CAPÍTULO 21

350 43 4
                                    

Quando a Verô vem falar comigo no dia seguinte na escola, tudo o que consigo fazer é olhar para ela.

Mesmo a uns cinco metros de distância, posso ver que ela está usando rímel mais escuro que o normal, e que os cantinhos de seus olhos estão esfumados com lápis de olho. Seu cabelo está cacheado de novo, e ela está vestindo uma minissaia jeans com cara de surrada e - tenho de admitir - muito fofa, com uma blusa preta com gola V e uma blusinha de cetim azul por baixo. Ela também está usando botas - um par diferente daquele da semana passada. As botas são pretas, com tirinhas que fazem um zigue-zague na frente.

No ano passado, ela se vestia mais ou menos como eu, com um monte de moletons com capuz e calça jeans, e quase sempre usava All Star. E não é que eu esperasse que ela viesse me consultar antes de ir às compras para a volta às aulas, mas é meio... esquisito.

Vê-la se transformando bem na minha frente e não poder falar nada, nem chamar a atenção dela.

Estou sentada no banco do corredor, que mais parece um cubo, folheando meu livro de Biologia. Tem prova amanhã e não consigo absorver nada do capítulo que estou lendo.

Provavelmente, tem a ver com o fato de eu estar me inclinando para a frente, para tentar esconder meus peitos gigantescos.

Não posso nem cruzar os braços - isso só os deixa maiores.

Apertar os dois juntos também não é uma boa ideia.

Passei dezesseis minutos hoje cedo com a Hanna, experimentando a ideia das faixas de gaze.

Mas não funcionou. A faixa só adicionou algumas camadas a mais e acabou deixando meus peitos ainda maiores. Eu desisti e resolvi apelar para o top de ginástica.

Então, resolvi me sentar de perna cruzada, inclinada sobre o meu livro, esperando que ninguém perceba. Vejo a Becky passando pelo corredor e fico ainda mais corcunda.

Estou superalerta quando qualquer pessoa se aproxima, convencida de que todo mundo já percebeu meus amigos magicamente crescidos.

- Ei - cumprimenta Verô, jogando-se no banco ao meu lado. Ela está usando uma bolsa nova também.

É ridícula de tão grande, de couro verde-água com um monte de fivelas. Quem é essa menina e o que ela fez com a minha melhor amiga sem estilo?

- Oi - respondo, suspirando ao fechar o livro. - Não consigo entender isso.

- Jura? Você precisa de ajuda? - A Verô é incrivelmente inteligente, provavelmente porque passou a maior parte da pré-adolescência trancada em casa, lendo, graças ao bando de remédios para acne que provocava sensibilidade à luz do sol.

Arregalo os olhos e me jogo aos pés dela.

- Sì. Sì. Sì... - Paro quando percebo que estou respondendo em italiano. - Quero dizer, sim. Sim. Sim. Sim, um milhão de vezes sim!

Verô dá uma risadinha e me puxa de volta para o banco. Ela olha ao redor por alguns segundos.

Será que ela está com vergonha de mim?

Ela nunca fez isso antes. Ela nunca ligou para as minhas reações exageradas, nem para as minhas bobeiras.

Fico meio mordida, mas deixo pra lá. Provavelmente, é paranoia minha.

- Beleza. Quando você vai lá em casa? - pergunta ela, fuçando na bolsa para pegar um pacotinho de chicletes.

Ela me dá um chiclete e o enfio na boca.

- Hoje à noite? Depois da aula?

- Ah, hoje à noite?

Faço que sim com a cabeça.

Make Your Wish - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora