IV. Lost

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LEXA

Eu não sabia o que tinha na cabeça quando pedi minha transferência para aquele colégio, acho que eu estava contundida ou algo do gênero, porque apenas alguém muito estúpido tomaria uma decisão daquelas.

O ensino era ótimo, o melhor com o quão me deparei; os professores nunca faltavam, não havia detectores de metal na entrada, nem policiais revistando nossas mochilas, não havia alertas de tiroteio, alunos portando armas, brigas de gangues... Nada disso. Por outro lado, era repleto de adolescentes mimados e alienados, que tinham como principal preocupação o número de seguidores no twitter. Era extenuante andar todos os dias por aqueles corredores sentindo-se um peixe fora d'água e tendo que ouvir diversos apelidos, embora 'carrie' e 'estranha' duelassem pela primeira colocação. Eu fingia não me importar, parte de mim realmente não dava à mínima, mas a outra sentia-se sozinha e estava cansada de ser tirada por saco de pancada... Pelo menos sempre fui uma boa atriz.

- Parabéns – a professora sussurrou ao me entregar a prova. O A+ estampado me fez sentir uma pontada de orgulho.

Tirando Clarke, ninguém mais se importou com meu rosto inchado, e os que perceberam foram para me chamar de 'namorada do Chris Brown', eram idiotas ao ponto de achar que violência doméstica é tema de piada. Sorte a deles viverem em ignorância e nunca terem vivenciado isso na pele.

Durante o intervalo eu me escondia na biblioteca, ninguém me incomodava ali. Eu tinha seis anos quando me dei conta de que a biblioteca era o local mais calmo da escola, precisava de paz, nem que fossem por trinta minutos. Ali eu esquecia dos problemas que tinha em casa, esquecia da falta de tato dos professores, da violência dos demais alunos... Me sentia segura, então passei a amar a companhia dos livros, possivelmente a relação mais duradoura que tenho.

- Alexandra, correto?

A princípio não achei que ele estivesse falando comigo, ninguém falava, muito menos me chamando pelo nome, mas a sombra que ele fez sobre meu livro me dava outra ideia.

Ergui o rosto para fitar o desconhecido, ele tinha cabelos pretos rebeldes, sardas sobre as bochechas e um largo sorriso amistoso. Nunca o vi me zoando por aí, mas nem por isso abaixei a guarda.

- Sim – respondi cautelosamente.

- Sou Bellamy, amigo da Clarke – se apresentou e indicou a cadeira ao meu lado, como se pedisse permissão para sentar, concedi, mesmo que ainda estivesse relutante. – Obrigado – limpou a garganta – Ela pediu para que eu te avisasse que os garotos estão preparando uma pegadinha, querem derramar tinta sobre você depois da aula – me olhou e havia um quê de repulsa, eu apenas não sabia se era de mim ou da brincadeira que tinham preparado.

- Por que ela não veio me avisar? – quis saber.

Bellamy abaixou a cabeça, pouco confortável com aquela missão que lhe foi incumbida. - Porque eles são amigos e ela não quer ficar numa situação delicada com eles – confirmou minhas suspeitas.

- E por que você veio me avisar? Nem somos da mesma turma. – inquiri.

- Porque ela é minha melhor amiga e me pediu um favor, aliás, ela disse que você pode ir visitar o Aden amanhã – completou e eu simplesmente sabia que ele falava a verdade. Clarke não sairia contando algo daquela importância para seus amigos idiotas.

Apoiei a cabeça sobre as mãos e amaldiçoei minha vida.

"Você ficará bem, Lexa" meu mantra ressoava na minha mente.

- Ok, obrigada – respondi por fim, recolhendo meus materiais e dando o fora dali.

Consegui ir para casa após mostrar minha cara para coordenadora e dizer que tinha sido assaltada na noite anterior, acho que ela não comprou a história, mas me liberou mesmo assim. Só queria saber como eu faria nos demais dias, porque eles não desistiriam tão facilmente da brilhante ideia de me humilhar.

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