3ª Decisão: Verdade

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A garota se esforça para falar, mas o nervosismo não permite, fazendo com que engasgasse com suas próprias palavras. Até que finalmente...

- Boa Tarde... Mãe - Quebra a tensão que as dividiam além da porta.

    Em frente à porta da sala, a garota com as mãos trêmulas, esperava uma resposta. Catarina não queria ouvir. Ela queria simplesmente ir ao seu quarto e quando saísse tudo estivesse igual, mas não funcionava assim. Infelizmente.
    A única coisa que passava em sua cabeça é que ela tinha feito a escolha certa, mesmo entrando em uma emboscada. Contar a verdade era o que precisava, mas sabia que o que estava por vir não era nem um pouco agradável. Sua mãe agia naturalmente e, cheia de sacolas nas mãos, apenas entrou sem falar nada.

- Chegou rápido Catarina... - Afirma cínica já imaginando o que acontecera. - Houve algo na escola?

- Preciso te contar algo, mãe eu... - Interrompida.

- Quem é o garoto que te fez cabular aula Catarina? O que vocês fizeram? - Pergunta a mãe num tom frenético, porém, com certo receio do que estava por vir.

- Eu não fiz por querer, eu... Calma, garoto? - Pergunta duvidando do que acabara de ouvir, porém, sendo breve:

- Eu apenas gazeei hoje porque... Eu... Eu não sei. Eu deveria ter conversado com você. Deveria ter lhe falado que não estava bem para ir ao colégio hoje. Me perdoa, achei que atrapalharia menos apenas mantendo sigilo. - Conclui Catarina.

    Graça, sua mãe, vendo tal sinceridade, apenas a abraça e dá um tempo para ambas respirarem. A medida que o ar ficava menos denso ambas começavam a agir naturalmente, até que sua mãe, suavemente, segura seu rosto e lhe diz:

- Você só me atrapalha quando me tira de sua vida. Saiba que acredito em tudo que disse, e que se estiver mentindo eu descobrirei. Não faça mais isso, tudo bem? - Diz sua mãe numa suavidade mais que melancólica, complementando - Castigo por 1 mês cuidando de minhas roseiras e passeando com Teobaldo. Amanhã você começa.

    A garota consente, e sem demonstrar nenhuma discordância, ambas se desfazem do abraço, deixando ali apenas o sentimento de confiança.
    A mãe de Catarina, possuía em frente à sua casa, um lindo jardim de rosas brancas. Era apaixonada pela cor limpa das diversas pétalas de cada broto. Quando havia tempo, gostava de suavizar seus pensamentos enquanto as encarava, imaginando como cada tom ficaria mais branco a cada dia. Viciou-se em tê-las por perto na partida de seu pai, que antes de ir deu-lhe algumas sementes e, num longo sussurro ao seu ouvido, a disse que sempre se reencontrariam ao florescer de cada rosa.
    A noite havia chegado sem bater à porta. O céu estava escuro repleto de paz, assim como quando se fecha os olhos antes de se render ao sono. Iluminado com lindas estrelas e uma grande lua, o céu roubava a atenção do clima frio que pairava sobre tudo que ali se encontrava. O frio, pairava sobre a pele clara e fina de Catarina. Sentada na varanda de sua casa admirava tamanha imensidão que se encontrava sobre sua cabeça, acreditando haver mais do que se via, todo tempo acompanhada de seu cão.
    Teobaldo. O melhor amigo de Catarina. A garota tinha o costume de voltar a pé com seus amigos para casa. A jovem moça morava em um grande condomínio, não muito longe de seu colégio, e justamente por isso, vários de seus amigos moravam por lá também. Em uma dessas caminhadas esbarrou com uma caixa em uma esquina qualquer... que já não era mais tão qualquer assim. A caixa se movia incontrolavelmente, chamando a atenção de todos os jovens presentes. Cacá pôs-se em frente à caixa, com uma coragem jamais vista, e ao virar a caixa ganhou o melhor amigo de todos os tempos.
Repentinamente Catarina é pescada de suas lembranças por latidos incessantes de Teobaldo que, em movimentos rápidos e nervosos, dispara pelo portão de seu quintal.

- TEOBALDO... - Fora a única coisa que deu tempo de gritar antes de perdê-lo em meio a noite.

    Teobaldo nunca foi de fugir. O portão sempre ficara aberto por ser um bairro de confiança assim como seu cão. Catarina, com alguns gritos, avisara a sua mãe que iria atras de seu melhor amigo, enquanto disparava portão à fora. Algumas horas depois, a garota inconformada, volta para casa apenas com uma coleira que a ele pertencia, com os dizeres:

                   " Teobaldo,
Rua Livia Campozana, 2033,
Bairro Castelo Branco"

    Catarina decide notificar a sua Irmã e padrasto que não estavam na cidade, mas que se importavam com o membro da família da mesma forma. A garota não se contentava com o que acabara de acontecer, mas tinha aula no dia seguinte e necessitava de um sono depois do longo dia que teve. Sua mãe, igualmente abalada, havia a mandado ir se deitar, fazendo o mesmo logo em seguida.
    Estava passando por turbulências demais em um curto período de tempo, não sabia ao certo se acreditava em karma ou coisas do destino, mas sabia que aquilo tudo tinha um motivo, mesmo sem saber qual. Estava a horas deitada em sua cama, seus olhos se negavam a descansar. Sua mente incessantemente continuava a criar teorias do que havia acabado de acontecer, ou de como seu cachorro estava. Até que houve um blackout. Seu corpo havia desistido. Sem notificações. Sem indícios. Sem calma. Apenas apagou.
    A jovem finalmente voltou a superfície com os berros de seu celular na manhã do dia seguinte. Ainda desnorteada, sem saber o que acontecera, a garota põe a mão sobre os olhos indicando incomodo com a luz do sol, que iluminava cada cantinho de seu quarto.

- "Número Desconhecido" - Fora as primeiras palavras da moça ao ler o visor de seu celular, antes de por os olhos nas horas. Estava atrasada.

    Eram 6:00 horas, a garota se perguntava o porquê de sua mãe não tê-la acordado. Seu ônibus passava as 6:35, então Catarina começou a correr em direção à cozinha, na esperança de pelo menos ter algo pronto para ela. Ao chegar na cozinha encontra apenas um bilhete colado na geladeira, que logo acreditou ser de sua mãe. Era típico dela deixar recados.

    "Entendo sua posição, volte a dormir. Já comuniquei a escola o motivo de sua falta. Me ligue quando souber algo sobre Teobaldo. Há um sanduíche na geladeira.
                  - Eu te amo, Mamãe"

    O recado trouxe certo conforto a garota, mas logo passou ao lembrar de seu melhor amigo. Catarina estava disposta a começar a procurá-lo, possuía tempo de sobra graças ao favor de sua mãe. Vestiu-se rapidamente, pegou seu celular e sanduíche, mas antes mesmo que pudesse trancar a porta sente as vibrações de seu celular no bolso.

- "Número Desconhecido" - Deixa escapar novamente essas palavras.

    A garota não possuía tempo, queria ir atrás de seu melhor amigo. Queria vê-lo novamente e abraçá-lo sem ter a intenção de soltá-lo. Soltar? Uma das palavras que não era possível de se encontrar no dicionário de Catarina naquele momento, juntamente com desistir. Novamente o celular toca, e num impulso de raiva o atende:

- Quem quer que seja, estou ocupada agora. Não posso falar!!! - Diz a jovem que logo se surpreende com o que escuta logo em seguida.
- Não tenho muito tempo. Me escute. Encontre-me na rua Livia Campozana, nº 2000 as 13:40...

    Foram as ultimas palavras que Catarina ouvira antes do silêncio tomar conta da chamada. A garota fica assustada demais e logo volta para dentro. O endereço era perto. Ali mesmo no condomínio. Claro que não iria... E se fosse um sequestrador? Mas e se fosse sobre seu cão? Catarina não sabe o que fazer, mas ela acredita que quer...

( Cacá deveria arriscar-se ou não? Decida)

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