Extra Final

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Margot

Nossas brigas eram comuns, especialmente naquelas épocas conturbadas. Thomas havia decidido não concorrer a um outro mandato e eu estava mais do que aliviada com aquela decisão. Julie, no entanto, não entendia muito de política e ralhava comigo por eu trabalhar demais. Mas eu não podia parar, não naquele momento.

O mandato estava quase no fim e eu podia relaxar de maneira moderada. A barriga de Julie parecia ficar enorme a cada dia que passava e me gerava uma preocupação estranha. Eu sabia que aquela criança mudaria minha vida para sempre. Entretanto eu amava Julie demais para confessar minha apreensão com o futuro.

Eu queria ser mãe, mas tinha medo da responsabilidade. Ao mesmo tempo, eu dizia para mim mesma que quem tinha ajudado um presidente por quase 5 anos podia aguentar qualquer coisa.

—Julie, não reaja assim.

Ela estava com os braços cruzados acima da barriga enorme. Olhou-me com tanta irritação que quase me encolhi. Aproximei-me e toquei seus braços numa massagem delicada.

Os cabelos loiros estavam lisos e brilhantes, como sempre. Eu adorava fazer algumas trancinhas nas madeixas sedosas dela. Mas o clima não era bom para aquilo. Sorri, tentando confortá-la.

—Vai dar tudo certo. Sabe o quanto essa apresentação é importante para mim.

—Mais importante do que a sua esposa grávida.

Ela me provocou num tom tão ácido e magoado que nem pensei em retrucar. Ultimamente Julie estava muito sensível e qualquer tom mais alto era suficiente para fazê-la chorar.

—Não pode pedir licença maternidade?

Eu tentava evitar ao máximo aquele assunto. Não queria pedir licença-maternidade no fim do mandato. Só faltavam duas semanas para a eleição acontecer e alguns meses para o mandato acabar.

—Só faltam alguns dias para a eleição, J. -falei no tom mais paciente que encontrei.

Julie bufou e passou as mãos pelo rosto com irritação. Ela ficava muito linda emburrada, reparei, mordendo os lábios.

—Depois que tudo isso acabar você vai ficar comigo, cuidando do bebê?

—Sim, amor, sabe disso -a confortei com um beijo na testa.

Ela franziu o cenho com chateação. A gravidez lhe dava um brilho majestoso que me fazia ter vontade de beijá-la a cada minuto. E ela tinha um cheiro tão bom...  Envolvi-a num abraço e toquei sua barriga enorme.

—Depois disso eu serei só de vocês.

—Até quando? -havia um tom irônico na pergunta, mas ao olhá-la também vi preocupação e mágoa em seu semblante.

—Até a política me puxar de novo.

—Não quero que trabalhe como louca novamente -sua voz saiu trêmula.

—Amor, você casou com uma mulher da política.

Ela passou as mãos pela barriga.

—Vai se candidatar à governadora nas próximas eleições?

Eu olhei-a com o cenho franzido, surpresa com aquela indagação.

—Por que diz isso?

—Encontrei uns papéis sobre isso no seu escritório.

Então era aquilo... Eu realmente tinha pensado sobre o assunto, mas não tinha falado nada para Julie. Sabia qual seria sua opinião.

—Não me candidatarei a nenhum cargo.

O PresidenteOnde histórias criam vida. Descubra agora