CAPÍTULO 18

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Demoro vinte minutos fuçando o meu guarda-roupa para achar alguma coisa para a Hanna, sem falar em algo que esconda os meus peitos.

Eu adoro cores fluorescentes com estampas idiotas, mas essas cores não ficam muito bem na Hanna porque ela é ruiva.

Ela adora experimentar tudo e joga as roupas para tudo quanto é canto do meu quarto, de tanta empolgação.

Aposto que há um monte de menininhas de dez anos que pagariam uma fortuna para ter uma boneca em tamanho natural e que adora brincar de se arrumar.

Talvez eu devesse alugar a Hanna como babá. Assim, mato dois coelhos com uma cajadada só.

Por fim, ela escolhe uma regata azul-bebê que eu não usava desde o oitavo ano e um par de jeans surrado. Acho que ela veste um número menor que eu, então tenho de encontrar um cinto para que a calça não fique caindo.

Mesmo com o jeans não servindo direito, ela fica, ahn, sexy.

A Boneca Trapinho tem um corpão.

Quem diria!

Enquanto o cabelo dela ainda está molhado do banho, fica mais normal — quase bonitinho, porque a água consegue domar seus cachos. Os fios ficam mais compridos, mais lisos também, e o ruivo mais escuro é muito mais bonito que o tom alaranjado de sempre.

Mas, depois de dez minutos no carro com as janelas abertas, o cabelo dela já ficou doido, tipo o do Sideshow Bob, dos Simpsons.

No caminho inteiro, Hanna ri da maneira como o cabelo chicoteia seu rosto, tentando, sem sucesso, segurá-lo perto do ombro.

Trouxe no bolso do meu short xadrez o dinheiro que minha mãe deixou. Ele não combina com meu moletom de capuz, mas estou usando mesmo assim, para esconder meu peitão.

Quando eu me vesti lá em casa até fez sentido, mas não deveria ter saído de casa com esse visual tão esquisito.

Hanna vem comigo até o supermercado Fred Mayer, e eu pego um carrinho pequeno.

Estou numa missão importante.

Fiquei tão distraída com meus peitos novos que me esqueci de conversar com a minha mãe sobre a confeitaria.

Não quero esperar mais um dia, então decidimos ir para o plano B:

Vou fazer meu próprio bolo, uma minirréplica perfeita da monstruosidade que tinha na minha festa de dezesseis anos. Vou fazer quatro camadas e decorar tudo com flores de glacê e, depois, colocar quatro velas em cada andar. Se eu fizer tudo direitinho, pode ficar bem parecido com o meu ex-bolo de aniversário.

Então, vou fazer a Hanna cantar Parabéns a você para mim, assoprarei as velinhas e, quando abrir os olhos, ela terá desaparecido, meu peito terá encolhido, não xingarei em italiano toda vez que ficar irritada, o pônei ficará no celeiro de plástico dele, e os chicletes de bolinha voltarão para as máquinas de chiclete do mundo todo.

Fala sério — se esses são os primeiros cinco desejos, será que eu quero mesmo saber quais são os outros?

Hanna me segue pelo mercado, os olhos estudando tudo. Ela para nas prateleiras perto de cada caixa e pega saquinhos de salgadinho e garrafas de dois litros de refrigerante. Ela cutuca os filões de pão francês frescos e depois derruba uma caixa de biscoitos.

Isso aqui é um parque de diversões para ela.

— Hanna, não posso ficar aqui o dia todo!

Tecnicamente, acho que posso, mas estou numa missão séria aqui. Ela resmunga e vem se arrastando atrás de mim, no corredor de coisas para fazer pães e bolos, e ficamos em silêncio, observando as caixas de mistura para bolo.

— Esse aqui parece gostoso — diz ela, segurando uma caixa de mistura para bolo de chocolate.

— Mas precisa ser branco. Como este aqui.

Mostro uma caixa com a foto de um bolo com cobertura branca.

— Granulados! — berra ela, pulando.

Ai, posso morrer agora?

Jogo as duas caixas no carrinho e fico pensando se o bolo era branco mesmo. Poderia ter sido amarelo.

Eu me agacho e pego uma caixa de mistura para bolo amarelo na prateleira de baixo.

Quando me inclino para a frente, meus peitos l novos batem com tudo na prateleira e uma meia dúzia de caixas cai, fazendo o maior barulhão ao aterrissar no chão.

Fico olhando para elas, pensando em deixá-las ali mesmo, e então suspiro, recolho tudo e coloco todas no lugar. Quando me levanto, tenho de me apoiar no carrinho para não tropeçar.

Em seguida, escolhemos a cobertura, incluindo uns tubos de uma coisa cor-de-rosa, que deve servir para fazer as flores.

Pego uma caixa de velinhas de aniversário e arrasto Hanna para outro canto do mercado para pegar ovos e leite.

Minhas costas já estão doendo um pouco. Eu me sinto como se carregasse uma montanha à minha frente, e é difícil alcançar as coisas, pois eles ficam sempre no meio. Não é tão legal assim.

E quer saber mais? A coisa mais esquisita do mundo é usar o sutiã da sua mãe. Peguei um direto da secadora, então eu sei que está limpinho e tal, mas me dá arrepios!

Depois, puxo a Hanna para a seção de roupas.

E se ela já tinha ficado maluca com as comidas, ficou mais empolgada ainda com as roupas.

— Você pode comprar essas roupas? Qualquer uma?

Olho para ela. Hanna está segurando uma blusa com gola V e mangas cheias de frufrus e florzinhas.

— Ah-hã. E eles também vendem a corda para você se enforcar.

Hanna me olha desconfiada e dá de ombros, colocando a blusa de volta na arara.

Fico pensando quanto tempo demorará até ela entender o que é sarcasmo e usar isso contra mim.

Acho que até amanhã rola.

Minha mãe usa sutiã tamanho GG. Acho que agora uso tamanho Extra-GG, porque parece que meus peitos vão explodir a qualquer momento neste sutiã, mas me recuso abcomprar qualquer coisa nesse número.

Compro o maior GG que consigo encontrar e levo um top de ginástica também. Talvez, se eles ficarem achatados, acabem parecendo menores.

Só para garantir, vou atrás de itens de primeiros socorros e pego algumas faixas de gaze.

Quem sabe eu consiga amarrar tudo e fazê-los parecerem menores...

Incômodos.

Quando saímos da loja, gastei quarenta e quatro dólares da grana que ganhei de aniversário e os vinte paus que minha mãe deixou sobre o balcão.

Lá vai o dinheiro da pizza do meu irmão. O coitado vai comer comida congelada de novo.

Uso os últimos seis dólares para comprar uns cheesebúrgueres baratinhos, que eu e a Hanna  devoramos na volta para casa.

É melhor que essa ideia do bolo funcione.

Porque, pelo jeito, ganhar tudo o que você desejou na vida acaba ficando bem caro.

Make Your Wish - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora