XII

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"Eu vou te proteger, Tyler Joseph, de todos esses demônios, de todas suas inseguranças, da noite e do silêncio."

A lembrança pairava na mente de Tyler que encarava o teto do seu quarto. Lá fora, a noite fria abraçava a cidade trazendo uma brisa agradável para o cômodo que ainda tinha as janelas abertas. O garoto estava muito distraído para fechá-las, mal sentia o frio. E naquele silêncio, uma lágrima caiu ao lado do seu rosto, molhando o travesseiro.

Sabia que se machucaria criando expectativas.

-Eu sei. - respondeu para si mesmo.

Mais do que amigos? Me poupe. Nem amigos vocês realmente são.

-Eu sei. - ele repetiu. Conseguia sentir os batimentos chegando nos dedos das mãos e fechou-as, controlando-se.

Pare de pensar nele, deve estar agora beijando a namoradinha e...

-EU SEI! - gritou sentando-se rapidamente, tapando os ouvidos enquanto o choro saía baixinho de seus lábios.

Finalmente Tyler entendia aquela sensação estranha que aparecia ao estar perto de Josh e, depois do que viu, não queria aceitar. Tolice dele achar que Josh o tratava tão bem porque...

Gostava dele.

Tinham sido dias bons para o garoto, momentos agradáveis com seu novo "amigo". No fundo, ele viu uma luz para a felicidade. E aquela felicidade estava no sorriso, no piercing do nariz e nos olhos mocha de Josh. Mas, quando aquela garota apareceu, o pequeno coração de Tyler Joseph foi despedaçado. Ele estava se apaixonando pelo jovem de cabelos coloridos.

Nada mais fazia sentido naquele momento. Com o corpo parecendo chumbo, ele se levantou da cama e foi ao banheiro olhando seu outro eu no reflexo. Seus olhos estavam inchados e a boca rachada, ele odiou aquilo. Na verdade, ele odiou a vida, odiou estar vivo. Tudo isso graças aquela voz idiota na sua cabeça que o fez correr para o esconderijo do canivete na falha da cama e, assim que abriu a pequena faca, ele ficou imóvel.

A cena de Josh beijando sua mão apareceu repentinamente.

Você sabe que ele não está nem aí pra você.

Tyler não respondeu de imediato, olhava a lâmina próxima da pele, dos machucados nem tão recentes.

-E-ele parecia s-se importar... - forçou o ar a sair dos pulmões trazendo junto o choro que estava guardando.

Essa amizade não é real, ele não dá a mínima pro que você fez. Ou o que VAI fazer.

-Não... N-não posso... - falou soltando o canivete que fez um barulho agudo quando a lâmina tocou o chão. - Não, não... não... - repetia enquanto se agachava, apoiando as costas na cama. E ali ele chorou.

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Os pés batiam juntos no ritmo das baquetas. Os braços estavam doloridos, mas nem assim o garoto deixou de esmagar os tambores com a maior força que podia. Os músculos das costas começaram a saltar enquanto Josh aumentava a velocidade, fazendo o barulho ecoar no quarto. Não o barulho real, apenas as batidas nos sensores da bateria elétrica, mas, nos fones que usava, ele ouvia o som tão alto quanto em um show e isso só o fez continuar com aquilo.

Até escutar uma voz que queria sua atenção.

-Hey, hey, HEY! - a menina tentava chamá-lo. Quando ele ouviu, parou imediatamente. Virou-se para a olhar, ele tinha a boca entreaberta por causa da respiração pesada. O suor descia o corpo quente.

-O que? - perguntou sem entender a interrupção. Ela levantou uma sobrancelha.

-Você estava fazendo muito barulho. - falou indo para perto dele, afastando uma mecha de cabelo da testa molhada. - Estava lá embaixo conversando com a Ashley e consegui te escutar. O que aconteceu? Nunca te vi tocar com tanta raiva assim, ainda mais por dez minutos.

Ele desviou os olhos de Debby focando-os no chão. Não havia notado o tempo passando, estava apenas descontando o que sentia no instrumento. Mas... O que sentia? Definitivamente não era raiva.

-Eu tô bem, só queria treinar um pouco. - respondeu desligando a bateria e tirando os fones para se levantar. Estava sem blusa e só notara o calor naquele momento.

-Tem certeza? - Debby se aproximou, rodeando os braços no pescoço do namorado, não se importando com o suor.

Ele a olhou. Ela era uma garota linda, tinham sido meses maravilhosos com ela na sua vida, a sua alma divertida combinava muito com a dele e os dois se davam muito bem.

-Certeza. - respondeu depositando um beijo nos lábios dela a afastando logo depois. - Vou tomar um banho.

-Eu vou pra casa, minha mãe deve estar procurando por mim. - ela riu e o beijou uma última vez antes de sair pela porta, deixando Josh sozinho no quarto.

Suspirando, ele foi para o banheiro e se olhou no espelho. Levou uma mão para o cabelo quase branco e pensou em uma cor para pintá-lo. Não sabia por que, mas por um segundo pensou em Tyler usando o gorro que dera.

Ele queria falar com o garoto, perguntar se ele estava bem. Toda aquela história tinha o pego de surpresa e Josh só queria confortá-lo, mas Debby apareceu e Tyler saiu da sua casa dizendo que "Não queria incomodar". Como se ele incomodasse... A única que tinha incomodado alguma coisa ali foi a Debby.

Depois que pensou nisso, arregalou os olhos sentindo o coração palpitar no peito.

Mocha (Joshler) [EM PAUSA]Onde histórias criam vida. Descubra agora