Prólogo

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Sentada aqui em meio a tantas pessoas com um único objetivo, fico tentando entender como cheguei até aqui

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Sentada aqui em meio a tantas pessoas com um único objetivo, fico tentando entender como cheguei até aqui. Dizer que minha vida foi fácil é puro eufemismo, dizer que cursar administração em uma faculdade pública foi a coisa mais divertida da vida é pura mentira. Olhando para trás percebo que muitas coisas poderiam ser diferentes e talvez nem estaria aqui, estaria morta e enterrada a sete palmos de profundidade. Sei que deveria ser o dia mais feliz da minha vida, afinal, é um grande momento, mas não, não estou feliz, não estou realizada como pessoa, não estou com paciência pra nada disso aqui, minha vontade é ir embora e me trancar no meu mundinho, onde tento ser feliz, mas infelizmente tenho responsabilidades, não sou mais aquela garota que corria pela fazenda Lua Azul com seu primeiro amor e que ia para o celeiro dar selinhos e dizia namorar, hoje sou uma mulher de 23 anos que precisa seguir em frente e se realizar profissionalmente.

 Cursar administração sempre foi o meu sonho. Meu pai amava os números e minha mãe era uma excelente costureira, morávamos na fazenda Lua Azul, onde meu pai era caseiro.  Quando chegamos lá eu tinha oito anos e meu pai estava desempregado, existia uma grande expectativa no novo governo e por Campos dos Goytacazes ser um pólo petroquímico e viver dos royalties do petróleo, a cidade tendia a crescer, mas não era a realidade que vivíamos. Minha mãe pegava inúmeras costuras para suprir a casa e meu pai vivia de pequenos serviços até conhecer Arnaldo Boaventura, um fazendeiro de gado leiteiro e que precisava de um caseiro e de uma cozinheira, pois sua esposa Sofia estava grávida e precisava de repouso, foi ai que fomos morar lá, como vivíamos de aluguel, foi uma grande oportunidade.

Durante algum tempo tudo era tranquilo, a fazenda funcionava muito bem e tinha grandes amigos, mas certa vez, um carro todo preto entrou na fazenda e de lá saíram quatro homens todos de preto e pelo semblante não estavam pra brincadeira. Eu estava com a pequena Nicole na varanda da casa grande enquanto D.Sofia bordava algo num tecido e Sr.Arnaldo estava no escritório. Meu pai logo apareceu com Joaquim o administrador e Josivaldo o segurança e pela suas feições a coisa não era boa.

- Ivy - chamou meu pai - vá pra casa e leve a menina Nicole.

Me levantei, peguei na pequena mãozinha de Nicole e fomos para a minha casa. Depois disso sempre os tais homens apareciam e Sr. Arnaldo ficava muito nervoso. Dois anos depois,  a situação piorou e muito, os" homens de preto"como apelidei, não saíam mais da fazenda e meus passos eram restritos a casa grande, o celeiro, o riacho e minha casa, mas nada disso atrapalhava quando o filho mais velho de D.Sofia vinha passar férias aqui na fazenda. Bernardo Villa Real, ele era lindo, cabelos negros, expressão máscula e um par de olhos azuis, herança de sua mãe Sofia. No princípio não nos dávamos bem, mas depois criamos uma amizade que se transformou num amor puro e inocente. Sempre que vinha nas férias nos esbaldávamos e Nicole aproveitava para estar junto do irmão. Certa vez, estávamos no celeiro deitados sobre o feno e nossas mãos se enlaçaram, Bernardo já estava com 16 anos e eu 14, sentíamos uma forte atração um pelo outro e demos vazão a esse sentimento. Bernardo se aproximou do meu rosto e com o dorso da mão fez carinho no meu rosto e logo tomou minha boca num beijo inocente. Nunca mais nos separamos, até naquele dezembro de 2008 que ele não veio para a fazenda. D.Sofia falou que seu ex marido deixara Bernardo de castigo e a punição foi não vir para a fazenda e com isso, nunca mais nos reencontramos.

Os tempos foram difíceis na fazenda, os "homens de preto"ainda estavam por aqui e Sr. Arnaldo cada vez mais se acuava. Comecei a estudar na cidade, não havia escola do ensino médio próximo a fazenda e tinha que viajar meia hora para chegar no colégio, era meu último ano e já havia feito prova para UFF ( Universidade Federal Fluminense) e UERJ ( Universidade Estadual do Rio de Janeiro) e passei na UERJ, sabia que teria que largar meus pais, mas era o meu futuro. Certo dia cheguei na fazenda e estranhei o silêncio, nenhuma movimentação dos capatazes, Josivaldo e meu pai não estavam no pátio, minha mãe e D.Sofia não estavam na varanda com Nicole e os "homens de preto" haviam sumido. Fui em casa tomei um banho e sai para procurá-los e qual não foi o meu espanto ao entrar na casa grande, todos estavam jogados no chão ensanguentados e ainda consegui ver que Sr.Arnaldo se mexia, mas todos os outros estavam mortos. Fui tomada por um desespero ao ver meus pais mortos e Nicole ao lado de D.Sofia ambas sem vida. Ouvi um sussurro ao longe e percebi que Sr. Arnaldo tentava falar comigo.

-Ivy...ajuda...chama ajuda - e apagou

Corri pro telefone e chamei a emergência e meia hora depois o sonho ruim foi se transformando num pesadelo, depois disso era tratar do sepultamento dos meus pais e avisar a Bernardo tudo que ocorrera para que tomassem providências, os advogados do Sr. Arnaldo me ajudaram e meus pais foram sepultados no cemitério municipal de Campos dos Goytacazes e D.Sofia e Nicole no Cemitério Parque de Campos. Não me encontrei com o Bernardo e dois meses depois Sr. Arnaldo indenizou meus pais e foi a minha oportunidade de sair de Campos e começar uma nova vida. Comprei um apartamento na Tijuca e ingressei na Universidade e hoje estou aqui me formando em administração.

O que o futuro me reserva, não sei. Só espero que os acontecimentos do passado não interfiram no meu presente.

 Só espero que os acontecimentos do passado não interfiram no meu presente

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Teremos uma parte II do prólogo ainda hoje.

Sintonia Perfeita - EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora