Eles se entreolhavam. Os rapazes esperavam algo mais concreto e Lucian parecia estar em outra dimensão. O silêncio soturno foi quebrado por Beth, que reapareceu ofegante e nervosa.
- Lucian, não tem ninguém na casa! Oh Deus, precisamos procurá-la na floresta! Céus! O lago!
- Eu já olhei o lago , Beth. Não há nada lá.
- E o que poderá ter acontecido com Lucy??
Desde que fora trabalhar naquela casa, Beth cuidava das crianças como se fossem suas. Mas certamente sentia um carinho especial por Lucy, que sempre se mostrara uma mocinha bondosa e obediente.
Lucian aproximou-se da governanta, segurando-a de leve pelo braço direito e aproximando o rosto de sua orelha, falando baixo:
- Ela voltou...
Na mesma hora a empregada soube de quem o patrão estava falando. Um frio correu por sua espinha. Mesmo não tendo a oportunidade de conhecer a gêmea de seu empregador pessoalmente as histórias que eram sussurradas aqui e ali eram apavorantes. Falavam sobre a beleza e crueldade de Violet Galahad, uma mulher que abrira mão de tudo pelo ódio e inveja gigantescos que nutria pela falecida cunhada. A mulher voltara do exílio para assombrar sua tão querida família e isso a assustava demais.
- E agora, Lucian? O que vamos fazer? - Beth perguntou, entre lágrimas.
- Eu sou um bom rastreador - Jacob comunicou com a mão erguida, aproximando-se - e eu certamente nunca perderia a trilha de Lucy...
Por um momento Beth pensou ter visto os olhos castanhos do rapaz soltarem faíscas de emoção. Se tinha uma certeza nesta vida era de que o jovem amava Lucy.
Lucian olhou de soslaio para o garoto abelhudo. Quem ele pensava que era? Indo a sua casa em um ímpeto de tolice e metendo-se onde não era chamado. Em outras circunstâncias teria dado cabo dele, pondo-o em seu lugar, mas agora o que mais importava era a segurança de sua filha e neto. Violet certamente estava mais instável do que nunca e seria capaz de qualquer coisa.
Lucy sentiu uma dor violenta na cabeça, fazendo-a crispar as pálpebras para aguentar a pontada. Estava jogada no chão, as mãos e pés amarrados.
- Vejo que acordou, semente do demônio! - Era a voz da mulher, Birna.
Lembrava-se muito bem de como ela havia derrubado-a num ato de covardia.
- Por que fez isso comigo? O que quer? Está atrás de dinheiro? - A jovem cuspiu acidamente.
A mulher soltou uma risada medonha, envolta em pura loucura.
- Dinheiro...Durante muito tempo foi realmente o que permeava meus sonhos. Durante todos esses anos era só o que eu pensava, - deu de ombros - mas hoje em dia eu só quero uma coisa: Seu sangue de prostituta derramado...E depois vou atrás de seus irmãos, vermes bastardos!
A mulher estranha realmente parecia nutrir muito ódio por eles, mas por que?
- Birna...O que aconteceu com você? Me diga se minha família lhe fez algum mal? - Era importante tentar atrasar ao máximo qualquer tentativa da mulher de matá-la.
Birna pô-se a caminha de um lado para o outro, pensando.
- Planejei este dia durante muitos anos. Esperei até o momento em que um de vocês finalmente ficasse sozinho, aliás estou observando-a há semanas... - a mulher ignorou totalmente a pergunta de Lucy - e qual não foi minha surpresa ao perceber que o sangue imundo da porca meretriz de sua mãe fez jus a fama... - ela apontou para o ventre redondo da jovem.
O sangue de Lucy ferveu e ela abandonou qualquer resquício de calma em seu ser. sua mãe era uma santa e ninguém tinha o menor motivo para difamar sua memória.
- Imunda é você, bandida nojenta! Não sei o que fizemos a você, mas agora não me interessa! Se eu me livrar daqui...
- ...Você não vai se livrar de lugar nenhum, garota insolente! Aliás, pare de falar com tanta confiança sobre "sua família". Não há nada de "seu" sobre o nome Galahad! Sua mãe...sua mãe foi uma aproveitadora, que usurpou meu lugar de direito, condenando-me a uma vida de miséria e esquecimento!
Lucy tombou a cabeça para o lado. Nunca soube que o pai era casado antes de conhecer sua mãe. Tinha noção de que Lucian e Giselle não puderam casar pois a igreja não aprovavam seu relacionamento. Mas nunca imaginou que...
- ...Você...você foi esposa de meu pai?
A mulher soltou mais uma de suas risadas horrorosas, divertida.
- Vejo que o nível de esquecimento que seus pais implantaram foi tanto que vocês cresceram sem saber quem é sua amada tia...
"Tia"? Seu pai tem uma irmã? Como assim, por que nunca contaram nada? Por que esconder a mulher, condenando-a a viver à margem da sociedade?
- Tia...?
- Exato, criança... - ela encostou a mão suja na face de Lucy, num carinho fingido - Eu mesma, Lady Violet Galahad, a única senhora dos bens da família Galahad.
Então era por isso que o rosto da mulher lhe parecia familiar! Irmã de seu pai...a mulher sem duvida nenhuma era louca e não havia ajuda nenhuma no mundo que a fizesse tirar da cabeça que a reparação pelo que houve com ela viria do derramamento do sangue dela e de seus irmãos.
Nesse momento um falatório chamou a atenção das duas para o lado de fora do covil. Parecia uma discussão intensa, uma gritaria que Lucy não conseguia entender.
De repente batidas muito fortes arrebentaram a porta. Violet correu para agarrá-la, ficando por trás e passando o braço por seu pescoço, como se Lucy fosse um escudo humano. A mulher sacou um punhal do decote e apontou a arma direto para sua barriga.
Adentrando o lugar como uma comitiva vieram seu pai, Christopher, Beth e...
- Jacob! - a despeito da situação apertada ela encontrou paz para sorrir.
- LUCY! - ele gritou.
Começou a correr em direção dela quando Lucian segurou-o pelo ombro, detendo-o.
- Acalme-se moleque! - apontou para o punhal.
Jacob olhou e divisou também o ventre intumescido da amada. Era...seu filho?
Violet abriu um sorriso ainda mais demoníaco.
- Minha metade! Não esperava que viesse até aqui. Perdoe-me pelo estado de meus aposentos. Afinal, meu irmão deixou-me sem um único tostão...
- ...e deveria ter tirado sua vida, Violet... - ele sibilou, com os olhos semi cerrados.
- Olha só, vejam como ele continua audacioso e cheio de si, mesmo sabendo que estou de posse de uma de suas preciosas filhinhas...
- Violet, diga-me o que você quer. Dinheiro? Uma casa? Terras?
- Eu acabei de comentar isso com nossa querida Lucy aqui, irmão. Agora tudo o que eu quero é sangue. Cortarei fundo e cortarei aonde doer mais em você. Impedirei que continuem se reproduzindo como coelhos!
Lucy cansou-se da conversa mole da tia. Piscou um dos olhos para o pai, a sintonia que sempre tiveram entrou mais uma vez em cena. Ela acertou o nariz da mulher com a nuca, fazendo-a se desequilibrar e soltá-la. Lucy correu o mais rápido que pode para os braços de Jacob, abraçando-o.
Na mesma hora Lucian avançou sobre a irmã. Os dois lutaram por um tempo, com ela tentando acertá-lo com a lâmina que trazia nas mãos, mas ela não tinha a menor chance. Lucian desarmou sua gêmea, empurrando-a com força contra uma parede de onde pendia um gancho para pendurar caça. O objeto fincou-se nas costas da agressora, que olhou para o irmão estatelada, cuspindo sangue.
- Como você pôde...como pôde?! - estas foram as palavras finais dela, que agora jazia empalada e finalmente pronta para liberar-se de todos os sentimentos ruins que a prendiam neste mundo.
N/a: Oi!!!! Próximo capítulo será o final. Enjoy!
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Donzela de Ferro(Concluído - SEM REVISÃO)
RomanceLucy Galahad é uma jovem independente e decidida. Suas maneiras e modos parecem estranhos para a sociedade medieval. Dominando muito bem as artes de estratégia e combate a moça pode até assustar à primeira vista. Mas tudo isso vem à calhar quando um...