VII. Peaceful

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CLARKE

Eu nunca senti aquele tipo de medo antes, nem quando andei na garupa da Lexa e ela disse não ter licença, aquele medo foi excitante, aquele medo foi bem-vindo, o medo que eu senti estando com o Finn foi real, do tipo que te paralisa e drena todas suas forças de revidar, então não revidei, na realidade, fiz a única coisa que apenas um covarde faria; as pazes.

Ele disse que sentia muito e que não era culpa minha, "Lexa o tirava do sério", mas que ele nunca mais descontaria em mim, que me amava... Eu odeio admitir que fiquei aliviada ao ouvir isso... Eu fiquei aliviada por saber que nunca mais seria alvo do seu descontrole, mas Lexa seria, que tipo de pessoa faz isso? Que tipo de idiota faz isso...

Minha festa era dali a alguns dias e eu não via motivos para comemoração.

Duas batidas me tiraram das minhas divagações.

- O que? – questionei sem muita paciência.

- Posso entrar? – minha mãe perguntou e eu cedi, meio a contragosto, mas cedi. Ela sorriu naquele ar acolhedor dela e, mesmo que tenha notado que algo não estava certo, não perguntou diretamente. – Sua escola me ligou hoje – iniciou como quem não quer nada – Você está nas Olimpíadas – prosseguiu e eu já sabia para onde aquela conversa andava.

- Me desculpe por não tê-la contado que me inscrevi no concurso de artes e não de ciências – falei de uma única vez – Papai assinou por mim, eu não queria contá-la... Porque se eu não ganhar significa que você está certa e que eu deveria seguir sua profissão, mas se eu ganhar... – deixei a ideia no ar e olhei para o outro lado, de todos os dias do ano, eu não queria ver, justamente hoje, decepção nos olhos da minha mãe – Eu posso ter uma chance... Eu tive que tentar.

Um longo e incômodo silêncio se instalou e eu fazia o possível para não começar a chorar feito uma criança idiota, mas tornava-se mais difícil a cada minuto.

- Eu não estou brava, Clarke – ergueu meu queixo para que eu pudesse encará-la - Eu sinto muito que você tenha tido a impressão que não poderia falar comigo, obviamente que eu ficaria muito feliz se fosse médica, mas eu te amarei de qualquer outra maneira, porque você é exatamente quem você é, e eu não mudaria absolutamente nada.

Afundei meu rosto contra o moletom de lã dela, enlaçando-a num abraço, e se eu pudesse, viveria nele.

- Todos os dias você salva vidas, faz uma pessoa voltar para seus filhos, seus maridos... E mesmo quando perde alguém, você continua sendo essa pessoa forte e incrível que põe todo mundo à frente de si mesma – a lancei um meio sorriso triste – Eu não sou como você, é por isso que mesmo que eu fosse médica, eu não seria metade da médica que você é... É por isso que eu preciso encontrar outra forma de ajudar as pessoas.

Abby sorriu num ar orgulhoso e me abraçou novamente... Eu mal sabia o quanto necessitava de um abraço, daquele abraço, até recebê-lo. Eu tinha sorte por tê-la, por ter dois pais incríveis que morreriam por mim... Quem a Lexa tinha para abraçá-la?

- Você faz exatamente a mesma coisa, ajuda aos outros... Como ajudou a Lexa a se reencontrar com o Aden – disse a última parte com uma calma budista, enquanto tudo que eu desejava era correr e me atirar pela janela.

Como ela havia descoberto? O que ela faria a respeito? Todas essas dúvidas devem ter ficado cristalinas pela minha feição, pois mais uma vez ela me lançou um sorriso reconfortante.

- C-como descobriu? – gaguejei debilmente.

- Eu sabia no instante que a vi e tive certeza no momento em que ela o olhou... Ela o visitou antes de fugir do lar provisório onde estava e voltar para mãe – falou monocromaticamente, mas sem esconder seu pesar.

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