CAPÍTULO 12

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Quando abro a porta do guarda-roupa com tudo, Hanna está sentada no chão, encarando o teto, seu cabelo tomando metade do espaço. Ela amarrou um barbante colorido nas mãos e está brincando de cama de gato, ou pelo menos tentando, já que é uma brincadeira para duas pessoas. O resultado é só um monte de nós atados em seus dedos.

— Ah, que bom! — Ela se levanta e estende as mãos. — Esqueci como é que se brinca disso. Você tem de me ensinar de novo.

Eu só a encaro, ignorando totalmente suas mãos estendidas.

— Como se eu lembrasse! Não brinco disso desde o quarto ano.

Ela faz um bico que a faz parecer ter doze anos de idade.

— Preciso saber se você está mentindo — falo, ainda de pé, perto da porta. Eu me encosto no
batente e olho para ela com cara séria. Ela está vestida exatamente como me lembro dela. Está faltando até aquela touquinha branca horrorosa que eu arranquei da boneca porque odiava aquilo. Pelo menos, ela não tem uma ilhazinha careca no lugar da touca, porque a boneca tinha.

— Sobre o quê? — Ela desembaraça o barbante dos dedos e então recomeça, tentando criar uma série infinita de xis que antigamente me mantinha entretida por horas e horas.

— Sobre você ser a Boneca Trapinho.

— É claro que não. Por que eu mentiria? — Ela me olha por meio dos cílios grossos, como se eu é que estivesse sendo ridícula.

— Eu não sei! Por um milhão de motivos. Alguém está lhe pagando; você é uma menina de rua; isso é algum tipo de esquema. Não sei. Só que tudo isso parece inacreditável demais.

Ela dá de ombros.

— Pode ser. Mas estou feliz de ter saído daquela caixa. É superescuro lá dentro, sabia? Você poderia pelo menos ter feito um buraquinho nela.

Eu suspiro e me sento no chão ao lado dela, abrindo totalmente a porta do guarda-roupa. Eu me deito no carpete e fico olhando para o teto.

— Por que você está aqui?

Hanna se vira e se deita no chão ao meu lado. Seu cabelo ruivo-morango está quase tocando o meu.

— Não tenho a menor ideia.

Então somos duas.

Eu deveria ir para a escola, mas já perdi a maior parte da primeira aula mesmo, e até parece que eu poderia me concentrar em fusão celular quando tem uma boneca de tamanho natural morando no meu guarda-roupa. Vou tentar chegar para a segunda aula, depois de resolver tudo isso.

— Eu acho que você é um dos desejos que fiz — digo após um longo momento de silêncio. — Quando eu era pequena, eu queria que você fosse de verdade.

— Eu não entendo. — Ela se vira e me encara, e consigo sentir sua respiração na minha bochecha. Que bizarro. Bonecas não respiram.

— Uns dias atrás, eu desejei que todos os meus desejos de aniversário se tornassem realidade. E agora está acontecendo de verdade. Um por dia.

— O que mais você pediu?

— Um monte de chiclete de bolinha. E um pônei. — Eu me sento. — Ah, não.

— O que foi?

— Isso quer dizer que tenho mais doze pela frente.

— Desejos? — pergunta Hanna.

Ela é meio lerda. Ou talvez isso tudo não faça o menor sentido.

— Sim!

Fico de pé num pulo e corro para a minha escrivaninha, arrancando uma página do meu
caderno com uma caveira magenta na capa. Escrevo rapidamente dezesseis números numa coluna à esquerda. Marco um “X” enorme ao lado do meu primeiro aniversário, porque duvido de que tenha feito um pedido naquela época. Isso significa que tenho quatorze desejos de aniversário ao todo.

Escrevo “Boneca Trapinho” ao lado do meu aniversário de nove anos, “chicletes” ao lado do sétimo, e me arrisco a adivinhar que o Meu Querido Pônei foi o desejo do sexto. Parece fazer sentido.

O restante da lista está pateticamente vazio. Onze espaços em branco.

Encaro cada número, tentando me lembrar daquilo que mais queria a cada ano, mas não é fácil fazer essa viagem no tempo. O que eu mais queria quando tinha quatro aninhos de idade?

Ou mesmo dez?

Só tenho um branco para cada ano, até que eu chego ao número quinze, meu aniversário do ano passado.

Foi o ano em que eu e a Verô comemoramos no restaurante Red Robin, e eles me deram
um sundae gigante com uma velinha brilhante.

E Lauren estava lá, a várias mesas de distância, almoçando com as amigas dela. Então fechei os olhos, fiz o desejo e apaguei a vela.

Eu sei o que desejei no ano passado.

Desejei que a Lauren me beijasse.

Make Your Wish - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora