CAPÍTULO 31

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Durante o dia seguinte inteiro na escola, Verô ainda se recusa a falar comigo.

Passo minha hora de almoço na sala escura, tentando revelar as fotos para o trabalho, mas estou distraída demais para fazer qualquer coisa que preste.

Quando o sinal toca, vou para o banheiro grande, no fim do corredor; minha mochila lotada e bagunçada no meu ombro.

Abro a porta com tudo e, quando ela ricocheteia na parede, a menina próxima à pia dá um pulo no ar e olha para mim.

Eu paro.

É a Becky.

Mas... não é.

Seu rosto está... todo estourado.

Tipo, totalmente coberto de acne.

A superlotação de espinhas começa na testa, e desce pelo nariz, e se espalha pelo queixo e pelas bochechas.

O que foi que ela fez? Cobriu o rosto de chocolate e foi dormir?

Ela me vê encarando seu rosto e seus olhos se estreitam, até virarem dois tracinhos cheios de ódio, mas o efeito não é lá essas coisas, porque há lágrimas escorrendo pelo seu rosto. Assim, eu sei que a ira dela foi domada.

É tão estranho ver a Becky... bom... feia.

Nunca havia visto uma espinha sequer no rosto dela, nunca. Quero dizer, a Verô vinha brigando contra a acne havia anos, mas a Becky?

Meu Deus!

Eu congelo na metade do caminho até a porta do sanitário, e então olho para ela de novo.

É um desejo!

Finalmente um desejo legal!

Observo a quantidade de espinhas que cobrem o rosto dela, escondendo sua beleza perfeita, e metade de mim quer pular de alegria, enquanto a outra metade está triste e arrasada; ou seja, não dá para entender.

É que a Becky é malvada e merece tudo o que está acontecendo com ela.

Agora me lembro desse desejo.

A gente tinha doze anos, a acne da Verô estava com força total. Pelo jeito, como ela teve peito cedo, também ganhou a acne de lambuja.

A Becky estava aperfeiçoando suas táticas de menina malvada naquela época e, pelos próximos anos, faria a Verô cair no choro várias vezes.

E ela foi falar um monte de porcaria para a Verô em um dos meus aniversários, porque, quando ela chegou à minha casa para comer bolo e sair com a minha família, os olhos dela estavam vermelhos e inchados.

A Becky tinha ferido tanto os sentimentos da Verô que ela passou a primeira hora da minha festinha fungando.

Então eu desejei que a Becky soubesse como é sofrer por alguma coisa que a gente não consegue controlar, para que todo mundo visse e então a julgasse e tirasse uma com a cara dela.

— Ah — digo. As palavras parecem longas demais, ecoando pelas paredes do banheiro. — Hum, sinto muito.

Ela não sabe o porquê da minha desculpa, mas não consigo segurar essas palavras. Porque parte de mim sente muito mesmo.

A dor em seus olhos é tão real quanto a da Verô naquela época. Ou nesses anos todos.

— Até parece — responde Becky ao se virar para encarar seu reflexo de novo.

— Não, falando sério, isso é um saco mesmo.

Beleza. Boca, dá para ficar calada?

Becky pisca algumas vezes, para limpar as lágrimas dos olhos.

Make Your Wish - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora