eram só ela, Christopher e o pai. A casa parecia cada vez maior a medida que mostrava-se vazia. Certamente seria um baque para o patriarca receber a notícia de que ela mesma estava pronta para partir.


Alguns dias se passaram e tudo parecia tranquilo na vida dos Galahad. Uma mensagem foi enviada a Vivienne para que a mesma viesse ter com a irmã. Era previsto que ela chegasse ainda naquela manhã. Lucy encontrava-se indisposta desde a noite anterior. Todo seu corpo doía e ela não queria saber de conversa. Sentou-se ao sentir que alguém abria a porta de seu quarto.

- Lucy sua louca! - a sempre estridente Vivienne entrou como um foguete, agarrando a gêmea.

- Olá Viv... - ela estava realmente agradecida pela visita, mas não conseguira demonstrar exatamente a forma que sentia.

- O que está acontecendo? - Vivienne tocou a testa dela - Dan disse-me que existe uma tal "febre da guerra" que ataca soldados remanescentes, mas disse que não é exatamente uma "febre". Não entendi muito bem...

A mais velha empurrou a mão da irmã da testa.

- Não tenho febre, apenas cansaço. Mas diga-me, o que deu em sua cabeça para se casar tão rapidamente?

Vivienne riu, afetada.

- Oras, descobrimos que...não poderíamos sobreviver longe um do outro, literalmente...

- Como assim? Está falando que...?

- Sim! Deitei-me com ele, antes mesmo do casamento! Não me julgue, Lucy! Sei que é errado, mas...foi tão bom!

A guerreira sorriu.

- Isso me alegra muito! Fico feliz que tenha achado sua metade.

Viv estranhou.

- A sempre tão certinha Lucy não me deu um sermão por ter me entregado ainda solteira?

Lucy suspirou. Via a irmã como uma grande amiga, não havia dúvidas.

Contou-lhe tudo, em detalhes. Paixão inicialmente platônica por Jacob, até a turbulenta descoberta de sua identidade, passando pelos tórridos momentos de amor e finalmente chegando ao pedido de casamento.

- Lucy, isso é maravilhoso! Estou tão feliz por você! - Vivienne uniu as mãos na frente do rosto, contente.

- Eu gostaria de poder comemorar mais, se não fosse esse maldito mal estar...

- Isso é a Febre da Guerra, estou te falando! Mas venha, levante-se logo! Vamos para a sala! Estão todos lá e temos coisas boas para anunciar! Dan vai abrir um pequeno comércio na cidade. Seremos donos de uma humilde mercearia em breve!

- Que grande notícia Viv! Vá na frente que eu já desço para parabenizá-los pessoalmente!

Vivienne assentiu e saiu saltitante pelo corredor.

Lucy sabia que havia algo muito errado consigo mesma, só não imaginava a magnitude dos fatos...


N/a: Fofas, desculpa o recesso. Festa do aniversário de meu filho foi no domingo. Mas agora tô qui de volta para terminar essa bagaça! Não esqueçam de visitar meu blog, perfil na Amazon e também o Vakinha. Conto com a ajuda e ou participação de vocês! Bjos!!!!!


A Donzela de Ferro(Concluído - SEM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora