Capítulo 10

737 72 5
                                    

Liz

Thomas Hardy está me beijando.

Demorou alguns instantes, entre o momento em que ele me jogou contra o armário e enfiou a língua na minha boca, para meu cérebro processar aquela informação.

E aí veio a revolta. A constatação que aquilo não deveria, em hipótese alguma, estar acontecendo.

Era a mais errada de todas as ideias erradas no mundo.

No entanto havia as sensações.

A textura. O gosto.

Ah, porra. Thomas Hardy e sua boca ainda eram o melhor beijo do mundo.

E então estou perdida no jeito que suas mãos grandes seguram minha cabeça, puxando meu cabelo. Seu corpo perfeito segurando o meu, imóvel, me forçando com docilidade.

O gemido rouco que ele deixa escapar como se viesse do fundo de sua alma. Acordando a minha, que se espreguiça e vem à vida. Querendo tudo o que tinha direito e que só ele poderia dar.

Meu coração se junta à festa e se agita ansioso no meu peito, seu retumbar frenético é como uma trilha sonora para a loucura que toma conta dos meus sentidos. E um gemido de rendição escapa por entre meus lábios, que devoram os dele com igual fome.

Cada célula do meu corpo está viva e pulsando por ele. Respirando por ele. Meus próprios braços se apressam em trazê-lo para perto. Mais perto. Até que não reste nenhum espaço. Nenhuma dúvida de que eu preciso dele para aplacar aquele desejo insidioso que começa a correr nas minhas veias e explode em forma de calor em minha pele que queima fazendo meu interior ferver.

E de novo eu sou aquela menina de dezoito anos, apaixonada e ansiosa por qualquer coisa que aquele cara poderia me dar.

Ansiosa por seus dentes mordendo minha boca. Por suas mãos que percorrem minhas costas e pousam agressivamente em meus quadris. Ansiosa por sua ereção agressiva, que me deixa frágil e entregue.

Depois de mais de oito anos tentando esquecer aquela sensação. Oito anos tentando tirar da minha cabeça a memória de seus beijos. Dos seus braços.

Para acabar assim. Rendida. De novo.

Este reconhecimento derrama um balde de água fria sobre meu desejo e eu luto para empurrá-lo.

— Não, Thomas... – murmuro sentindo um nó se formar na minha garganta.

Thomas finalmente para de me beijar, mas não me solta. Seus olhos brilhantes de um desejo ávido ameaçam o muro que estou erguendo a custa das lembranças dolorosas que ele mesmo causou.

— Por quê? – Ele ofega, me apertando.

— Me solta – luto contra seus braços.

— Você também quer, por que está relutando...?

Eu esqueço a raiva e o encaro com todo o ressentimento que ainda existe dentro de mim.

— Você sabe muito bem por quê!

Ele finalmente reconhece e seus braços se afrouxam, me libertando.

Sei que por sua mente está se passando o mesmo que na minha. Um filme de horror que foi aquela noite há mais de oito anos.

O dia em que ele quebrou meu coração.

O coração que eu fui tola o bastante em dar a ele.

— Você não deveria nem perguntar por quê! – Cuspo estas palavras, o nó na garganta arrebentando em lágrimas sofridas que já não posso conter.

Linha da Vida - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora