O Presidente

Indecisão

Fiquei parado dentro do Salão Oval por vários minutos, tentando organizar meus pensamentos. Então lembrei das câmeras que haviam ali. Olhei para cima com nervosismo e fiquei tentando encontrá-las, sem sucesso, porque não achei nada. Será que alguém veria aquelas imagens ou elas eram confidenciais? Revelá-las seria considerado traição? Eu não sabia, mas não valia a pena me estressar por algo que eu não podia controlar.

Tentei não bisbilhotar muito o lugar mas, já que eu e Thomas estávamos tão íntimos, me dei ao direito de abrir algumas gavetas com curiosidade. Estava entediado e queria esvaziar um pouco minha mente, que parecia prestes a entrar em colapso com tantos pensamentos sobre o que havia acontecido há minutos atrás.

Eu estava sendo um pouco enxerido ao fazer aquilo, talvez até desrespeitoso, mas ele havia me dito para esperá-lo ali. Eu faria o que naquele intervalo de tempo?

Abri a gaveta da mesa e, de relance, olhei para a parede, me dando conta que os quadros que ali estavam pendurados eram, na verdade, certificados. Aproximei-me com curiosidade e li o que estava escrito em alguns: Thomas havia cursado Direito em Harvard e concluíra o curso com 22 anos, tendo entrado lá com 18 anos. Ele havia se graduado tão jovem... Cada vez que descobria algo de novo sobre sua vida eu ficava mais surpreso. O quadro ao lado informava que ele fizera um curso de administração no Canadá assim que se formou. Arqueei as sobrancelhas, impressionado, pois aquele era um currículo e tanto.

Logo depois desse curso ele havia se candidatado a governador de Nova York, cidade onde nasceu, e foi eleito após uma disputa apertada. Ao final do mandato de governador, com 27 anos, estava disputando as eleições presidenciais. Não pude deixar de sentir uma pontinha de orgulho e um sentimento estranho por saber que ele me queria ao seu lado

Tudo havia mudado de um dia para o outro e eu finalmente podia reconhecer alguns sentimentos que se formavam dentro de mim. Felicidade, euforia, animação, um pouco de medo e, talvez, uma paixão. Não sabia ao certo como lidar com toda aquela confusão dentro de mim, mas descobriria com o tempo. Queria acreditar que tudo aquilo era real, que Thomas realmente gostava de mim, mas existia uma voz pessimista que me dizia para ter calma, que talvez as coisas não fossem tão intensas assim para ele.

O término com Mike me deixava estressado só de pensar, e também sentia falta dele. No entanto, quando eu estava com Thomas, minutos atrás, as sensações e emoções que tomaram conta do meu corpo eram inéditas para mim. Aquele sentimento alegre e apaixonante, misturado ao friozinho na barriga que sempre aparecia quando eu estava próximo dele, eram intensos demais, novos demais.

Mike, por alguns segundos, parecia ser uma lembrança distante do passado, de tão perdido que eu estava naquelas novas sensações. Perdido em Thomas e sua realidade. Mas sempre que me lembrava de Mike e da conversa misteriosa que tivéramos pela manhã, minha curiosidade aflorava, assim como minha saudade, pois meus sentimentos por ele não haviam desaparecido de um dia para o outro.

Entretanto, eu sabia que o futuro entre eu e Thomas não seria fácil, se é que tínhamos algum futuro. Ele era presidente, nós não poderíamos nunca ter um relacionamento normal, do conhecimento de todos e teríamos que ser sempre discretos. Havia alguma outra possibilidade? Balancei a cabeça, me xingando por estar cogitando ter uma relação séria com Thomas. Ele sequer havia mencionado aquilo, embora suas palavras tivessem me dado essa sensação. Não fazia ideia de como aquele relacionamento evoluiria.

Sentei-me em sua cadeira, atrás da mesa, e os pensamentos negativos tomaram conta de mim. Havia a possibilidade de ele estar só me usando. Talvez para Thomas aquilo tudo não passasse de sexo e diversão. As perguntas se amontoavam em minha mente e, mesmo que eu estivesse angustiado, resolvi não criar suposições, ao menos por enquanto. Eu poderia tirar minhas dúvidas sobre aquilo no jantar, mais tarde.