Contando os dias

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Bernardo Villa Real

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Bernardo Villa Real

O tempo tem passado muito rápido e já estou em fase conclusiva do curso em Portugal, daqui retorno a Paris e em três meses volto ao Brasil. A inauguração da adega será no próximo mês e pelas fotos e vídeos que Vinícius me manda está tudo como eu sempre imaginei, alguns funcionários já foram contratados e a princípio Vinicius ficará na administração já que é formado em direito e trabalhou na prefeitura de Caxias do Sul como auxiliar administrativo, Luca ficará como gerente e quando eu voltar cuidarei da parte de atendimento e fornecedores.
Hoje fizemos as últimas provas de gastronomia e apreciação de vinhos e em uma hora saberemos o resultado. Saio do curso com alguns amigos e vamos a uma lanchonete tipicamente portuguesa para matar os tempo até o resultado final. O papo flui numa boa, os caras são muito legais, dividimos nossos sonhos e projetos e fiquei super animado quando Lorenzzo, um dos poucos amigos que levarei daqui, fiz que irá morar no Brasil e abrirá um bistrô de pães e vinhos na zona Sul do Rio de Janeiro, trocamos informações enquanto nos dirigimos ao curso para pegar as notas e o certificado.
Mais uma etapa vencida, agora é voltar a Paris e depois Brasil. Sinto meu telefone vibrar e vejo que é de Fazenda. Desde que saí de lá evito contato, amo meu pai, mas por ele ter me afastado da minha mãe não pude aproveitar mais de sua presença e também do meu amor Ivy. Atendo de modo profissional sem nenhuma vontade falar.
- Vila Real falando.
- Bê!?
- Sim, quem é?
- Sou eu meu filho Madalena.
- Olá Mada, algum problema?
- Sim meu filho. Seu pai se sentiu mal ontem à noite e foi se deitar, hoje quando fui chama-lo ele não respondeu de imediato e começou a convulsionar, o troxemos para o hospital, mas estão querendo um familiar e você é o único.
- Como ele está agora Mada?
- Nada bem meu filho.
- Estarei pegando um voo hoje à noite e assim que desembarcar te aviso.
- Vem com Deus meu filho.
- Obrigado Mada.
Era só o que me faltava, voltar antes da hora. Espero que meu pai se recupere logo, não posso perde-lo na semana que completa quatro anos das morte de minha mãe e irmã.

Vou até a estação de trem de Santa Apolónia e compro o bilhete de 21:18 com destino a cidade de Hendaye na França, desembarco às 11:28 e faço a conexão ao 12:35 no trem bala até Paris, chegando a cidade luz 18:33

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Vou até a estação de trem de Santa Apolónia e compro o bilhete de 21:18 com destino a cidade de Hendaye na França, desembarco às 11:28 e faço a conexão ao 12:35 no trem bala até Paris, chegando a cidade luz 18:33. Vou ao meu apartamento faço minhas malas e desligo tudo, ligo para que Lorenzzo passe aqui e desfaça das comidas e pague o condomínio e os serviços, deixo uma cópia da chave com o porteiro e aviso da chegada de Lorenzzo e perto para o aeroporto de volta ao Brasil. Embarco às 23:00 hs com um voo direto para Caxias do Sul, o cansaço é tanto que nem vejo a viajem, às 11:34 pousamos no aeroporto Hugo Cantergiane e assim que somos liberados ligo para Madalena informando meu desembarque e sou avisado que Joel o motorista de papai me aguarda.
Assim que saio das esteiras com minhas bagagens o avisto e nos abraçamos.
- Menino como cresceu, agora tu és homem feito.
- E você envelheceu, parece meu avô.
- Continua o mesmo guri língua solta de sempre!?
- Tem coisas que não mudam Joel.
- Estou vendo.
- Como está o meu pai?
- Na mesma. Madalena não sai do lado dele e fiquei na Fazenda para ajudar no que posso.
- E o administrador?
- Seu pai demitiu.
- Vamos pro hospital, depois resolvo as outras coisas.
- Te deixo lá e levo suas malas, assim que quiser vir embora me avise que te busco.
- Obrigado Joel.
- Que isso filho, você é a minha família.
Seguimos para o hospital e não estava esperando que o quadro clínico do meu pai fosse tão crítico. Segundo o neurologista ele teve um AVC esquemico e a situação se agravou por conta de a área atingida ser de difícil acesso. AVC isquêmico ou acidente vascular cerebral isquêmico se dá quando há uma obstrução da artéria, impedindo a passagem de oxigênio para as células cerebrais, que morrem - essa condição é chamada de isquemia. Ele está no CTI e estão aguardando responder ao tratamento, assino alguns papéis e ligo para Joel vir me buscar, estava precisando de um banho, comida e cama. Seguimos para a Fazenda em silêncio, Madalena ficou no banco da frente com o marido e eu fui olhando a cidade em que nasci pela janela. Muitas lembranças vieram a minha mente, mas uma em especial mexeu com o meu coração.
Estávamos eu, Luca e Vinícius na praça tomando sorvete logo depois de voltar da primeira férias na Fazenda onde minha mãe morava no Rio de Janeiro e Vinícius estava curioso pra saber como era a cidade.
- Fala Bernando, como são as cariocas, as garotas são bonitas como vemos na televisão?
- As cariocas eu não sei, mas a carioca é linda.
- Como assim Bê - pergunta Luca
- A colona que mora na Fazenda é a gorota mais bonita que já vi na vida.
- Como se fosse bem vivido - debocha Luca.
- Sei que só tenho dez anos, mas aquela garota parece uma pintura e é linda.
- Voltou apaixonadinho pela carioca caipira Bernardo? - fala Vinicius
- Se tô apaixonado não sei, mas que gostei de brincar com ela e de conversar, isso eu gostei e não vejo a hora de voltar.
- É meu irmão, acho que perdemos um combatente - fala Luca com cara de tristeza e mão no coração o que nos faz cair na gargalhada.
Realmente havia me apaixonado por Ivy desde que a olhei pela primeira vez. Já namorei outras mulheres, mas nunca quis transar com nenhuma sem amor, não sou virgem, mas também não achei meu pau no lixo. Sou um homem romântico e fiel ao que sinto e nunca usaria uma mulher somente pra me saciar e depois descarta-la, quero compromisso, formar família e viver um grande amor. Sei que um dia isso acontecerá, mas enquanto não vem me dedico a estudar e realizar meu sonho. Não sou como Luca e Vinícius que pegam e não se apegam, sou um homem de família, minha mãe me ensinou a respeitar as mulheres e ser um cavalheiro, já meu pai dizia que esse negócio de cavalheirismo era coisa de boiola, que o filho dele era macho e tinha que pegar mesmo, mas fiquei com o que mamãe me ensinou.
- Chegamos Bernardo - Sou tirado dos meus pensamentos com a voz de Joel.
- Obrigado Joel.
- Vamos Bê, precisa comer alguma coisa e dormir senão vai ficar doente - diz Madalena toda aflita.
- Para com isso mulher, o menino é forte e resistente e não é mais aquele guri é um homem feito.
- Mas pra mim ainda é um guri.
Vou entrando na casa e ouvindo a discussão dos dois e acabo rindo, não sabia que estava com saudades disso tudo, do cheiro de terra e olhar pela varanda e ver o enorme vinhedo, do cheiro da casa e de comida típica do Sul.
Após um longo banho desço para comer e descansar, amanhã terei um longo caminho a percorrer.

Sintonia Perfeita - EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora