VI

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Eram 14h e Tyler se olhava mais uma vez no espelho do banheiro. Seu único gorro estava realmente apertado na sua cabeça, mas sem ele, Tyler se sentia incompleto. Então apenas suspirou e voltou ao quarto, pegando seu caderno pequeno que cabia no bolso do moletom, assim como um lápis o guardando no casaco.

Ele olhou a janela aberta, um pássaro vermelho o olhava. Tyler parou de andar, sentiu a garganta seca. Nunca tinha visto aquele pássaro antes. Ele tentou pegar o caderno de novo lentamente, mas o pássaro fez um barulho alto e saiu voando. Depois de se xingar mentalmente, Tyler saiu do quarto encontrando sua mãe com a chave do carro na mão.

-Vamos? - ela falou e o garoto notou no seu tom de voz o nervosismo. Ele assentiu.

O caminho até a casa de Josh foi silencioso. Tyler lembrava bem de como a mãe tinha reagido no dia anterior.

"Casa de um amigo?" Kelly perguntou.

"Sim, nos conhecemos já faz um tempo." Tyler respondeu. Ele não estava mentindo, o dia que conhecera o garoto estava nítido na lembrança de Tyler, não fora no Domingo do seu aniversário.

Depois disso ela só perguntou o nome e endereço. Ele sabia que ela estava feliz por escutar aquilo, afinal, Tyler nunca tinha pedido para ir na casa de um "amigo". Tinha usado a palavra cedo demais, mas talvez sua mãe não tivesse permitido a visita.

Ele viu a casa azul com o número do endereço se aproximando e seu estômago grudou nos pulmões. Ele não se sentia nada preparado pra isso, mas não podia ir atrás agora. Achou que estava passando mal quando saiu do carro sendo seguido por sua mãe que o levou até a porta e tocou a campainha. No mesmo instante, eles escutaram vários latidos. Definitivamente, não era apenas Alien.

Uma mulher, aparentemente da idade de Kelly, abriu a porta sorrindo para o garoto envergonhado.

-Boa tarde, você deve ser o Tyler, estou muito feliz em conhecer você. - a mulher apertou a mão do menino.

-Olá, sra. Dun. - a mãe de Tyler começou, mas foi interrompida.

-Oh não, por favor, me chame de Laura.

-Desculpe. Laura. Esse é meu endereço e telefone caso algo aconteça, meu nome é Kelly. - a mãe de Tyler apertou a mão da sra. Dun a entregando um papel em seguida.

-Sim, querida, pode ficar tranquila que ficarei de olho nos dois.

-Filho, - Tyler olhou a mãe que se curvou para falar com ele - se comporte, às 20h estarei aqui. - Ela depositou um beijo na testa do menino que corou. - Eu te amo. - então ela voltou para o carro.

-Tyler? - ele escutou Josh dizer enquanto descia as escadas, na mesma hora o garoto de cabelos roxos sorriu e correu para abraçar o menor que corou mais ainda. Não era muito de contato físico, mas naquele pequeno abraço de Josh ele se sentiu mais calmo e todo aquele nervosismo parecia ter se escondido em algum lugar. Assim que ele o soltou, Tyler o encarou.

Ele usava uma regata branca, muito estranho para um dia de inverno, e bermudas vermelhas, assim como uma calça leg por baixo da mesma. Mesmo com aquele estilo estranho, ele estava bonito.

E lá o nervosismo apareceu.

-Irei fazer um lanche para vocês. - Laura falou indo em direção a cozinha. - Josh, por que não mostra o quintal para o Tyler?

-Certo, mãe! - Josh respondeu segurando a mão de Tyler enquanto o puxava para uma porta perto da cozinha. O garoto de gorro olhou as mãos e sentiu a mesma sensação de conforto do abraço. - Espero que goste de animais.

Então, quando abriu a porta, Tyler arregalou os olhos. O quintal de Josh, enorme, era nada mais nada menos que abrigo para vários cachorros. Tyler contou pelo menos 20 que brincavam livremente no gramado da casa, correndo e latindo, mordendo os brinquedos espalhados, outros que estavam dormindo nas diversas casinhas acordaram para ver o estranho. O coração de Tyler batia tão forte de felicidade que ele não conseguia acreditar, estava com 8 cachorros ao seu redor, pulando loucamente, enquanto Josh do seu lado ria da sua cara surpresa.

-Você adotou todos eles? - ele perguntou fazendo carinho no máximo de animais que podia, que era impossível. No meio daquela confusão, ele viu Alien, que era maior que muitos, correr para si lambendo seu rosto, extremamente feliz.

-Sim, todo ano vou com meus irmãos em um canil e pegamos um novo. Ou dois. Ou três. - ele riu pegando um filhotinho malhado no colo depositando beijos na pelagem colorida.

-Isso é incrível, Josh. - Tyler estava de boca aberta olhando aquele mar de alegria. Nada de gaiolas, nada de solidão, nada de maldade. Todos livres em um espaço enorme. - Você sabe o nome de cada um?

-Claro, eles são parte da família.

Tyler o olhou brincar com o filhotinho no braço e sorriu, o sorriso mais sincero que ele tinha dado e, para sua vergonha, Josh o olhou. Na hora ele virou a cabeça escondendo o rosto vermelho.

-V-você quer ver meu quarto? - nessa hora, o chão tinha sumido aos pés de Tyler. Josh havia mesmo gaguejado ou seus ouvidos estavam com algum defeito devido aos latidos? Ele assentiu e eles voltaram para a casa, deixando os cachorros se divertindo com eles mesmos. Depois de subir as escadas, Josh abriu a porta para Tyler entrar e a bateria elétrica foi a primeira coisa que chamou a atenção do garoto, porém escutou um miado do seu lado. Um gato preto estava na escrivaninha e outro branco estava deitado enrolado no travesseiro em cima da cama.

-Eu diria que você tem mais cara de amante de gatos. - Tyler comentou se aproximando do gato preto para fazer carinho, o mesmo ronronou com o toque de Tyler.

-Você acha? - ele riu - Eles gostam mais de ficar no quarto, não curtem muito a energia dos cachorros, são preguiçosos, mas ótimos companheiros. Esse preto é o Brad e o branquinho aqui, Mark. - ele pegou o gato no colo que se espreguiçou e aceitou os beijinhos na cabeça. Tyler sorriu. Então Josh pareceu lembrar de algo de repente, soltando o gato e abrindo a gaveta da escrivaninha.

-Eu não sabia do que você gostava, mas queria te dizer que seu aniversário é sim uma data especial, então resolvi comprar isso pra você - Josh segurava um embrulho pequeno nas mãos que Tyler notou que tremiam. As dele também.

-O-obrigado, Josh, não precis-...

-Precisava sim. - ele o interrompeu entregando o embrulho. Tyler apenas o pegou e ficou olhando, sem saber o que dizer. - Vai, abre, quero ver se fica legal. - O menino, mesmo nervoso, consegue abrir a embalagem revelando uma touca vermelha maior do que a preta que ele tinha. Ele sorriu tirando imediatamente a que usava para vestir a vermelha, essa ele conseguia puxar até um pouco acima do olho. - Gostou? Ficou bem em você.

-Adorei, Josh, obrigado. - respondeu e ele não sabe como aconteceu, foi rápido demais, mas quando viu ele tinha se aproximado de Josh e dado um beijo na sua bochecha. Esse arregalou os olhos e Tyler notou que seu rosto estava mais vermelho que sua touca.

A situação não podia ficar mais constrangedora.

Ou podia.

Vendo o rosto do menino corado, Tyler não conteu suas palavras.

-Posso te desenhar?

Depois de ter dito aquilo, ele sentiu o estômago doer. Josh ainda tinha os olhos arregalados e ele viu as íris mocha tremerem. Quem estava mais nervoso?

-C-claro...

Mocha (Joshler) [EM PAUSA]Onde histórias criam vida. Descubra agora