CAPÍTULO 6

452 49 3
                                    

No segundo em que passo pelas portas duplas e entro nos corredores acarpetados da escola, a Verô me cerca.

— Desculpe! Eu sinto muito, tanto, tanto! —  pede insistentemente.

Não falo nada. Continuo andando e rangendo um pouco os dentes.

Ela anda de marcha a ré na minha frente, seu cabelo insistindo em cobrir parte do rosto. Ela o afasta dos olhos com suas unhas recém-feitas à francesinha e me encara. Ela está usando um pingente de brilhantes em uma correntinha delicada de prata.

Fico pensando se foi um presente de aniversário de namoro. Tento lembrar se ela estava com a corrente na noite passada, mas, como não cheguei nem a trinta metros dela, não tenho certeza.

— Eu perdi totalmente a noção do tempo. Eu juro que tive um troço quando finalmente olhei para o relógio. Saímos correndo para a sua casa, mas ficamos presas no trânsito. Uma carreta tinha tombado na pista, e a gente teve de dar a volta e...

Ela finalmente percebe que não estou escutando de verdade.

— O que aconteceu não é importante. Eu juro que vou fazer de tudo para consertar essa situação. — Ela para de andar e sou forçada a parar também, para não dar um encontrão.

Olho fixamente em seus olhos por um momento. Eles estão cerrados de preocupação, como se a qualquer momento eu fosse dizer que ela morreu para mim. Cruzo os braços.

— Eu mandei umas cem mensagens para você.

— Meu celular estava sem bateria.

Enrolo uma mecha do meu cabelo castanho e úmido, resistindo à vontade de simplesmente falar tudo de uma vez.

— A coisa toda foi um desastre, viu. Tudo.

Ela faz um bico com seus lábios carnudos e perfeitamente cobertos de gloss.

— Faço sua lição de Biologia por uma semana! Eu lhe empresto todas as roupas do meu guarda-roupa. Vou a qualquer show que você quiser.

Levanto uma sobrancelha.

— A qualquer show?

— A qualquer show, contanto que ninguém dê um mosh em mim, ou algo assim.

Entorto os lábios de lado e olho para ela com cara séria por um tempo. Talvez, se eu tivesse outros noventa e nove amigos, poderia dar o tratamento de silêncio para ela por um ou dois dias, mas minha resolução já está fraquejando.

Cruzo os braços.

— Jura mesmo? Você não será perdoada se não cumprir tudo, combinado?

Ela solta um suspiro comprido e lento de alívio.

— Eu juro.

— Beleza. — Descruzo os braços.

É triste ver como concordei tão rápido. Mas é claro que ela não queria ter chegado tão tarde. E estou mais brava por causa daquela festa idiota do que com ela.

— E como foi seu jantar de aniversário de namoro?

O rosto dela se ilumina.

— A comida era incrível! Eu pedi um risoto e, meu Deus, fico com água na boca só de pensar nisso. E a vista! É em Puget Sound, pertinho de Point Defiance. Eles têm um deque, só que estava fechado. Mas da janela dava para ver a água e também as barcas e os veleiros, essas coisas. Eu podia olhar para aquilo a noite inteira. E a Lauren disse a coisa mais engraçada do mundo sobre o garçom! A gente ficou rindo disso o jantar inteiro e uma hora eu literalmente cuspi a minha sopa, mas a Lauren foi uma fofa e fingiu que nem percebeu. Foi tão lindo. A gente falou sobre você também, sabia? A Lauren acha você rebelde. Foi ela quem disse, não eu.

Make Your Wish - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora