Mariposas

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Sentada à mesa da cozinha
Jogando versos aos ventos
Mariposa atravessa a janela
Pousa na parede.

Sua sombra trespassa-a
Como outra mariposa
Ambas quietas
Silenciosas como pensadores.

Uma mariposa pousada no branco
De uma velha parede:
No que estará pensando?

Eu só consigo pensar
Que nada no mundo
Me parece no lugar
Tudo à minha volta
Parece flutuar
Num espaço oco e sem graça.

A mariposa tem olhos nas asas!
Seus olhos me vigiam soturnamente...
É então que percebo
Que meus olhos são castanhos
Iguais os da mariposa.

Tão graciosamente ela voa
Em torno da lâmpada do teto
Eu só me deixo voar
Quando corro a ladeira
Da rua de vovó :
Os cabelos dançando na cintura
Como asas de mariposa.

Eu ,dama do dia:
Sol, praia ,mar e ventania.
A mariposa, dama da noite:
O silêncio, o mistério e a poesia.

Eu sou parte da mariposa
A mariposa é parte de mim
Juntas somos parte
Do estranho milagre da vida.

Seres pacatos, suaves,
De alma negra
Cheirando a alecrim
E que vagam sonolentos
Na secreta eternidade do tempo
Poetas de versos escuros
E escuro coração.

É então que, retornando
De meu quase delírio,
Noto que a mariposa
Não está mais lá.
Sinto um vulto passar por mim
E novamente atravessar a janela.

Do lado de fora a mariposa
Indiferente se despede
Na quase escuridão da tarde
Se perde

- Tal como o verso do poeta
Que num instante de descuido
desprende- se do papel
E livre
escapa para a vida.

A mariposa na janelaOnde histórias criam vida. Descubra agora