Capítulo 7 - POV'S VICTÓRIA

576 74 4
                                    

Lívia segue comigo até a lanchonete do hospital. Ao seu lado, eu me sinto suja e indigna de sua amizade. Também estou arrependida; arrependi-me de ter dormido com Henrique todas as vezes, no entanto, algo dentro de mim, no meu âmago, em meu interior, mudou. Eu sempre o vi como o homem da minha melhor amiga, e nunca o vi com outros olhos, nem nunca me senti atraída por ele ou qualquer coisa do gênero.

Não desde aquela noite. Antes mesmo de transarmos. Aquele beijo inesperado em mim com gosto de bebida alcóolica foi o que mexeu comigo de uma maneira diferente. A transa naquela vez apenas intensificou todos os sentimentos despertados pelo nosso primeiro beijo.

Não fui capaz de resistir às outras vezes em que Henrique Hauser me procurou. Eu sabia que era errado, e sujo, e desonesto, e cruel com minha mulher amiga. Mas, sempre que ele me procurava, eu não era capaz de resistir. Ele não precisava fazer nada, absolutamente nada. Bastava aparecer na minha porta com aqueles olhos castanhos para me excitar; bastava um movimento, qualquer um — uma carícia, uma risada, um afago — e eu me rendia, queria-o dentro de mim, em cima de mim, queria seus beijos, o calor do seu corpo, tudo o que ele pudesse me dar, eu queria.

Apesar de todos os meus desejos, nunca o procurei. Era sempre Henrique quem me procurava. E se ele não tivesse vindo até mim nas outras vezes, tenho certeza: nunca teria me tornado amante dele.

Eu senti uma falta insana dos nossos encontros quando ele decidiu parar de me procurar — era o mais correto a se fazer, sabíamos disso. Foram sete dias longe fisicamente dele, uma semana tortuosa pra mim; no entanto, ele me enviava algumas mensagens esporádicas. E eu gostava, sentia-me um pouco mais perto dele, a saudade e a falta que massacrava meu coração pareciam diminuir um pouco. Nós tínhamos química, e isso era inegável.

Enquanto estávamos transando, nossa transa me fazia bem, me deixava leve, relaxada, entregue de uma forma que nunca me senti, como nunca me entreguei a homem algum, casual ou em relacionamentos — o que aconteceu muito pouco em toda a minha vida. Depois da transa, depois que ele ia embora, eu sentava debaixo da ducha e chorava, chorava por ter errado de novo, por não ter resistido, por estar traindo minha melhor amiga, por ser uma vadia sem coração. Mas bastava Henrique aparecer no outro dia na minha porta para todo o arrependimento se esconder no lugar mais obscuro do meu coração; e outra vez eu pecava.

Eu aguentei esse conflito interno até ontem à noite. Depois daquelas nossas mensagens durante a semana que ficamos longe, eu pensei — eu realmente pensei — significar alguma coisa para Henrique. Todavia, após nossa rodada de sexo, ele foi embora. E isso acabou comigo de modo a me deixar completamente assustada. Nunca me senti tão mal por causa de um homem.

E então eu preciso desabafar com Lívia. Não lhe contarei a verdade, claro que não, nem mesmo por vingança, eu só preciso encará-la nos olhos, contar essa história. Eu serei evasiva, não citarei nomes. Mas, no fundo, eu a quero juntando os pontos e descobrindo toda a verdade; quero-a me dando um tapa forte na cara, me jogando no chão e me estapeando por ter trepado com seu homem.

Por isso, vim procurá-la.

— Que conversa precisam terminar? — questiono-a, analisando o menu da lanchonete, evitando seu olhar. Ela dissera a Henrique que precisavam terminar uma conversa, e, quando cheguei, notei mesmo uma tensão entre eles.

Lívia já descobriu tudo?

— Ele passou a noite fora e disse para a mãe que estava comigo. Mas eu estava em casa ontem à noite, ele não apareceu. — responde, me deixando surpresa.

Olho para ela, um pouco assustada.

— Ah... E ele disse onde esteve? — pergunto, curiosa, e também amedrontada. Coloco uma mexa do meu cabelo atrás da orelha e volto a olhar o cardápio. Ele estava com você, sua vadia!, minha mente acusa.

Amante Improvável (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora