Capitulo Três

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Infelizmente o ser humano é obrigado a ir para uma instituição de ensino praticamente sua vida toda, para tentar ser uma pessoa inteligente. Estou tentando isso há muito tempo e espero que o resultado seja bom. Dessa vez não cheguei atrasado, sou o primeiro aluno a chegar à sala. Elisabeth, a professora, está escrevendo no quadro e nem nota a minha presença.

Um de cada vez os alunos vão chegando, até a sala ficar cheia e barulhenta. Me pego pensando em algumas coisas que quero fazer quando chegar em casa, pode me chamar de preguiçoso, mas a primeira coisa que farei é dormir, e depois comer é claro.

Tem um casal na minha sala que dá até medo. Os dois são muito chatos. Um chama o outro de apelidos "carinhosos" que envolve frutas. Moranguinho, amorinha... já ouvi ela chamando ele até de abacatezinho, eu adoro abacate, mas naquele momento que peguei nojo. Credo! É muito doce, ninguém na sala gosta de sentar perto deles. Não sei se é inveja ou é a chatice aguda dos dois. Quero que Nando arrume uma namorada fixa, mas não quero que ele fique igual ao casal doce da minha turma.

Hoje por sorte a professora meio que me esqueceu durante essa semana e não me chamou na frente para fazer qualquer coisa que seja, na verdade quem ela chamou foi Alberto o outro machão da minha turma, mas esse até que é um cara legal. O que me irrita nele é que ele é bonito, musculoso e inteligente, não dava para o universo equilibrar as coisas deixando ele burro?

Na minha outra escola tive muito desentendimento com o machão da sala, o Sebastião, ele sempre me zoava, até que um dia ele partiu para uma agressão mais física, para a minha sorte Nando apareceu e bateu muito nele, não sou a favor da violência, mas nesse dia eu fiquei muito pelo coro que o Sebastião tomou, ele nunca mais mexeu comigo, mas eu não quero ficar dependendo do irmão mais velho pelo resto da minha vida.

No terceiro horário tem educação física, e a única coisa física que quero fazer é deitar na arquibancada e dormi, mas o mundo não é perfeito, e o professor me manda escolher, ou é vôlei, ou futebol. Acabo escolhendo o vôlei pelo resto da semana que se passou, futebol não é muito a minha praia, eu até assisto, sou obrigado? Sim eu sou, mas assisto, mesmo sem entender nada, a única coisa que entendo é o gol. Vôlei que na minha cabeça parecia ser mais fácil, bom... não é o meu saque é uma tragédia e quase arranquei algumas cabeças.

Minha mãe vai voltar tarde do trabalho, então como eu ainda tenho dezesseis anos e não posso dirigir, Nando vai vir me buscar, mas acho que Nando esqueceu o caminho da minha escola. Já faz mais de uma hora que acabou a aula, daqui a pouco o sol vai se pôr e nada de Nando. Meu celular toca e vejo que recebi uma mensagem do meu querido e esquecido irmão.

Desculpe mano, mas não vai dá para ir te buscar. Estou com a Rafaela, sabe como é que é né... pega um taxi e vai direto para casa. Valeu mano"

Ótimo, agora vou ter que pegar um taxi, porque o meu irmão me trocou por uma garota que eu nem conheço. Nando ainda me provoca "sabe como é que é"... Não, eu não sei como é. Vou para um ponto de taxi mais próximo, ando pouco até acha um. Quando chego no ponto ainda tenho que esperar um aparecer, porque estava vazio.

Depois de vinte minutos aparece um taxi. Já é cinco e meia e pretendo chegar em casa antes da seis. Quando já estamos na av. Atlântica faltando quase vinte minutos para chegar em casa o transito está parado, um carro quebrado no meio da avenida e para poder seguir o caminho teríamos que ultrapassa o carro quebrado, ficamos ali por alguns minutos esperando os carros que estava na nossa frente.

- Acho que eu posso ultrapassar - diz o taxista

Deixo o taxista fazer o que tem que fazer, ainda mais por que não entendo nada que envolve carro. Volto minha atenção para o movimento fora do carro. O sinal está vermelho, vejo uma garota linda, seu cabelo preto dança como vendo, tão suave e natural, que parece que estou vendo tudo em câmera lenta, ela é baixa e caminha tão tranquila. Ela é linda, meu cérebro diz que é a mais linda que vi na minha, até então entediante e chata, vida, mas se bem que todo adolescente fala isso, mas ela é realmente muito bonita. Por coincidência a menina, que parece ser da minha idade, me olha com seus lindos olhos verde feito esmeraldas e sorri.

O taxista acelera o carro.

Na pista onde o taxista estar tentando ultrapassar a bagunça, vem um outro carro que se aproxima rápido. Tento convence o taxista a esperar o carro passar, mas o homem está determinado. O carro a cada segundo se aproxima mais, e quando finalmente chega até nós. Para não bater o taxista joga o carro para o lado e o taxi capota, uma, duas... vejo o mundo se virando, se contorcendo, os vidros rasgando minha pele, o meus ouvidos entopem com a pressão e tudo se escurece.

***

Acordo e estou em um lugar estranho, minha mãe e meu irmão estão me observando, minha mãe chora muito e meu irmão parece surpreso. Minha mãe fala algo que não consigo ouvir, apenas vejo seus lábios se mexendo. Meu irmão saiu do quarto, meus ouvidos vão ao poucos voltando ao normal até consegui escutar o que minha mãe está gritando.

- Onde... eu... estou? - pergunto meio zonzo – onde eu... estou?

- Você está no hospital Guto - aflita responde minha mãe

Nando entra com uma enfermeira. Ele me cumprimenta com a cabeça.

- Olá Gustavo... - minha mãe a interrompe

- Ele gosta de ser chamado de Guto - corrige minha mãe, e isso me pega de surpresa, que me faz sorri

- Bom... Guto, você sofreu um acidente de carro há três dias... - eu a interrompo

- Eu estou... apagado há três dias? E o taxista? - pergunto confuso

- Ele está em coma, mas agora eu quero saber como você está se sentindo.

- Eu estou ótimo

Depois de alguns médicos me examinarem, eles me mandam descansar. O médico diz para a minha mãe que eu estou ótimo e que ela poderia ir para casa, mas ela não quer ir. Ela dorme em uma poltrona que está ao meu lado. Não consigo parar de pensar no homem que entrou em coma, em como a família esta se sentindo.

Vou ter que ficar no hospital mais uns dias.

Enquanto minha mãe dorme, vou andar pelo local, me sinto ótimo, não gosto de hospital, nem de ficar parado em uma cama. O hospital parece ser de filme de terro porque ele está muito vazio, os corredores vazios, isso é assustador, ainda mais para uma pessoa como eu que não gosta/tem medo de filmes de terror. Encontro uma sala onde tem alguns brinquedos e papeis coloridos, parece ser um lugar onde crianças ficam, porque isso está uma bagunça.

- Essa é a única coisa que as crianças têm que as fazem agir normalmente outra vez - diz a enfermeira que estava no meu quarto

- Quais crianças ficam aqui?

- Todo tipo de criança que não pode sair do hospital tão cedo. Esse é o lugar onde elas podem se divertir - diz a enfermeira. Posso ver o orgulho que ela tem do seu trabalho através do brilho em seus olhos.

A médica me permite ficar por ali, mas alguns minutos. Fico tão feliz por ter saído desse acidente quase que ileso, só quebrei um braço, mas o motorista entrou em coma. O acidente aconteceu tão rápido, que não deu tempo para nada. Nunca fui de acreditar em destino ou alguma coisa relacionado a isso, mas eu acredito que exista um deus que olha por nós, e só tenho que o agradecer por ter salvado a minha vida.

Vendo aqueles brinquedos todos naquele quarto, me faz voltar a minha infância. Onde nada importava de verdade, ficar brincando era o ponto alto dos meus dias. Sinto tanta falta de não precisar me sentir responsável o tempo todo. Mas todos crescemos é a lei da vida, e não podemos mudar isso. Tive uma infância muito boa, e esse acidente me fez ver como a vida é frágil.

Volto para o meu quarto, e minha mãe ainda está dormindo toda torta na poltrona ao lado da minha cama, estou com tanta pena dela de ficar ali naquele lugar tão desconfortável. Deito-me na cama, para tentar ter uma noite de descanso.

Na minha cabeça o acidente fica indo e vindo toda hora, não consigo dormir. Esse acidente não me deixa descansar. O carro virando, os vidros se quebrando, os cacos de vidro vindo contra o meu rosto, até que finalmente eu apago. E a cena se vai, e logo depois ela volta, não sei se vou conseguir dormir outra vez. Passo a noite em claro não conseguindo nem cochilar, se eu fechar os olhos as imagens voltam e me apavoram. Prefiro passar o tempo olhando o nada, do que ver coisas que me aterrorizam.

Ao amanhecer consigo mandar minha mãe para casa, não sei o que vou fazer em um hospital para poder passar o tempo, mas uma coisa eu sei, não quero minha mãe me rondando o dia todo preocupada com o que eu estou sentindo.

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