As Crônicas da Terra de Prata (Wattys2017)

CAPÍTULO 13 - Arrependimento

Por um momento tudo foi silenciado. Olhei para Celeste que estava ajudando os feridos a passarem os escombros da cidade. 

Mandei meus olhos para Marcos e vi. Num suspiro aliviado ele desmoronou, as marcas em suas costas eram profundas e escorriam sangue pelo chão.

A cidade, a magestosa cidade élfica que eu havia visto dois dias atrás já não existia, foi praticamente reduzida a cinzas.

Nem sinal de Lúcio, Molvack e nem de seus homens. Eles simplismente sumiram. Desmaiei ali mesmo.

Acordei na manhã seguinte com o corpo carregado de dores, não conseguia me convencer de o que tinha acontecido era real. 

Me levantei e fui até a cidade, vi famílias e mais famílias de Elfos vasculhando as ruínas em busca de sobreviventes. Em uma dessas buscas encontrei Marcos escavando pedaços partidos de uma torre que derrubaram na passagem para a cidade.

Ele estava machucado e nítidamente exausto apesar do esforço. Ele se virou para mim e desceu do monte de escombros.

-Olá Safira

-Oi.. 

Nos encaramos e um silêncio mortal tomou conta da situação.

-Elfos, levem os feridos para a vila dos refugiados.- Pude escutar Celeste ordenando-os de cima de uma pedra.

-Celeste, Celeste!.-Acenei para a mesma.

Ela desceu num salto e sem perder a pose veio até mim. 

-Olá Safira.- Sua expressão era séria mas mesmo assim eu podia sentir um pouco de tristeza em seu semblante.-Como se sente?

Corri meus olhos por ela, onde estava aquela mulher poderosa linda e misteriosa que eu conheci alguns dias atrás? Sua roupa estava cheia de buracos e completamente suja. Seu cabelo coberto de sujeira e seus olhos fundos de tristeza.-E-eu estou bem..

Marcos chega correndo  com a minha bolsa nas costas por trás de Celeste que se vira para ele e nos encara.

-Safira! Você está bem?!-ele pergunta preocupado

-S-sim, mas, cadê o Lúcio?! Por quê ninguém fala dele?

Os dois me olham com um olhar de quem não sabe o que responder

-Eu já entendi.-olhei para baixo.

-Não fique assim. Vamos, nós vamos para a aldeia dos Elfos refugiados...

-Não! Não Marcos! Eu não vou para lá. Eu perdi a Dione ontém, ela morreu e foi por minha causa! Não vou permitir que ele morra por mim também!!

-Então...O que pretende fazer?

Me peguei perdida em meus pensamentos...

Eu não sei o que fazer! Que meu quero enganar? Eu estou mais perdida que Lúcio ou qualquer um.

-Vamos procurá-lo e traze-lo de volta. 

-Vocês vem conosco?-perguntou Celeste.

-Não, muito obrigada pela hospitalidade e por nos proteger, mas, não podemos deixá-lo para trás.

Celeste se aproximou de mim, pôs a mão em meu rosto.-Tão linda e inocente como a mais pura flor de prata que já vi florecer, ainda iremos ouvir histórias sobre você Safira.-ela pôs a mão em seu peito e puxou de lá um colar.-este colar pertenceu a minha mãe, a grande rainha Flora. Ele irá te guiar em sua jornada.

Sorri e aceitei o colar o colocando em meu pescoço. Era um lindo colar de prata com um pedaço de pedra lilás preso ao centro.

-Isso se chama coração de dragão, só é encontrado nos picos dos vulcões sagrados da terra de prata.-acrescentou-a com a mão no colar.-agora tenho de levar meu povo para um lugar seguro. Espero vê-los em breve.-Olhou para Marcos e eles assentiram como se conversassem pro telepatia e ela partiu em direção aos outros Elfos entrando na floresta ao Sul.

-Vamos para o Norte, as de Molvack não ficam muito longe daqui.-Disse Marcos apontando para dentro da floresta ao lado oposto de onde Celeste e os outros entraram.

Seguimos na mesma direção apontada por Marcos por um bom tempo em silêncio e isso estava me incomodando...

-Marcos, o que aconteceu ontém?

-Como?

-Como a batalha terminou?

-...Molvack não é fraco Safira, ao contrário do que pensa Lúcio, ele não é indestrutível. Ontém Lúcio não tinha mais condições de lutar, mas, quando Molvack disse aquilo...

-Aquilo o quê?

-E..Ele disse que iria levar você como prêmio, mas, Lúcio não aguentou ele ouvi-lo dizer isso e lutou até não aguentar mais. Quando você e as píxies apareceram... Molvack aproveitou para levar Lúcio com ele e conseguiu me despistar o cheiro de flor das fadinhas ocultou o deles e não consegui farejá-los.

Cobri minha boca com as duas mãos para não gritar e deixando as lágrimas escorrerem desmoronei.

Me veio a mente a cena da morte da senhorita Dione e o olhar dela de conformação com aquilo, me lembrei de Lúcio, daquele sorriso com covinhas, aqueles olhos verdes brilhando ao me ver na colina do senhor Thomus. Só de pensar que a vida da senhora Dione e de centenas de Elfos foram destruídas por minha culpa eu não podia parar de chorar. 

-Vamos...Vamos acampar aqui, certo?-perguntou Marcos.

Eu o ignorei e continuei a chorar ajoelhada na grama.

Marcos montou nosso acampamento e sentou sobre um galho de árvore consideravelmente alto.

Eu chorei por horas, até que meus olhos não aguentaram mais e acabei desmaiando de sono.

Quando acordo o acampamento está totalmente desarmado e uma cestinha com papoan e peguei uma, comendo olhando para o nada. Depois de alguns minutos Marcos aparece.

-Vamos Sa?

Eu apenas assenti e seguimos em frente. Marcos sempre tentava puxar assunto comigo mas eu não dava bola até que...

-Já chega! 

Olhei para ele sem entender

-Você vai ficar mesmo se culpando Safira?-Ele me encarou

-Mas a culpa é minha!

-Não, não é sua!

-Sim, é. Não quero que entenda Marcos, não foi você que viu morrer a unica pessoa que te entendia nesse mundo e que agora tem a morte de varias famílas no carma! Eu queria nunca ter corrido atrás daquele pássaro idiota...

-Não Safira, não fui eu e nunca vai ser eu. Foi você e se você for se lamentar sempre que algo ruim acontecer acho que você realmente não devesse ter vindo para cá. Quando te conheci eu vi uma garota forte e independente que não precisava da ajuda de ninguém para tomar decisões. 

-Mas...

-Mas nada Safira! Você não matou nenhum deles, você não mandou Molvack os matar, eles morreram pela causa deles! Assim como eu morreria pela minha que é te proteger, não adianta se culpar pela morte deles. Dione era a minha sacerdotiza Safira, ela me ensinou a controlar meus poderes, eu tive uma ligação com ela e você acha que não doeu ver Lúcio sendo levado bem na minha frente?! Nunca mais se culpe por isso entendeu?!.