I. Wonderwall

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CLARKE

Ela era diferente. Não de um modo ruim eu diria, ela era apenas diferente do que eu via por ali.

Não distribuía sorrisos, tampouco tentava se encaixar em algum grupo. Cabeça baixa, jeito introvertido. O tipo de pessoa que não faz questão de ter amigos. Ela mantém para si mesma qualquer coisa que a aflige e eu tenho a impressão que muitas coisas a perturbam... Um bom indicativo disso são os hematomas que ela constantemente tenta esconder.

Noutra situação eu não prestaria nenhuma atenção à novata deslocada, mas ela parecia me seguir... Me vigiar pelo canto dos seus espectrais olhos esmeraldas. Aquilo estava me perturbando um pouco. O que diabos a faria tão interessada em mim?

- A estranha está passando – meu namorado, Finn, falou alto o suficiente para que ela escutasse.

Nossos amigos riram, apenas para seguir o líder, já eu não esbocei nenhuma reação. Meus pais me criaram para ser mais matura do que aquilo. Finn, quando não estava sendo um idiota, era um cara bastante legal, e é nesses momentos que me apego quando ele age como uma criança de três anos.

Dei um leve tapa em seu peito – Pare – pedi e rapidamente mudamos de assunto, mas bastou eu erguer a cabeça para encontrar a desconhecida me encarando novamente. Aquilo já estava ficando bizarro.

Esperei a aula acabar e fiquei esperando-a. Precisava saber que merda estava acontecendo ali, por que ela estava tão fixada em mim, ou se tudo era fruto da minha fértil imaginação, embora eu duvidasse muito.

A garota, Alexandra, foi uma das últimas alunas a abandonarem o colégio. Já era quase noite e minha mãe estava furiosa ao telefone, me mandando chegar em casa antes do jantar. Deveria ter um bom motivo para ela ser tão apegada àquela instituição, pois, enquanto os demais não viam a hora de ir para casa, a garota parecia mais do que feliz em permanecer ali.

- Ei – a chamei quando ela atravessou a porta. Capuz sobre os cabelos, mochila dependurada num dos braços. Tinha um rosto belíssimo, que eu nunca repararia já que ficava escondido na maior parte do tempo.

Ela me olhou, surpresa, mas nada respondeu. Apenas ficou lá, me encarando, esperando que eu dissesse o que queria dizer.

- Você tem algum problema comigo? – fui direto ao ponto já que a presença dela me causava um desconforto que eu não sabia exatamente de onde provinha.

- Não – ela respondeu, fria como um iceberg, e fez menção de descer os demais lances da escada, mas eu não havia passado três horas esperando-a para receber apenas um 'não'.

Segurei em seu braço por impulso, impedindo-a de ir embora – Espere – pedi e a soltei ao notar que ela olhava com certo assombro para o que eu havia acabado de fazer – Desculpe-me – me retratei e umedeci os lábios – Por que você está me seguindo? Me encarando o tempo inteiro? – meu tom sugeria urgência, como se ela estivesse pondo minha sanidade à prova.

Ela me olhou mais uma vez, mas dessa vez não havia a ferocidade de minutos atrás. Ela parecia quase envergonhada sobre algo. Eu apenas não sabia o quê.

Lexa umedeceu os lábios e olhou ao redor, como se isso pudesse deixar aquela situação mais palatável enfiou as mãos nos bolsos de forma nervosa - Meu irmão – iniciou num tom rouco e áspero que eu nunca ouvira antes, muito embora tenhamos a maioria das aulas juntas. - Sua família o adotou após ele ter sido levado pelo conselho tutelar – completou num tom frio. O olhar focado no horizonte, perdido em algum lugar que eu nunca seria capaz de alcançar. – Passei dois anos tentando achá-lo – revelou e algo sobre ela parecia tão quebrado. Tão cru. Era como se ela já houvesse passado por tantas situações ruins que algo houvesse desaparecido; seus sorrisos possivelmente.

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