VII. Trust

216 30 5
                                    


LEXA

Quando as pessoas parariam com todos aqueles clichês? Namorar um babaca por aparência? Permanecer num grupo de amigos imbecis por conveniência? Se esconder sob uma máscara de desprezo, abafando uma empatia tão necessária para o mundo. Eu odeio clichês. Eu odeio a loucura pintada de normalidade que as pessoas nos forçam a engolir... Eu o odiei pela forma que a tratou. Clarke, sobre todas as pessoas, não merecia aquilo.

Ela não voltou para a sala e tive que me controlar para não levantar no meio da aula e garantir que ela estivesse bem.

- Alexandra, posso falar com você? – a professora me chamou quando eu já estava praticamente no corredor.

Cerrei os olhos e engoli um xingamento, indo na direção da mulher.

- Você ainda não entregou a autorização – pontuou delicadamente e me olhou como se esperasse uma explicação.

Contá-la a verdade estava fora de cogitação obviamente.

- Hm – olhei noutra direção – Eu não sei se poderei ir – usei minhas táticas evasivas, que, dessa vez, foram pouco eficientes.

- Se você ganhar, coisa que acho muito provável, você poderá ir para qualquer universidade que quiser, então qual é o real motivo? – pressionou e pude notar um quê de desaprovação por eu estar passando uma oportunidade tão valiosa quanto aquela.

A Olimpíada de física era realmente uma oportunidade única, e para mim, que gostaria de atender ao MIT, era perfeito, o único problema consistia no fato de que eu precisava da autorização da minha mãe e eu não queria vê-la ainda.

- Outra pessoa que não seja minha mãe pode assinar?

A Srta. Parker me olhou de uma forma realmente estranha após essa pergunta, como se já estivesse pronta para discar para o serviço social.

- Ela está viajando – fui rápida ao mentir – Não sei quando volta – completei.

A mulher me encarava como se tentasse decidir se eu contava ou não a verdade.

- Apenas consiga a assinatura, Alex.

- Lexa – a corrigi com um sorriso – Meu apelido é Lexa, e eu farei o possível – a lancei mais um sorriso amarelo antes de sair dali.

"Fuck that." Pensei, me deparando com um Lincoln bastante enturmado na nova escola.

Octavia, a amiga inseparável de Clarke, estava realmente interessada, e o melhor, sequer tentava disfarçar.

- Viu a Clarke? – questionei após me aproximar de ambos.

Os dois negaram e eu preferi deixá-los a sós, apenas torcia para Octavia não estar atraindo-o para alguma armadilha, porque isso seria seu funeral.

Zanzei pelos corredores, procurando pelo distinto tom de louro, mas, fora os empurrões cotidianos, não encontrei mais nada.

Talvez ela tivesse ido para casa, embora eu duvidasse muito dessa teoria, afinal, ela teria que explicar para a mãe o motivo e não acho que Clarke seja do tipo que compartilha notícias ruins com os pais. Ela é do tipo que faz de tudo para vê-los felizes.

- Bellamy – toquei levemente no braço do moreno.

Não pude reparar nisso antes, mas ele era realmente alto, e não parecia muito com Octavia, com exceção da cabeleira negra.

Ele sorriu num ar cordial.

- E aí – falou, fechando seu armário antes que eu pudesse ver o que havia no interior.

- Viu a Clarke? – questionei e cocei a cabeça, um pouco inconfortável com aquela missão que eu mesma havia me incumbido, afinal, era bem provável que a garota nem quisesse me ver... Não depois da frieza com a qual a tratei no parque, muito embora não tenha sido proposital.

Ele deu de ombros, incerto. – Não sei, talvez ela esteja no estacionamento com o Finn.

Havia algo em seus olhos que eu não pude traduzir exatamente, dúvida sobre minhas intenções? Curiosidade? Eu não sei e não fiquei para descobrir, apenas agradeci e corri até o local indicado.

Bem, de fato ela estava no estacionamento, mas eu acho que preferiria não ter visto a cena de Clarke e Finn beijando-se apaixonadamente no banco de trás do conversível. Aparentemente haviam feito às pazes e eu estava me preocupando a toa.

"Sempre tão idiota... Lexa" sussurrei antes de dar no pé. A escola havia acabado de se tornar intragável pelo resto do dia.

**

O sino soou anunciando que alguém havia entrado no pequeno restaurante. Ninguém deu a mínima para o fato e a vida continuou.

Olhei ao redor, escrutinado o recinto em busca de algo que, internamente, eu torcia não encontrar, mas, para o meu alívio e decepção, lá estava ela, forçando um sorriso para algum cliente mal-humorado.

Sentei numa das mesas e fiquei observando-a. A forma que ela se movimentava com graça e elegância, seus sorrisos, a forma que ela tocava no ombro dos clientes mais antigos e os perguntava sobre suas vidas... Anya era uma boa pessoa que havia feito escolhas ruins, a começar pela escolha que fez aos dezesseis anos, quando resolveu me ter, não que eu reclame de estar viva, mas ela poderia ter alcançado a lua caso não tivesse um bebê se pondo no meio dos seus sonhos de se tornar uma pintora, depois veio o erro com a escolha do meu pai, um cara que não ficou por perto quando descobriu sobre a gravidez, depois Gustus e mais diversas sucessões de erros... Mas se eu parasse para pensar, eu fui seu primeiro erro, eu fui o ponto de ruptura, o ponto sem retorno.

- Lexa?

A voz suave me trouxe de volta a realidade. A olhei e ela me expôs um largo e aliviado sorriso.

Limpei a garganta e me forcei a retribuir, mas não devo ter soado muito convincente – Oi – sussurrei e comecei a fuçar dentro da minha mochila pela maldita autorização.

Podia sentir os olhos de Anya sobre mim, me seguindo como se tentassem desvendar algo.

- Você está bem? Eu tentei te ligar, por que não me atende? – não havia raiva em seu tom, apenas uma maçante tristeza.

Não queria dizer que estava deliberadamente a ignorando, mas eu tinha a impressão que ela já sabia disso. Finalmente tirei o papel meio amassado de dentro do caderno e o empurrei na sua direção, juntamente com uma caneta.

- Eu estou bem, mas eu não estaria aqui se não precisasse de algo – respondi friamente e só então a fitei – Assine, por favor.

Anya me encarou pelo que pareceram horas, e eu me sentia morrendo internamente, como se maltratá-la fosse errado, e eu sabia que era... Ela era tão vítima quanto eu, mas ela deveria ser forte por mim... Por Aden, isso é o que mães fazem, certo? Elas são fortes, elas protegem seus filhos, mas Anya não fez nada disso, eu tive que ser forte, ou melhor, eu tive que fingir ser...

Ela assinou o papel sem sequer lê-lo.

- Alguém da escola vai te ligar, diga que você autorizou minha ida – falei monocromaticamente e comecei a organizar minhas coisas, já me preparando para ir embora, mas Anya segurou no meu pulso antes que eu tivesse a oportunidade.

- Eu te amo – sussurrou por fim e retornou ao seu trabalho.

"Eu também te amo", pensei quietamente antes de partir.

NYCTOPHILIAOnde histórias criam vida. Descubra agora