Capítulo 7

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        Natsu 
 
- É melhor a gente entrar, se continuarmos aqui vamos pegar um resfriado. - eu disse, mas na verdade eu queria ficar ali com ela o dia todo.
 
- Tem razão, acho que já fizemos bagunça o suficiente por hoje. - disse rindo.
 
     Nós dois estávamos completamente encharcados, o porquê? Bem, apesar da idade nenhum de nós tem muita maturidade quando se trata de brincadeiras, e chuva na mente de alguém como nós não pode ser simplesmente uma chuva.
 Bastou alguns minutos debaixo do meu guarda-chuva e um simples empurrão para começar um pega-pega no meio daquele temporal. O resultado de tudo isso foi a corrida até a rua das nossas casas, ficar totalmente molhados e a perda do meu guarda-chuva, o qual não faço ideia de onde deixei. 
Ríamos muito enquanto corríamos um atrás do outro. Meu sorriso ficava maior a cada vez que conseguia a alcançar e lhe enchia de cócegas enquanto escutava sua risada. Meus momentos com ela eram sempre assim, divertidos e felizes, não havia frescura por algumas vezes cairmos em uma poça d'água ou ficarmos sujos de lama, parecíamos duas crianças brincando, e isso era bom.
 
     A chuva ainda era forte, mas não o suficiente pra estragar nossas risadas pelo acontecido. Andamos cada um em direção a porta de casa, nos viramos antes de entrar e eu disse.
 
- Te vejo amanhã, no jantar? - podia até não parecer mas eu gostei dessa ideia do meu pai.
 
- Nos vemos amanhã. - ela me respondeu, eu já havia aberto a porta quando ela continuou. - Natsu, Lissana está de volta.
 
     Ela entrou em casa e eu fiquei paralisado pela notícia. Ela voltou? E agora? Ela vai me matar.
 Não me entendam mal, Lissana é muito minha amiga, tanto que ela é a única garota pra qual eu contei o que sinto pela Luce. Como homem eu precisava de uma opinião do ponto de vista feminino, e no momento ela era a pessoa que eu mais confiava. Ela me ajudou muito, tanto que depois que ela foi embora eu fiquei perdido e sem saber o que fazer, e acabei fazendo o que eu achava melhor e não o que deveria ser feito. Quando ela descobrir que eu me afastei da Luce ela vai querer me matar, e se ela souber que eu fiz ela sofrer, do jeito que é super protetora ela vai ficar pior do que a Erza.
 
     Um arrepio passou pela minha espinha. Nada que eu não mereça passar pra ser sincero.  
Entro em casa e meu pai está descendo as escadas, quando me vê arregala os olhos e começa a rir, sério isso?
 
- O que é isso? Por acaso tomou um caldo foi? - disse rindo enquanto eu estava parado na porta com cara de tédio. 
 
- Será que dá pra parar de rir e me dar uma toalha? Ou quer que eu entre assim mesmo e molhe tudo pela frente? - eu disse e ele foi pra lavanderia ainda rindo pra buscar uma toalha.
 
- Toma, agora falando sério, como foi que você acabou assim, molhado e sujo de terra? Você não tinha levado um guarda-chuva hoje pela manhã? - credo, uma pergunta de cada vez.
 
- Tinha pai, mas no meio do caminho acabei perdendo ele enquanto corria atrás da Luce. - eu expliquei e ele parece ter ficado mais confuso ainda.
 
- Pode me dizer por que estava correndo atrás da Lucy? - ele perguntou.
 
- Pega-pega. - eu disse simplesmente
 
- Isso é sério? - ele me perguntou segurando a risada e eu assenti. - Vocês dois não tem jeito mesmo.
 
     Me sequei, subi pra tomar um banho quente e tirar essa roupa molhada, o que foi um saco pra tirar, por que estavam pesadas e grudadas no corpo.
 
     ...
 
     Eu confesso, estou nervoso, e sinceramente não entendo o por quê.
 Já havia me arrumado e estava no meu quarto tentando me acalmar enquanto meu pai estava na cozinha todo alegre preparando o jantar. Na noite anterior, enquanto conversava com Luce pelo caderno a perguntei se viria mesmo, fiquei muito feliz quando ela disse que sim, mas uma onda de nervosismo e ansiedade me invadiu.
 Estou quase me acalmando quando escuto a campainha tocar e meu corpo todo estremece. Calma Natsu, é só a Luce, respira não vai dar nada errado.
 
     Desço as escadas calmamente e quando abro a porta um sorriso imenso se abre em meu rosto, ela está linda. Com um vestido branco e sandálias.
 
- B-Boa noite Luce. - droga por que eu estou gaguejando?
 
- B-Boa Noite Natsu. - ela também gagueja, está corada assim como eu, fofa.
    
- Lucy! que bom que veio, como vai? - meu pai chega me salvando.
 
- Vou bem, obrigada pelo convite Tio Igneel. - ela diz com um sorriso enquanto eu fecho a porta.
 
- Que nada, você já é de casa, pode vir quando quiser. - meu pai diz e a abraça sendo retribuído por ela.  - E então, vamos jantar?
 
     Assentimos e fomos pra cozinha. Meu pai se superou, fez um verdadeiro banquete, isso tudo é pra Luce? Por que se for eu vou trazer ela aqui todos os dias.
 Pensei que comeríamos em silêncio e o clima ficaria tenso, mas não foi bem assim. Risadas eram ouvidas por toda a casa, lembranças boas eram postas a mesa e o clima feliz e descontraído pairava no ar.
 
- Então Lucy, o que pretende fazer quando esse ano acabar? - meu pai pergunta após as risadas terem cessado.
 
- Com certeza jornalismo, essa é a área que mais me interessa no momento. - ela diz e não me surpreendo, ela tem essa ideia na cabeça há um tempo, e eu apoio, ela leva jeito pra isso, é a cara dela.
 
- É bom que pense no futuro, ao contrário de certas pessoas sabe? - meu pai diz sussurrando e olhando discretamente pra mim, o que arranca uma risada da Luce.
 
- Pai, eu penso no futuro, só não me decidi ainda. - respondi meio emburrado com a situação em que meu pai me colocou. Mas me surpreendo ao sentir a mão da Luce acariciar a minha, ela olha pra mim e abre um sorriso dizendo.
 
- Não precisa ter pressa, tudo tem seu tempo. Logo vai encontrar o que mais combina com você, e independente do que for iremos te apoiar, não é? - ela olhou pro meu pai quando disse a última parte, o mesmo estava com um sorriso, apenas observando tudo.
 
- Ela está certa filho, estamos aqui pro que der e vier. - apenas assinto feliz e a olho com um sorriso apaixonado sussurrando um obrigado.
 
    O jantar foi resumido em diversão e após ajudarmos meu pai a tirar a mesa decidimos ir pra sala jogar algo. Durante algum tempo jogamos Just Dance, e a maior pontuação foi do meu pai, acredita? Jogamos alguns jogos de Kinect e até fizemos um partida de truco, tendo como vencedora a Luce, que nos deixou no chinelo. 
Já era quase meia noite quando terminamos de ver um filme de comédia e percebi que ela estava meio sonolenta, bocejando várias vezes com a cabeça encostada no meu ombro.
 
- Acho melhor eu ir, já está tarde e vocês também devem estar cansados. - ela disse se levantando do sofá e nós também nos levantamos. - obrigado mais uma vez, eu me diverti muito hoje, estava com saudades disso.
 
- Volte quando quiser e iremos repetir a dose - diz meu pai a abraçando de novo. - Vê se não some norinha.
 
- PAI!! - eu disse o repreendendo e o mesmo riu.
 
- Desculpa saiu sem querer. - ele disse. Sem querer querendo né pai?
 
- T-Tudo Bem. - disse Luce, ela não estava tão corada quanto eu mas parecia bem sem graça. Obrigada pai.
 
- Bom Natsu leve a Lucy até a porta da casa dela, ela pode morar ao lado, mas já está tarde. - meu pai também não perde uma.
 
     Apenas assinto ainda corado e a acompanho até a porta. Assim que saí de lá me permiti acalmar um pouco e dizer.
 
- Desculpa pelo meu pai, você sabe como ele adora me provocar. - eu disse coçando a nuca e ela deu uma pequena risada.
 
- Não tem problema, conheço bem o Tio Igneel, sei do que ele é capaz. - diz com um sorriso.
 
     Nossas casas são praticamente grudadas, o que fez nossa caminhada ser mais do que rápida. A levo até a porta e espero que entre pra ir embora, mas sou surpreendido por um beijo caloroso na bochecha.
 
- Obrigada mesmo Natsu, foi uma noite maravilhosa. - diz com um sorriso radiante e um brilho diferente nos olhos que me hipnotizou - Já fazia um tempo que não fazíamos esse tipo de coisa não é?
 
     Seu olhar se entristeceu por segundos e a culpa voltou a me atingir. Sei que ela está se referindo ao meu distanciamento repentino, apesar de parecer que ela tenha se acostumado eu ainda sinto que ela ainda está magoada, mesmo que pouco, mas está.
 
- Verdade, já faz algum tempo. Eu também adorei ter sua companhia hoje. É como meu pai disse, é só vir e e vamos repetir a dose. -  naquele momento eu tentei reprimir o que iria dizer, mas diante daqueles olhos eu acabei cedendo. - Luce, sei que tenho ficado bastante tempo afastado, me desculpa por isso, prometo tentar melhorar essa questão daqui pra frente.
 
     No começo ela fica surpresa com as minhas palavras, mas depois parece ter se lembrado de algo e o brilho em seus olhos some completamente, deixando o seu olhar triste. 
 Sou novamente surpreendido por suas ações quando ela me abraça fortemente me fazendo corar um pouco. Retribuo o mesmo colocando minha cabeça na volta de seu pescoço, inalando seu cheiro doce enquanto sinto a mesma me apertar mais ainda contra si.
 
- Só não...me abandona, não sei se conseguiria ficar longe de você. - ela sussura contra meu peito me deixando surpreso e principalmente feliz.
 
- Não se preocupe, eu nunca abandonaria você. - disse corado, porém um pouco triste por já ter feito o que prometi não fazer. Nos soltamos algum tempo depois, e assim que ela se afastou me veio um vazio juntamente com um frio. Ela me transmitia calor, mas infelizmente, não podíamos ficar assim pra sempre.
 
- Tchau Natsu, até mais. - disse pra mim e mesmo um pouco hesitante a respondi.
 
- Tchau, até. - disse a dando um beijo na testa e vendo a mesma sorrir e entrar acenando uma última vez.
 Giro os calcanhares indo embora enquanto a brisa gélida da noite batia contra meu rosto bagunçando ainda mais o meus cabelos. Entro em casa percebendo nada mais que o silêncio, meu pai com certeza já deve ter ido dormir, eu demorei tanto assim? 
Subo calmamente as escadas, entro no meu quarto e depois de vestir algo mais confortável pra dormir vou direto pra cama apagando as luzes. O silêncio e a escuridão predominavam na casa, a noite já havia caído há um tempo e agora provavelmente já era de madrugada.
 Eu estava deitado com um braço sobre os olhos e o outro esticado no colchão, meu sorriso era de rasgar o rosto, a felicidade enchia meu peito enquanto sentia o mesmo se aquecer um pouco acelerado.
 
     Em certo momento me pego lembrando da frase que disse a ela mais cedo.
 
     "Luce, sei que tenho ficado bastante tempo afastado, me desculpa por isso, prometo tentar melhorar essa questão daqui pra frente."
 
     Pensando bem, foi bom eu ter dito aquilo. Eu já fiquei tempo demais tentando desfazer o impossível, sempre me escondendo e ocultando os problemas, esperando eles se resolverem sozinhos. Pra mim chega, não quero mais tentar lutar contra algo que não consigo, quero voltar a ser o antigo Natsu, ou pelo menos tentar.
 
     Com esses pensamentos adormeço, decidido a mudar as rédeas da situação. É como dizem.
 
Se não pode contra eles, junte-se a eles.

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