Capítulo 9

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        Lucy
 
  "Escute, se ganharmos hoje, quero que me de um beijo."
 
     Por mais que eu tente, eu  não consigo tirar essa frase da minha cabeça. Ele podia estar falando de um beijo na bochecha, um beijo de amigos, mas pra mim não pareceu isso. Não que eu não queira beija-lo, eu quero isso desde que era mais nova, mas é que isso me deixou um pouco confusa.
 
     Mesmo estando muito envergonhada eu não vou deixar de torcer por ele. Como fiquei no clube de literatura pra ajudar a Lissana eu perdi a noção do tempo e só percebi quando todos já tinham ido para o Ginásio, e faltava pouco tempo pro início do jogo. Eu nunca corri tanto, eu não tenho preparo físico pra esse tipo de coisa, o que fez com que eu demorasse um pouco mais a chegar aqui. Eu não iria jogar todo esse esforço fora pelo meu rosto vermelho e o coração acelerado, não mesmo.
 
      Sua blusa fica bem maior em mim, nem parece que somos quase da mesma altura. Cubro minhas mãos com as mangas da blusa e levo ao meu rosto, tem o cheiro dele, e apesar de estarmos em pleno verão, eu não me sinto desconfortável com ela.
 
     Alguns minutos depois do apito ser soado posso ver entre a multidão três desesperadas a minha procura. Me limito a simplesmente levantar o braço, mesmo se eu gritasse elas não seriam capazes de me ouvir. Juvia é a primeira a me ver e segue em minha direção na frente de Erza e Levy enquanto driblam todas as pessoas no caminho.
 
- Essa foi por pouco, achei que não iria chegar a tempo -  Juvia disse ao se sentar do meu lado, sorte que eu consegui guardar lugar pra elas.
 
- Por que demoraram tanto? - eu perguntei a elas e a Erza me olhou feio.
 
- Por sua culpa! - pera, que?
 
- Minha culpa? O que foi que eu fiz? - Levy deu uma risada, colocou a mão no ombro da Erza e disse:
 
- Menos Erza. É que antes de virmos pra cá nós fomos ao seu clube te procurar, mas quando chegamos disseram que você já tinha saído, isso deixou a Erza um pouquinho zangada. - disse dando um sorriso juntamente da Juvia.
 
- Sinto muito Erza, mas eu também saí de lá as pressas, como estava atrasada achei que vocês já estariam aqui. - ela suspirou e deu um sorriso.
 
- Ok, mas você me deve um pedaço de bolo de morango. - Assenti, mas antes de voltar a atenção para o jogo Juvia me olha meio sugestiva e eu fico sem entender.
 
- Aliás, agora que eu reparei Lucy, porque você está vestindo a blusa do Natsu? - perguntou Juvia, fazendo as outras duas me olharem do mesmo jeito.
 
- C-Como é que você sabe que essa blusa é do Natsu? - elas desfizeram o sorriso e me encararam incrédulas. 
 
- Lucy, primeiro que essa blusa faz parte do uniforme do time de basquete, e segundo, o bordado do nome dele está bem chamativo aí na frente, não percebeu isso? - é mesmo? eu nem notei isso, acho que é pelo o que aconteceu.
 
- Luuucy, por que você ficou corada assim do nada? - Levy me pergunta e só aí percebo que minhas bochechas estão um pouco quentes.
 
- P-Pode parar com esses seus pensamentos. - ela riu e Juvia voltou a perguntar.
 
- Você ainda não respondeu a minha pergunta pergunta. - dei um suspiro espantando o rubor.
 
- Ele só me pediu pra tomar conta dela antes do jogo começar. - disse a verdade, elas são minhas amigas, mas eu não pretendo falar sobre o beijo por enquanto.
 
- Ora, pensei que tivesse se atrasado. - Erza me olhou meio desconfiada.
 
- E isso realmente aconteceu, eu vim correndo e por sorte ele estava prestes a entrar. - acho que consegui passar convicção, Erza e Levy deram de ombro, mas Juvia me olhou um pouco e depois sussurrou no meu ouvido.
 
- A mim você não engana, quero que me diga o que realmente aconteceu quando formos hoje a noite a pizzaria. - apenas dei um suspiro e assenti. Juvia e eu somos mais apegadas uma a outra, ela sempre sabe quando estou mentindo ou escondendo alguma coisa.
 
Aproveitei que estava no fundo e me encolhi um pouco mais levando as mangas de sua blusa mais uma vez próximas ao meu rosto, inalando o cheiro que eu tanto gosto.
 
  De longe se podia ver o sorriso em seu rosto enquanto corria de um lado para o outro driblando e arremessando, estava feliz, somente pelo fato de estar fazendo o que gosta, isso fez eu me sentir nostálgica.
 
  "Eu estava sentada na arquibancada esperando o treino do Natsu acabar, faziam umas três ou quatro semanas que ele havia entrado oficialmente no time, e por entrar no meio do ano os treinos eram um pouco mais intensos.
 
  Normalmente as garotas me acompanham quando venho ver os treinos, mas ao contrário de mim elas fazem parte de clubes esportivos e também treinam durante alguns dias na semana. Como cada uma delas faz parte de um clube diferente, os treinos não caem no mesmo dia, e pelo menos uma delas fica me fazendo companhia. Que azar o meu, dessa vez não foi assim.
 
  Após o final do treino eu ainda espero alguns minutos por que o Natsu vai pro vestiário, as vezes ele parece uma noiva de tanto que demora.
 
- Pensei que não iria me esperar. - disse sentando ao meu lado com o cabelo um pouco úmido. O cabelo dele fica fofo assim, molhado.
 
- Se demorasse mais um pouco eu não iria. - fingi estar brava e ele disse:
 
- Foi mal, perdi a noção do tempo. - ele tentou me abraçar mas eu me esquivei - Ah, vai ficar brava comigo?
 
  Não o respondi e segundos depois me arrependi amargamente.
 
- N-N-Natsu hahahaha, p-p-para. - era eu quem estava sentindo cócegas, mas ele era quem mais ria.
 
- Vai me perdoar ou não vai? -  assenti freneticamente mas ele não parou - Diga.
 
- T-Tudo b-bem haha, eu te p-perdoo. - enfim as cócegas cessaram e eu pude recuperar o ar perdido - Se prepara, vai ter volta.
 
- Só quero ver. - sorrimos um para o outro e escutamos ao longe.
 
- É o amoooor, que mexe com minha cabeça e me deixa assim! - eram nossos amigos saindo do vestiário masculino e cantando em coro só pra nos matar de vergonha.
 
- Vão se lascar idiotas! - Natsu grita os repreendendo, mas com um sorriso no rosto.
 
   Nos despedimos do pessoal e fomos pras nossas casas enquanto fazíamos uma corrida. Está bem óbvio quem ganhou né?
 
- Não dá, eu não consigo vencer nem você, imagina a Levy? - disse tirando sarro com a cara dele e ouvi um "Ei!" - Natsu, você não se sente...inseguro?
 
- Sobre... - voltamos a andar lado a lado na calçada.
 
- Os jogos. Digo, por você entrar a pouco tempo e em breve ter que competir, acha que consegue? - eu não quis ser indelicada e nem dizer que ele não é capaz, mas não preciso dizer isso a ele, ele me entende perfeitamente.
 
- Bom, é por essas e outras razões que eu estou dando o melhor de mim. Não vou mentir, os treinos acabam comigo, principalmente por eu ser iniciante, mas é necessário. - murmurei e ele continuou - Estamos fazendo o possível para ganhar, e acredite, se conseguirmos eu vou ficar muito feliz. Mas se caso perdermos...vamos melhorar e nos esforçar mais na próxima. Mas mesmo assim eu vou continuar feliz, sabe o por quê?
 
  Neguei e ele parou na minha frente e disse me olhando nos olhos.
 
- Por que é o que eu gosto de fazer! E não tem nada melhor do que a sensação de estar fazendo algo que lhe agrada. Nessas horas, seja vitória ou derrota, não faz diferença alguma. - ele sorriu abertamente me fazendo retribuir com um maior ainda. Pegou minha mão e disse - Maratona de filmes lá em casa?
 
- Só você fazer aquela pipoca doce - disse enquanto começava a me puxar pra perto da sua casa.
 
- Agora sim! - disse rindo e eu também. Logo fomos fazer nossas maratonas e jogos como qualquer outra vez que fizemos isso desde que nos conhecemos. "
 
   Na semana seguinte eles acabaram perdendo contra a Phantom Lord, e dito e feito o sorriso no rosto do Natsu não diminuiu. A alegria de estar em campo e a empolgação por estar em sua primeira partida eram muito mais fortes que a derrota que sofreram naquele dia.
 
   Não é bom subestimar o adversário, principalmente se eles forem da Oracion Seis. O placar está bem apertado, mas não a nenhuma tensão entre os jogadores. Não entendo muito de basquete, algumas coisas Natsu me ensinou e outras eu acabei aprendendo sozinha enquanto acompanhava os jogos.
 
  Estava pensando e, mesmo querendo muito esse beijo eu não tenho certeza se isso é uma boa ideia, afinal Minerva é namorada dele, Natsu não é do tipo que faz coisas como beijar ou ficar com outras garotas estando comprometido. E é por isso que eu estou tão confusa, por um lado ele disse sobre um simples beijo na bochecha, como amigos fazem. E por outro lado a maneira como ele disse essa frase no meu ouvido, me parecia que ele queria aquilo, um beijo de verdade.
Mas e agora, oque eu faço?
 
  ...
 
   - Respira, calma, é só fazer o que esteve planejando. - o que eu estou fazendo? Simples, tentando acalmar cada uma das minhas células ainda desesperadas pelo resultado do placar há alguns minutos.
 
   Todos na vida tem o seu famoso momento clichê, mas o meu tinha que ser logo hoje? 
Após confirmar a certeza que todos tinham em relação ao jogo aqui estou eu, próxima a saída do vestiário masculino esperando por ele depois de tanto tempo. Estou com sua blusa dobrada sobre o braço direito para o entregar assim que sair.
 
   Eu pensei bastante sobre a minha dúvida de mais cedo e tomei minha decisão, eu vou-
- Luce? - droga, isso é o bastante pra desperdiçar qualquer forma que eu utilizei pra me acalmar. - Ainda está aqui? eu pensei ser o último.
 
- Continua perdendo a noção do tempo não é? - ele deu um sorriso sem graça ao se lembrar da sua velha e repetitiva desculpa.
 
- Por aí - disse com um pequeno sorriso me encarando e fiz o mesmo até ele perguntar - Onde estão as meninas? Você esta aqui sozinha?
 
- Pois é, elas estavam aqui até pouco tempo atrás, mas foram embora assim que os meninos saíram. - ele fez uma expressão como se tivesse entendido - Toma, eu tenho que te entregar isto. - digo o dando sua blusa e o mesmo a veste na mesma hora.
 
  - Obrigada por cuidar dela pra mim - disse sorrindo pra mim. Dei um longo suspiro e tomei coragem.
 
- Natsu, sobre hoje mais cedo... - ele fez uma expressão confusa, após alguns segundos suas bochechas atingiram tons fortes de vermelho, assim como eu.
 
- O-Olha aquilo foi... - ele desviava seu olhar pra qualquer lugar do espaço onde estávamos e antes de terminar a fala o interrompi o chamando.
 
- Natsu, olha pra mim - ele me olhou um tanto acanhado e mesmo completamente vermelha o dei um pequeno sorriso.
 
   Nos encaramos por alguns segundos, me prendendo cada vez mais naqueles olhos ônix que sempre me hipnotizam. Não sei de onde ou de quem eu tirei tanta coragem, eu simplesmente desviei meu olhar de seus olhos para seu casaco por segundos, e o que veio a seguir nem eu mesma prestei muita atenção.
 
   Puxei seu casaco com cuidado em seguida esticando uma das mangas em minhas mãos, o olhei de relance e ele perecia curioso. Dei um suspiro e um pouco tremula levei o pano a altura de seus lábios, me aproximei um pouco mais e ergui minha cabeça fechando vagarosamente meus olhos finalmente o beijando. Um simples encostar de lábios, porém por cima do tecido em minhas mãos.
 
   O mesmo ficou surpreso com a minha ação e não teve reação alguma a não ser ficar vermelho e totalmente paralisado. Meu corpo havia se movido sozinho e mesmo havendo aquele casaco entre nós, foi a melhor sensação que já tive. Não consigo sentir muito além do relevo dos lábios dele, mas já muito pra mim.
 
   Na verdade a minha decisão era pedir desculpas e dizer que eu não faria isso, mas diante dele, o olhando nos olhos, eu fiz o contrário.
 
 
   Me afastei completamente envergonhada e coloquei o casaco em suas mãos. Disse algo como Parabéns pelo jogo completamente embolada, dei as costas e fui embora desejando poder correr dali.
 
 
   Enquanto ia embora não olhei para trás, e ele também não veio até mim, acho até melhor ser assim. Meu corpo e mente estão anestesiados demais pra tentar ter qualquer diálogo ou explicação, afinal eu também tenho que entender o que eu acabei de fazer.
 
   Sinto meu celular vibrar no bolso da calça e ao chegar no lado de fora da escola decido ler a mensagem recebida.
 
   Juvia
Vou te buscar às sete com Gray, esteja pronta.
 
              Beijos
 
   Tinha até me esquecido disso, pelo menos vou poder conversar com as meninas sem me preocupar em ter que enfiar minha cara em um buraco de tanta vergonha por ele estar lá, antigamente seria assim, se ele ainda saísse com a gente.
 
   Dou um suspiro ainda meio avoada e sigo pra minha casa pensando em um jeito de me distrair a noite enquanto fico de vela no meio de quatro casais.
 
 
 
 
 
 
 Parece que a noite vai ser longa.

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