- Você tem uma moto?! – indaguei em verdadeira surpresa. Meus pais, em sã consciência, nunca me deixariam andar numa moto, por sorte eles não viram o veículo e estavam crentes que iríamos à sorveteria na esquina.
Ela deu um daqueles sorrisos presunçosos e encolheu os ombros. Ela parecia diferente... Mais leve eu diria? Mas também notei que apenas na minha companhia ela agia assim. Isso me deixou feliz, eu acho... Como se eu fosse especial de alguma forma.
- Não exatamente – admitiu – Mas eu não a roubei e tenho uma licença – completou e me ofereceu o capacete.
Ponderei por um tempo sobre aquilo, nunca fui do tipo aventureira, mas algo dentro de mim implorava por aquele salto de fé, implorava por algo mais excitante que minha vidinha perfeita. Coloquei o capacete, que mais parecia um capacete de bicicleta, pouquíssimo confiável, considerando que andaria numa moto tão austera.
- Eu não cheguei a mencionar que a licença que me refiro não é minha certo? – Lexa falou aquilo e acelerou.
Meu coração pulou uma batida, enquanto meu estômago revirava-se dolorosamente, e acho que nunca segurei alguém tão forte, pois, literalmente, se eu a soltasse poderia morrer.
- Sua desgraçada! – bradei em fúria e ela riu. Realmente gargalhou de algo, coisa que a achei incapaz, aquele som, tão verdadeiro, me fez esquecer que eu estava furiosa por alguns segundos. Entretanto, mesmo com a raiva que borbulhava dentro de mim, não pude deixar de notar seu cheiro amadeirado, com uma leve essência de erva doce que provinha dos seus cabelos, era como andar numa floresta num dia chuvoso. Era reconfortante. Seguro.
Eu amei cada segundo que mantive minha cabeça parcialmente escondida na curva do seu pescoço, meu corpo contra seu dorso, minhas mãos envolvidas em sua cintura curvilínea... Eu amei cada segundo onde nossos corpos estavam conectados. Por que? Eu não sabia.
Estava levemente trêmula quando notei a moto desacelerar e só então me forcei a abrir os olhos. Lexa me olhava por cima do ombro, com um sorriso confiante, daqueles que você lança quando sabe que vai ganhar uma aposta. Seus olhos brilhavam em diferentes espectros, como se ela tivesse um prisma particular e eu fosse a luz necessária para fazê-lo mudar de cor, e ela não parecia nem um pouco desconfortável com a minha proximidade, o que, seria a primeira vez desde que a conheci.
- Porra, Lexa, o que diabos tem de errado com você?! – esbravejei quando lembrei que estava brava com ela.
Desci da moto e a joguei o capacete que ela capturou no ar com a habilidade de uma jogadora profissional. E lá estava o sorriso jovial, presunçoso e cheio de confiança, como se o que eu havia acabado de dizer não fosse relevante.
- Você é bastante adorável brava – constatou como se fosse uma informação irrelevante e supostamente deveria ser, mas de alguma forma aquele elogio me trouxe uma ansiedade quase doentia. Eu ainda estava por entender por que ela me causava tais reações. – E se serve de consolo, eu tenho uma licença e ela é legítima – completou calmamente e desceu da moto. Prendendo ambos os capacetes na lateral do veículo com uma corrente.
Para ser completamente honesta, eu não sabia se acreditava nela, mas decidi que sim, apenas estava pouco familiarizada com o "humor" de Lexa, que, até a semana passada, era inexistente. Olhei ao redor, finalmente me dando conta de onde estávamos e meus olhos se alargaram a cada nova coisa que via. Estávamos no parque. Com suas rodas-gigantes, jogos de tiro ao alvo, algodão doce e tudo que tínhamos direito. Eu amava parques e Lexa pôde deduzir isso pelas minhas expressões faciais.
- Vejo que a trouxe ao lugar certo – falou num tom jocoso e piscou, me fazendo derreter internamente com essa simples ação. Agora com certeza algo estava muito errado comigo.
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NYCTOPHILIA
General Fiction"Nunca deveríamos tentar decifrar nossos sentimentos, sentir não é o suficiente? Por que temos que racionalizar tanto? Eu costumava tentar encontrar sentido em absolutamente tudo... Até ela entrar no meu caminho e, sem pedir licença, retirar a venda...