VII

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Ele tinha os ombros largos, seu cabelo estava desbotando, ficando um lilás, lavanda. Ele tinha um boné vermelho que destacava bem os alargadores. Sua boca estava séria, mas Tyler via ele a puxando levemente com os dentes, sinal de nervosismo. Seus olhos estavam fixos na janela do quarto, mas o garoto que desenhava notou que ele dava breve espiadas no desenho.

Aquela era a primeira vez que Tyler desenhava uma pessoa.

E ele estava feliz por ser Josh.

Se passaram 30 minutos, Tyler não precisava de tanto tempo para desenhar, porém, ele se perdia nos traços do colega, passando o lápis onde já estava marcado, só para ter um pouco mais de tempo olhando. A sensação do abraço, das mãos, da bochecha de Josh nos seus lábios, Tyler podia sentir o corpo formigar. Então ele percebeu que estava quase torturando Josh que passara meia hora parado, fazendo-o baixar o lápis. Josh viu e suspirou como se estivesse segurando o ar por muito tempo, mas sorriu.

-Pronto? - perguntou, Tyler assentiu. - Posso ver?

O garoto teve vontade de puxar a touca para cobrir o rosto inteiro quando o menino de cabelo roxo pegou seu caderno, seus olhos se arregalaram e sua boca abriu com um enorme sorriso, Tyler queria guardar aquela cena na cabeça.

-Eu sou tão bonito assim? Ty, você é incrível!

Esse sorriu e ficou apreciando o Josh encantado. O maior o encarou e ele teve certeza que seu coração podia parar a qualquer segundo. Tomou fôlego pra dizer.

-Te mostrei meu desenho, acho que seria uma boa tocar algo pra mim na bateria.

Josh abriu um sorriso e levantou correndo devolvendo o caderno ao dono e buscando suas baquetas e dois fones, já que não queria atrapalhar a família, entregou um a Tyler e colocou outro.

Sem dizer uma palavra, ele começou a tocar algo que fez o corpo de Tyler estremecer. A batida fazia eco no peito do menino que o olhava sentado na cadeira de frente pra bateria. Josh tinha os olhos fechados e batia com tanta força nos tambores que Tyler o via dar pulinhos no banco que estava. O ritmo era algo que ele nunca ouvira antes, parecia rock, então virava um reggae, depois parecia blues. Por mais que fosse diferente, a variação de estilos trazia uma sensação boa nos ouvidos de Tyler que, sem perceber, começou a balbuciar o que vinha a mente. O que ele não notou era que Josh tinha aberto os olhos, ainda tocando, e sorria vendo o garoto perdido nas próprias palavras, o baterista tirou um lado do fone para escutar, e continuou esmagando o instrumento, sentindo os braços doerem.

Tyler havia fechado os olhos e lembrava de um poema que tinha escrito que se encaixava perfeitamente na batida. Suas mãos se moviam sozinhas, como se sentissem o poder das palavras ditas, os pés de Tyler seguiam a batida dos pés de Josh que fez questão de acelerar o ritmo, animado.

Então Tyler notou o que fazia e abriu os olhos parando subitamente, no mesmo instante Josh parou e ficou o encarando, boquiaberto, respirando pesadamente.

-Você canta... - falou puxando um pouco de fôlego. Os cabelos que fugiam do boné estavam grudados na sua testa e o suor descia devagar do pescoço. Tyler estava tão envergonhado que sua boca aberta não pronunciava uma palavra. Josh soltou as baquetas e tirou o fone. - Você canta!

Tyler nunca tinha cantado algo que escrevera para alguém, eram seus sentimentos mais profundos, seus pensamentos mais pessoais e prometera manter aquilo pra si. Todos da família sabiam que ele desenhava, mas Tyler escrevia muitos poemas no seu caderno de desenho, por isso não deixava ninguém pegar. Mas a batida de Josh... Aquela batida parecia ecoar na mente de Tyler, citando as palavras na mesma intensidade. E Josh escutara tudo, todos aqueles pensamentos que ele jurou guardar.

Ele fez o que queria antes e puxou o gorro para baixo, escondendo o rosto vermelho.

-Não era pra você ter escutado isso... - falou abafado por causa do tecido na cara. Ele ouviu os passos de Josh virem até si e as mãos grandes do mesmo puxarem devagar a touca para cima revelando os olhos úmidos de Tyler. O baterista balançou a cabeça e puxou a cadeira de estudos para sentar de frente pra ele, segurando seu rosto nas mãos. Tyler notou como elas estavam quentes.

-Ty, a letra, sua voz, sua emoção... nenhuma música é tão linda quanto a que você acabou de cantar. - o menino confessou fazendo Tyler finalmente soltar as lágrimas que rolaram seu rosto. Josh abraçou o garoto. - Eu vou te proteger, Tyler Joseph, de todos esses demônio, de todas suas inseguranças, da noite e do silêncio.

Tyler não soube o que dizer, apenas deixou que Josh o confortasse, mas ele só sentia uma coisa.

Sentia o sangue pulsando nas veias.

Aviso: Próximo capítulo pode incomodar certas pessoas. Por favor, cuidado e stay alive.

Mocha (Joshler) [EM PAUSA]Onde histórias criam vida. Descubra agora