Os dias converteram-se em semanas e logo quase dois meses haviam se passado. Lucy já ostentava uma barriga saliente, que se revirava e contorcia ativa principalmente durante a noite, impedindo-a de adormecer. Sua irmã voltara para a casa, mas sempre enviava mensagens perguntando por todos. Até que em um belo dia veio a grande notícia: Vivienne estava grávida também! Isso era muito bom, apesar de que em alguns momentos sentiu-se mal por estar sozinha nessa, enquanto a irmã tinha o apoio e amparo do marido. Christopher ficou na defensiva ao descobrir o estado da irmã solteira, mas aos poucos foi se derretendo e ultimamente até tem perguntado como é a sensação e que não vê a hora de conhecer o primeiro sobrinho. Já seu pai continua teimoso como sempre. Por muito tempo ainda tentou arrancar dos lábios dela o nome de Jacob. Mas ela, como a boa Galahad que era mostrou-se bem firme em sua decisão de não fazer mal ao amado. Caso soubesse o nome de seu amado, seu pai poderia usar sua influência que ainda restava na corte para aplicar algum castigo a ele e isso ela nunca perdoaria.
Lucian passou da raiva para a angústia e em pouco tempo voltou a falar com a primogênita, entre dentes. Seu pai sempre se assemelhara mais com uma criança mimada do que com uma besta selvagem quando estava aborrecido.
Ela estava sentada numa cadeira de balanço na varanda da casa, tentando bordar algo do enxoval de seu pequeno e falhando miseravelmente quando algo lhe chamou a atenção. Uma mulher com uma capa e um capuz rodopiava confusa bem na frente do lago que ficava a alguns metros da propriedade. Dessa forma ela poderia cair e se afogar!
Lucy largou seu trabalho e correu tão rápido quanto a barriga permitiu, na direção da mulher.
- Senhora, senhora! - ela alcançou a mulher, agarrando-a pelo braço - Acalme-se, algo aconteceu? Se machucou?
A mulher olhou-a diretamente nos olhos. Tinha alguns fios de cabelo branco e outros castanhos saindo por baixo do capuz, o rosto cansado e marcado por cicatrizes de varíola. Não era tão velha, na verdade Lucy tinha certeza de que a senhora havia conservado grande beleza algum dia.
- Amoras... - a mulher sussurrou, parecendo um pouco perdida.
- Como? - Lucy inclinou-se mais, procurando entender melhor o que ela dizia.
- Vim colher amoras... - a mulher mostrou o bolso entre as dobras da capa, onde algumas frutinhas estavam depositadas - Não sei se consigo voltar...
- A senhora mora longe? Tem algum parente?
- Sou sozinha nesta vida, minha querida. Moro numa clareira naquela direção... - ela apontou o dedo longo e ossudo para o leste.
Lucy olhou para a casa. Todos haviam ido para a igreja, ela ficara em casa pois sentira enjoos matinais. Não demoraria para que retornassem, mas ela não poderia abandonar a senhorinha assim.
- A senhora pode ficar esperando aqui até que minha família volte e...
A mulher segurou forte a manga de seu vestido azul cobalto, parecia mortificada.
- Não...NÃO!! Eles...eles estão vindo. Vão me pegar!!! - ela começou a correr apavorada em direção a floresta, mas os passos eram muito vacilantes.
- Espere, não vá! - Lucy não teve dificuldade para alcançar a mulher - Eu...eu levo a senhora para casa então...
A mulher sorriu.
Lucy ofereceu seu braço, que foi prontamente aceito e seguiu pela trilha floresta a dentro. Nem percebeu quando a mulher largou no chão um papel enrolado, amarrado com uma fita escarlate.
As duas caminharam pelo que pareceram horas. As vezes a mulher demonstrava uma agilidade que não condizia com seu comportamento no lago. A mata foi ficando cada vez mais fechada e logo Lucy deixou de reconhecer o local, certa de que haviam há muito deixado a propriedade de seu pai. Pinheiros que estavam com folhas e galhos endurecidos pela época do ano cortaram-lhe a pele do pescoço e algumas partes da roupa e o terreno começava uma decida, inicialmente suave, mas que se tornara bem íngreme e pedregosa.
- Ainda falta muito sra...?
- ...Birna. Me chamo Birna. E logo estaremos lá lhe farei uma boa xícara de chá em agradecimento!
A mulher realmente parecia estar sentindo-se melhor, Lucy não pôde deixar de reparar.
Após mais algum tempo de decida chegaram em um enorme paredão coberto com vinhas, ou pelo menos era o que parecia até a mulher desaparecer para dentro da vegetação.
- Venha, querida. Já chegamos!
Ela acompanhou Birna. Que lugar realmente estranho para morar!
Na verdade o lugar era uma gruta úmida e cheia de pequenos cogumelos translúcidos. Um pouco mais a frente o caminho era barrado por uma parede feita de tábuas de madeira mal pregadas com uma porta no centro. Birna havia feito uma casa ali! Ela abriu a porta e fez sinal para que Lucy entrasse.
- Por aqui, menina.
Lucy entrou no enorme cômodo único de terra batida. Um cheiro forte de mofo invadiu suas narinas e assim que sua vista se acostumou com a escuridão a mulher acendeu uma vela, fazendo-a apertar os olhos.
Um fogão de lenha descuidadamente feito de barro e pedras suportava um caldeirão velho e amassado em cima. Algumas ânforas estavam dispostas ao lado, provavelmente guardavam água e carne conservada na banha, No teto de pedra um barbante estava estendido de uma ponta a outra, onde secavam peixes e ervas. no canto oposto ao fogão uma esteira estava estendida no chão, com alguns panos jogados sobre ela. E era nisso que se resumia os pertences da mulher. Lucy teve pena. Pediria ao pai permissão para alocá-la na propriedade, der-lhe uma moradia digna.
- Querida, fique à vontade enquanto esquento a água. Não repare na humildade de meu lar. Sou uma mulher que perdeu tudo, por conta de uma víbora gananciosa. Uma meretriz coberta de inveja.
Lucy virou-se e voltou a analisar o local. Perder tudo. Muito parecido com o que seu pai passou, mas pelo menos havia sido por amor, não pela maldade alheia.
- Não se preocupe Birna. Falarei com meu pai. Ele certamente lhe dará abrigo. - só agora ela se dera conta de que não havia se apresentado a mulher - À propósito, que modos os meus! Chamo-me Lucy, Lucy Galahad.
- Sim, eu sei... - a voz da mulher havia mudado de tom. Passou de sôfrega e confusa para forte e imponente.
Lucy virou-se surpresa e a última coisa que viu foi Birna, ereta e cheia de si lhe acertando com uma das ânforas em cheio na cabeça.
N/a: Perdão pela demora!!!! Agora vai! asuhaushaush emoções finais!! Afinal, onde estará Jacob? Quem é a mulher misteriosa e por que ela quer ferir Lucy? O que será de nossa heroína? Aguardem os próximos capítulos! kkkk
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A Donzela de Ferro(Concluído - SEM REVISÃO)
RomanceLucy Galahad é uma jovem independente e decidida. Suas maneiras e modos parecem estranhos para a sociedade medieval. Dominando muito bem as artes de estratégia e combate a moça pode até assustar à primeira vista. Mas tudo isso vem à calhar quando um...