Não estou nem na metade do caminho para a escola quando já deveria estar na sala de
aula.Não consigo nem andar direito: estou confusa, meio tonta, perdida pensando nos acontecimentos bizarros da minha manhã.
Desde o meu aniversário de dezesseis anos, minha vida virou de cabeça para baixo. É um caso de antes e depois bem óbvio.
Antes: normal.
Depois: um pelotão de palhaços malucos.
Fala sério.
A Boneca Trapinho?
Chicletes de bolinha?
Um pônei rosa-shocking?
Talvez, quando eu ainda era pequena, fosse amar tudo isso. Putz, se eu soubesse que existiam pôneis daquela cor, eu teria implorado por um. Ele tinha até um sorvetinho pintado no traseiro, como o Meu Querido Pônei favorito.
Paro de repente, e meu queixo está tão caído que quase se apoia no meu All Star. É como se
todos os sons tivessem sumido de repente e o mundo todo estivesse em silêncio, a não ser pelo pulsar nos meus ouvidos. Não consigo ver nada à minha frente, porque tudo ficou meio turvo e cinza.“Eu desejo que todos os meus desejos de aniversário realmente se tornem realidade. Porque eles nunca se realizaram.”
Não.
Não, não, não.
Impossível.
Fico ali, com os olhos ainda fora de foco, respirando com tanta força que meu peito começa a estufar, como se eu tivesse acabado de correr uns três quilômetros na aula de Educação Física.
Olho para o nada, tentando relembrar os últimos anos e exatamente o que desejei quando tinha nove anos, e era obcecada por aquela porcaria de Boneca Trapinho. Foi o ano em que meu pai saiu de casa. O ano em que minha mãe ficou praticamente perdida no mundo, o ano em que meu irmão encarou o divórcio ficando na rua até tarde com os amigos e um ano antes de a Verô se mudar aqui para a cidade.
Eu não conhecia ninguém.
“Eu queria que você fosse real, Hanna. Assim, eu teria uma amiga de verdade.”
De repente, preciso me sentar, mas não tem banco por perto. Então simplesmente me sento no meio da calçada, com as pernas cruzadas, e me curvo para a frente, com a cabeça entre as mãos, os dedos nas têmporas, meu cabelo escuro e ainda molhado caindo nos meus olhos. O frio do cimento úmido encharca minha calça jeans imediatamente, mas eu nem ligo.
Isso é ridículo.
Desejos não se tornam realidade.
E bonecas não ganham vida de uma hora para outra.
A Hanna estava mesmo agindo de um jeito bem estranho, copiando minha postura e minha maneira de falar. Era como se ela não soubesse falar ou andar e estivesse tentando aprender ao me observar.
Não, não, não. Que coisa mais imbecil. Ela é um ser humano, não uma boneca.
Pisco algumas vezes, mas minha visão ainda não entra em foco. Quando eu tinha sete anos, fiquei obcecada por fazer bolas de chiclete. Será que desejei um estoque ilimitado de chiclete?
Forço meu cérebro, tentando lembrar o que fizemos no meu aniversário de sete anos. Foi meu último aniversário com meus pais juntos e que comemoramos como uma família.
Provavelmente, eu desejei alguma coisa bem boba como um monte de chiclete.
O pônei.
“Aimeudeus”, o pônei.
Com certeza, eu pedi um pônei.
Eu teria adorado se um dos Meus Queridos Pôneis fosse vivo de verdade.
Fecho os olhos por um momento em silêncio, procurando limpar minha cabeça de todos
esses pensamentos embaralhados. Eles giram tão rápido que mal posso escutálos.“Eu desejo que todos os meus desejos de aniversário realmente se tornem realidade. Porque eles nunca se realizaram.”
Não pode ser verdade.
Minha festa foi há três dias. Todo dia, um desejo novo apareceu do nada.
Primeiro o pônei, em seguida o chiclete e agora Hanna, minha Boneca Trapinho, está viva.
Isso não é possível.
Nem pensar.
Abro os olhos e encaro o concreto molhado da calçada, respirando fundo e calmamente.
Tem uma formiga andando no meio-fio à minha frente, mas estou tão confusa que nem me mexo quando ela começa a escalar meu All Star — hoje, estou usando um amarelo, e com a ponta toda rabiscada de quando fiquei de saco cheio na aula de História.
Poderia existir uma explicação lógica para tudo isso, certo? Como se alguém tivesse ouvido o que eu disse na festa e estivesse tirando uma com a minha cara. Talvez meu irmão e os amigos dele tenham se juntado porque não tinham muito o que fazer, e essa palhaçada toda é o máximo.
Mas espera aí... Será que desejei em voz alta?
Não, eu só pensei no meu desejo.
Além disso, mesmo que eu esteja errada e tenha desejado em voz alta mesmo, como é que alguém poderia programar tudo isso em tão pouco tempo?
Como é que alguém poderia encontrar um pônei e pintá-lo de rosa e jogar o bicho no meu jardim em menos de doze horas?
Fora ter essa tinta à mão para mudar a cor do bicho... Então como é que o meu irmão, que tem o cérebro do tamanho de uma ervilha, conseguiria orquestrar alguma coisa tão maluca?
E como é que a Hanna sabia de tudo aquilo sobre mim?
E, ainda por cima, Shawn não estava escondido nos arbustos para ver se seu planinho havia
dado certo. Não faz sentido pregar uma peça em alguém sem estar por perto para ver a pessoa se ferrar.E como alguém poderia gastar tudo aquilo de dinheiro em chiclete?
É claro que o verdadeiro beijo da morte para essa minha teoria é que nunca falei sobre esses desejos para ninguém. Meu irmão — e, até onde eu sei, qualquer outra pessoa — não poderia saber que eu desejei que a Hanna se tornasse uma menina de verdade e fosse a minha melhor amiga.
Eu me levanto da calçada e volto para casa.
Preciso falar com a Hanna.
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Make Your Wish - Camren
Fiksi Penggemar(Concluída) Camila Cabello está tendo o pior aniversário de dezesseis anos da história! E não é só porque ela é diferente. Fica difícil se divertir quando você está apaixonada pela namorada da sua melhor amiga. Na hora de assoprar as velinhas, Cami...