Em algum lugar

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Em algum lugar
há sempre uma vida
Que começa
Há sempre uma história
Que não termina
Há sempre um pedido de socorro
Que não foi ouvido
Nos pulsos cortados da menina.

Em seu choro
Que passou despercebido
No sangue que escorreu
De suas mãos finas
Na lágrima que correu
Em seu rosto
E que o escuro do quarto
Não ilumina.

Como tantos ela vive
Uma luta solitária
Seu silêncio é uma navalha
Que fere a carne
Para calar a dor da alma.

Em algum lugar
há meninas e meninos
Que se cortam no banheiro
Que fazem marcas em seus corpos
Nelas escondem os seus pesadelos.

Que por fora estão sorrindo
E por dentro estão chorando
Que dizem estarem bem
Mas continuam se cortando.

Às vezes na tentativa de se punir
Às vezes na esperança de aliviar
O peso de existir
E o de viver
Onde não se é aceito
Numa prisão de aparências
Onde cultua-se o" perfeito"
Prega-se a obediência.

Cortar-se seria então
Um ato de rebeldia?
Uma maneira fria de se libertar
Ou de fazer calar
A própria consciência ?

De esvaziar um sentimento reprimido
Ou de preencher uma falta
Uma ausência ?

De matar-se aos poucos
Para que não notem?
De matar-se sem morrer
Ou de sentir-se mais honesto
Diante da própria dor?

Quem sabe uma maneira
De se esquecer
Que no mundo sobra tanto vazio
Quanto falta amor.

A mariposa na janelaOnde histórias criam vida. Descubra agora