Capítulo 4

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Liz

Se uma situação está ruim, ela sempre pode piorar.

E muito.

Este era o resumo do meu dia.

Ruim. E ficando cada vez pior.

Como se não bastasse este ser o meu primeiro fodido dia como médica, ainda tinha que lidar com o fato de ter Thomas Hardy por perto.

E, com minhas emoções em frangalhos, eu agora tenho um paciente sob meus cuidados.

— Certo. Vai dar tudo certo – murmuro comigo mesma, enquanto empurro a maca de volta ao quarto, depois de tê-lo levado à tomografia. Até agora, tudo indo bem.

Era só respirar fundo e me lembrar do que eu tinha aprendido na maldita faculdade.

— Ei, querido, me deu um susto – a mulher loira se inclina sobre o sonolento paciente, acariciando seu rosto pálido.

— Está tudo bem agora... – Ele consegue responder.

A mulher então me encara.

— O que aconteceu? Ele não parece nada bem...

— Ele tomou um sedativo para a tomografia, por isto está meio grogue – explico.

— Você é a médica dele? Pode me dizer o que aconteceu? Ele vai ficar bem, terá que fazer alguma cirurgia?

Eu engulo em seco diante de tantas perguntas, sem saber o que responder, enquanto começo a suar frio.

— É, na verdade, eu não sou a médica...

— Não?

— Quer dizer, eu sou, mas...

— Doutora Spencer? – Uma enfermeira nos interrompe e eu respiro aliviada.

— Sim?

— Tem uma ligação para você na recepção. Me pareceu urgente.

Ligação pra mim? Eu não fazia ideia do que poderia ser, balbucio uma desculpa e me afasto do quarto, aliviada por me livrar das perguntas.

— Me disseram que tinha uma ligação? – Falo ao chegar à recepção e a atendente aponta para o telefone. – Obrigada – respondo, pegando o aparelho – Elizabeth Spencer.

— Filha, finalmente consigo falar com você.

Ah droga, falando em coisas ruins!

— Mãe? Por que diabos está me ligando aqui?

— Oras, você não atendeu a minha ligação hoje cedo. Estou preocupada.

— Mãe, eu estou trabalhando, pelo amor de Deus!

— Por isto mesmo! É seu primeiro dia no hospital, quero saber de tudo...

— E não pode esperar? Eu estava em meio a um atendimento e não posso ficar atendendo ligações particulares!

— Ah, eu sou a Doutora Spencer, todo mundo me respeita. E você é minha filha.

— Mãe, você disse que eu era sua filha? – Abaixo o tom, ao ver a atendente me encarando curiosa.

— Você é minha filha, qual o problema?

— Não quero que as pessoas saibam disto!

Bárbara ri do outro lado da linha.

— Não seja boba! Ser minha filha vai lhe abrir muitas portas.

— Temos opiniões diferentes sobre este assunto – resmungo.

Linha da Vida - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora