Capítulo 9

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Thomas

O silêncio que procede meu pedido transforma o ar entre nós em tensão.

Seus olhos são duas bolas escuras de choque e confusão e eu vejo em sua expressão a luta interna que acontece em seu íntimo. E me identifico.

Desde que nós nos reencontramos esta luta era minha companheira constante.

Eu sabia que não podia tê-la de novo. Eu nem deveria querê-la de novo.

Sua presença constante era irresistível. Como fora uma vez.

Era impossível não pensar em como teria sido nossas vidas se o desfecho de nossa breve história tivesse sido diferente.

Se eu fosse um cara diferente, minha consciência sussurra.

Eu não lhe dou ouvidos. Eu a empurro com um soco para longe, como fiz todos aqueles anos.

Não. Eu não deveria pensar que as coisas poderiam ter sido diferentes. Como eu tinha acabado de falar para Liz, nada do que aconteceu no passado poderia ser mudado. Mas nós dois estávamos ali agora. E não dava mais para ignorar que eu ainda tinha um tesão louco por aquela garota. Isto não mudou nem um pouco.

E desde ontem à tarde, depois da cirurgia, quando quase a beijei, eu vinha pensando sobre esta situação e não tinha outra conclusão: eu precisava fodê-la de novo.

Ok, sei que se externasse este pensando, Liz me daria um soco na cara. Eu posso ser um canalha em se tratando de mulheres, mas sabia a hora certa e como agir para destruir suas resistências. Uma a uma.

Eu fiz isto até hoje e precisava acreditar que com Liz não seria diferente. Afinal, ontem, eu pude sentir que ela não era indiferente. O mesmo fogo que me consumia a atormentava também.

E se meu desejo por ela não mudara, minhas convicções também não. Eu ainda não acreditava em relacionamentos. Eles simplesmente não eram pra mim. E eu acreditava que não eram pra ninguém. Amor era uma merda. Era a pior das doenças. E sei que um dia eu estive muito próximo de me contaminar e o catalizador foi justamente aquela garota na minha frente. Mas consegui pular fora enquanto era tempo, não consegui?

Não foi fácil. Não foi sem um pouco de sofrimento envolvido.

Com certeza teria sido muito pior se tivesse insistido naquele sentimento. Ele ia crescer e me dominar por inteiro. Assim como um câncer, ia comer tudo o que tinha de bom em mim. E quando acabasse, eu estaria destruído para sempre.

Eu já vi isto acontecer antes e não queria isto pra mim.

No entanto, eu estava mais velho agora. Mais experiente e mais sábio, poderia lidar muito bem com aquela paixão por Liz Spencer.

Bastava ela deixar tudo para trás. Esquecer o que aconteceu de ruim e se concentrar nas boas lembranças. Naquelas de nós dois nos encaixando perfeitamente, no melhor sexo do mundo, no prazer mais perfeito que poderíamos tirar um do outro.

Todavia minhas esperanças se arrefecerem um pouco quando o choque em seu rosto se transformou em pesar.

E uma sombra triste toldou seu olhar. Luto contra a própria sombra dentro de mim.

— Não sei se será possível - é sua resposta quase sussurrada.

Eu dou um passo a frente, ávido por convencê-la, ela dá um passo a trás, mantendo a distância entre nós.

— Você sabe que eu tenho razão. Somos adultos agora. Não somos mais aquelas pessoas Liz.

Ela sacode a cabeça, como se negando com todo seu íntimo a verdade que eu já havia aceitado.

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