11ª Decisão: Estranhos

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    Silêncio. Era tudo que se ouvia naquela mesa de jantar. Era tudo que saía das bocas presentes naquela sala, e tudo que era dito. A verdade dói, sempre dói demais, mas é a verdade. Graça não estava com raiva, estava magoada. Arriscar-se daquela forma, era loucura demais, e sem nem consulta-lá. Catarina estava a excluindo de sua vida pouco a pouco, só ela não percebia ou, talvez, Graça desejasse participar mais do que poderia da vida de sua filha.

- Mãe, qual é? - Diz Catarina suplicando. - Eu não aguento mais esse seu silêncio torturante...
- Ah, não? - Ironiza Graça. - Pois é a esse silêncio que você me submete todo santo dia, Catarina. Eu sou obrigada a lhe ouvir bater aquela porta todos os dias, falar de saídas, dizer que já volta ou jaja tem tempo.
- Mãe... - Tenta Cacá.
- Não, filha. Dessa vez não. Eu só te pedi uma coisa, apenas uma coisa, que não me excluísse da sua vida. Eu nunca sei onde está, muito menos com quem está. - Graça começa a respirar fundo e seus olhos, incessantemente, começam a marejar. - Eu estou cansada de ser a mãe boa que deixa tudo e fica com nada. Eu vou embora, vou viajar, ficarei fora por muito tempo, pode pelo menos fingir que quer estar comigo????

    Graça não aguentou e, em alguns passos, retirou-se da sala e bateu a porta do quarto. Era incompreensível, para Catarina, o que estava acontecendo. Ela apenas estava evitando preocupa-la, mas não havia pensado em na verdade a estar privando de cuidar dela. Obviamente não iria conversar com sua mãe agora, ela estava sensível e Cacá não desejava incomoda-lá. Tudo havia ocorrido tão repentinamente, sua mãe não a deixou mais ir para a casa do pai, o dia estava mais frio e Teobaldo mais silencioso.
    Catarina se rende a situação e apenas vai para sua varanda. Admirar as estrelas era algo que respeitava e a acalmava, mas daquela vez se arrependeu. Parecia que toda aquela noite a castigava por ter magoado sua mãe, as estrelas estavam apagadas, o céu mais escuro, o clima congelante, mas nada disso a chocou mais do que veio a ver logo depois. Assim que seus olhos bateram em tamanha cena, um mar de tristeza se formou a sua frente a afogando onda por onda. As rosas, as lindas rosas Brancas de sua mãe. Cada pétala caída ao chão, machucadas e murchas, envergadas e tão tristes como aquele dia.
    Cacá aproxima-se, se ajoelha e chora. Aquelas rosas eram o coração de sua mãe, e elas transpareciam sofrimento. Foram massacradas, e isso foi uma rasteira na jovem. Catarina decide caminhar noite a fora, se desconectar de sua mãe e deixá-la respirar. Sem bilhetes, sem avisos, respirando por si só apenas mais uma vez, e assim fez. Por algumas horas andou, se é que poderia ser chamado de andar. Catarina arrastava-se pelo asfalto do condomínio, em meio a sonolência e silencio, sozinha... ou não.
    Cacá chega a uma rua que nem sabia qual o nome. Andava tão distraída que nem havia contado as ruas, não sabia de nada. Na verdade sabia sim, sabia que havia alguém no final daquela rua. Uma pessoa, era o que aparentava, e era alta. Não sabia dizer se estava olhando para ela ou de costas, mas sabia que a causava arrepios extremos. Suas pernas travaram, suas pupilas dilataram e a adrenalina correu por todo seu corpo em poucos segundos. Sua mente comandava e seu corpo não respondia. O frio congelou seus braços e o concreto agarrou seus pés.
    Um, dois, três passos. Aquela pessoa andava em direção a garota, que encontrava-se estagnada no meio da rua. Travada, não movia-se, mal respirava. Queria desmaiar, mas conseguiu conter-se, seu coração batia mais forte a cada segundo. A pessoa começou a correr mais e mais, cada vez mais perto, apenas 2 ruas de distância. Catarina começou a suar frio, seus olhos não saíram daquela pessoa por nem um segundo até começar a ter sua visão embaçada pelas lágrimas que insistiam em cair contra sua vontade. Tentou gritar e falhou, tentou correr e era impossível, então apenas ficou ali.
    Os passos eram mais altos e mais rápidos, era possível ouvir a pessoa rindo alto e maliciosamente, seu corpo e rosto estava escondidos por um casaco e capuz, respectivamente. Faltava apenas uma rua, a jovem encontrava-se ainda enraizada no asfalto, mas algo aconteceu. O desconhecido simplesmente parou, a olhou por alguns segundos e entrou na rua anterior a Catarina, sumindo de sua vista na escuridão daquela noite fria. Cacá morreu por dentro, tanta coisa passou por sua cabeça, que seu corpo apenas mergulhou numa onda semelhante a morfina, a fazendo cair de joelhos no chão.
    A garota não sentia nada. Por alguns segundo ficou ali no chão sem sentir nada, até que finalmente sentiu algo. Uma mão segurou o seu ombro a fazendo jogar-se para frente, como um reflexo imediato. Ao mesmo tempo que jogava-se para frente, olhou para trás, e um alívio sobrepôs-se sobre todo o corpo da garota. Anthony, estava ali em pé, ele estava lá com ela. Catarina não pensou duas vezes, levantou-se e o abraçou mais forte que nunca, como nunca abraçaria.

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