Abraço

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Lucy 

Mesmo o carro não estando em alta velocidade, logo estávamos em nosso destino. Parece que quanto menos queremos estar aqui, mais precisamos estar, seja por bons ou maus motivos.

As roupas completamente pretas combinavam com os olhares melancólicos e um misto de sensações ruins. Já passavam das duas da tarde, eu e minha mãe estávamos mais uma vez em frente aquele cemitério. Virgo não ficou conosco, mas fez questão de nos trazer, deixando a volta por nossa conta.

Segurando algumas flores que minha mãe comprou no caminho pra casa suspiro profundamente, e segurando a mão da mais velha, atravesso os portões do lugar.

Túmulos, túmulos e mais túmulos. Aquele lugar era totalmente aberto pro sol, então por que parece tão frio?

Não tinha muito o que se fazer ali, colocamos a novas flores no lugar das antigas, algumas orações silenciosas e um abraço de conforto depois das lágrimas de saudade da minha mãe. Em sua lápide, a foto daquele que nos deixou tanta saudade, eu só espero que ele esteja nos vendo de onde estiver.

Era possível ver algumas pessoas visitando o túmulo de seus parentes ou conhecidos, isso era normal, afinal este lugar foi feito pra coisas assim. Mas o que mais me tocou foi um enterro feito um pouco antes de chegarmos. As pessoas estavam nada menos que desoladas, um senhor chorava descontroladamente sobre a lápide recém fechada, e um pouco mais atrás de si, uma garotinha...com os olhos opacos e provavelmente não querendo ficar nem mais um pouco ali. Várias pessoas ao redor tentavam acalmar o senhor que se recusava a se afastar por qualquer coisa. Ele parecia ser um senhor de idade, porém não tão velho.

Como estavam próximos a nós não pude evitar ouvir de uma das pessoas que o senhor precisava deixar sua esposa descansar. Então era isso, sua esposa havia morrido.

Olhava aquela cena cheia de dor, como a morte de uma só pessoa afeta a vida de tantas outras.

A garotinha que eu olhei a pouco tempo agora vinha andando em minha direção, ela usava um simples vestidinho preto e suas sapatilhas de laço. Ela se aproximou de mim sorrateiramente e deu algumas puxadas na ponta do meu vestido, pedindo silenciosamente para que eu a olhasse.

- Moça, sua vovó também foi pro céu? - perguntou em tom inocente, como se aquilo não fosse nada demais. Me abaixei na altura da pequena garotinha de cabelos castanhos, coloquei uma mecha de seus cabelos atrás de sua orelha e disse docemente:

- Não, meu pai é quem está no céu agora. - seu olhar me fez lhe dar um sorriso carinhoso.

- Meu vovô sente falta da vovó, ele diz que queria ir com ela, por que ela não o esperou? - é uma boa pergunta pra uma criança da idade dela. Por que as pessoas não esperam? Por que elas vão antes sem nem mesmo avisar?

- É uma ótima pergunta, você pode fazê-la ao papai do céu, ele sempre sabe o que faz. - a menina assentiu sem dizer nada e inesperadamente seus olhos se encheram de lágrimas.

- Eu também vou sentir falta da vovó, ela não podia ter ido embora assim. - a garotinha se desmanchou a minha frente, chorando de soluçar enqunto dizia coisas sem nexo sobre sua avó.

Ao meu lado minha mãe via a cena, com os olhos vermelhos pelo choro recente, porém com um sorriso doce nós lábios. Me lançou um pequeno sinal, que eu entendi, apertando com carinho a menina em meus braços...tentando de algum jeito a reconfortar, enquanto empedia minhas próprias lágrimas de escaparem.

- Yuna! - uma mulher muito bonita disse em tom elevado ao olhar a menina em meus braços. A pequena desfez seu abraço comigo limpando vagamente os vestígios do choro. Olhou pra mim um pouco corada e abriu um lindo sorriso.

You Belong With MeOnde histórias criam vida. Descubra agora