- Saco! - eu disse após um longo suspiro.
Essa sou eu, Lucy Heartfilia, e no momento estou deitada no chão do meu quarto escutando uma música qualquer e praguejando milhares de xingamentos por ser domingo a noite. Não que eu faça algo de extraordinário nos fins de semana, mas acordar cedo e aturar a escola quando se está fazendo o 3° ano do colegial não me parece mais convidativo do que ficar em casa com minhas músicas, principalmente quando é de mim que estamos falando.
Eu não diria que sou o tipo de menina intelectual e anti-social, na verdade eu tenho muitos amigos e meu relacionamento com os estudos não é lá essas coisas. Mas isso também não significa que eu me encaixo nos populares, que são o conjunto de jogadores de basquete e as líderes de torcida. Eu e meus amigos estamos mais para..."insignificantes", não fazemos parte de nenhum desses grupinhos escolares então apenas existismos. Apesar disso ninguém nos incomoda, além do mais quem seria corajoso o suficiente para enfrentar a Erza? Nem o Jellal tem esse privilégio.
Ou seja em um resumo total a escola em si não atrai meu interesse.
Depois de constatar que o chão não era um lugar muito confortável para ficar durante muito tempo decido me levantar, além do mais meu celular está quase morrendo, teria que o conectar no carregador.
Assim que me levanto e direciono meu olhar para a janela em frente ao meu quarto vejo ele, sim ele, meu vizinho Natsu Dragneel. Ele estava na sua escrivaninha como de costume, provavelmente resolvendo algo sobre os próximos jogos. Assim que me vê abre seu costumeiro sorriso, me fazendo derreter com esse simples ato.
Natsu se tornou meu vizinho há uns 4 ou 5 anos, ainda tínhamos 13 anos na época, ocupando o quarto a frente do meu na casa ao lado. Desde a primeira vez que nos vimos nos demos super bem e nos tornamos amigos muito rápido, sempre íamos na casa um do outro para ver desenhos, filmes ou até mesmo se entupir de besteiras enquanto jogávamos um jogo qualquer.
Nós éramos quase como irmãos, cantávamos tudo um pro outro e estávamos sempre juntos, e a essa altura eu já estava perdidamente apaixonada por ele. Foi assim por um longo tempo, mas de repente as coisas começaram a mudar, Natsu não estava mais como de costume, me evitava muito, principalmente na escola, e toda vez que eu o chamava para os nossos programas de sábado a noite, sempre havia uma desculpa diferente. Com o tempo fui parando de insistir, aquilo estava me magoando muito, ele era meu melhor amigo, apesar de eu não o enxergar dessa maneira. Nunca perdemos totalmente o contato, afinal ele mora na casa ao lado da minha, por mais que queira evitar, iriamos nos ver de alguma forma.
E tem sido assim durante esses últimos dois anos, somente um "oi, tudo bem?" ou um "até mais pequena", pouco contato visual e no máximo um aceno.
Retribui seu sorriso e ele pegou o caderno de desenho que está sempre com ele, escreveu algo nele com um canetão azul então virou o caderno fazendo com que eu lesse o que tinha escrito.
O que estava fazendo no chão?
Fiz uma careta e o mesmo riu, peguei também meu caderno e com um canetão preto escrevi:
Somente esfriando a cabeça.
Ele fez uma careta e logo voltou a escrever outra frase.
Esse tipo de conversa foi uma das poucas coisas que eu consegui manter da nossa antiga amizade. Na época nenhum do dois tinha um celular pra trocar torpedos durante a noite, então inventamos nosso próprio meio de comunicação, e mesmo tendo celulares hoje em dia, preferimos manter o costume, talvez por lembrar os velhos tempos ou coisa assim.
Problemas?
Ele escreveu com a feição um pouco preocupada, o respondi com a simples frase:
Nada de mais, o de sempre.
Eu virei o caderno soltando um suspiro meio cansado. Ele iria escrever algo, mas foi interrompido por alguém o chamando, já que se virou na direção da porta. Após isso se voltou para o caderno e escreveu:
Desculpe, preciso ir, boa noite pequena.
E o respondi:
Tudo bem, boa noite.
Então ele aguardou o caderno, acenou e logo depois fechou as cortinas negras, tampando a janela pelo lado de dentro.
Eu meio que já estava acostumada com isso, é sempre a mesma coisa. Não tinha muito assunto já que não conviviamos muito um com o outro, então trocávamos algumas frases sem importância, o assunto acabava ou alguém o chamava e ele só me respondia com um: boa noite.
Abri a gaveta da minha escrivaninha para guardar o caderno na mesma, mas algo me chamou a atenção. No meio da minha "mini" bagunça havia uma folha do meu caderno de desenho dobrada, eu sei disso por que meu caderno é provavelmente o único que tem folhas coloridas, o que é um pouco estranho de primeira. A retirei dali desdobrando a mesma e arregalando os olhos assim que li o que estava escrito nela:
Eu amo você.
Na mesma hora tratei de colocá-la quase que intocada no mesmo lugar, e sentido um enorme vazio no peito ao lembrar do por que eu ter escrito aquela frase.
Foi um pouco antes do Natsu começar a se afastar de mim, estávamos conversando altas horas da noite "pelo caderno" como sempre, nesse dia tinha decidido que iria me declarar pra ele, e no meio daquela conversa julguei ser o momento prefeito.
Com as mãos trêmulas, a respiração descompassada e o coração a mil escrevi aquelas palavras do melhor jeito que consegui. Com o rosto extremamente corado e respirando fundo olhei pra ele, que me encarava de forma confusa, eu diria até cômica se não fosse pela vergonha. Enquanto eu tentava me acalmar ele se virou em direção a porta, provavelmente levando um sermão por estar acordado até tão tarde, e quando finalmente criei coragem para virar o caderno o mesmo não estava mais lá e suas cortinas haviam sido fechadas.
O mesmo saiu tão apressado que nem se despediu de mim, ou eu estava concentrada demais em tentar controlar meu coração para prestar atenção. Fiquei olhando aquela janela por algum tempo com cara de idiota, afinal todo o meu esforço no final não serviu de nada. Após um longo suspiro e uma olhada no relógio decidi ir dormir, decidida a mostrar o caderno no dia seguinte.
Mas nunca consegui, pois a partir daí o mesmo foi se distanciando, diminuindo cada vez mais o resto da confiança que eu tinha, fazendo com que eu arrancasse a folha do caderno. Depois de muito pensar decidi guardar caso as coisas melhorassem com o tempo, o que definitivamente não aconteceu.
Fechei a gaveta com certa brutalidade, olhando para o lado em seguida, com tudo isso acabei me esquecendo de colocar meu celular no carregador.
Assim que o conecto o deixo desligado mesmo, em seguida vestindo um pijama qualquer, fecho minhas cortinas e vou me deitar. Apesar de não estar tarde já estava com um pouco de sono, então só aproveitei pra dormir um pouco mais cedo, amanhã começa tudo de novo.
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You Belong With Me
FanficAs vezes me pego observando descaradamente sua janela, apenas esperando o momento em que aquelas cortinas negras se abram, revelando aqueles olhos ônix que sempre me hipnotizam. Não sei exatamente em que momento desses cinco anos eu me tornei uma bo...