CAPÍTULO 14

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Eu perco o horário de almoço inteirinho para levar a Hanna de volta para casa e passar
um sermão sobre como é melhor ficar quieta e não sair do lugar.

Consigo voltar para a aula bem na hora em que o último sinal toca, e meu estômago ainda vazio ronca.

A Hanna já entrou para a lista das pessoas que não estou curtindo muito no momento.

Na aula de Fotografia, Verô e eu combinamos de ir a uma loja de artigos para festas na
cidade de Puyallup, que fica perto daqui, e eu a forço a dar uma passada na Wendy’s, no
caminho, para pegar umas batatinhas e milk-shakes. Só depois de devorá-los consigo sentir que o mundo está de volta ao normal.

Quando a Verô estaciona seu Cavalier no shopping, meu celular toca.

É a minha mãe. Que estranho!

— Alô? — pergunto, enquanto saio do carro. Coloco o capuz do meu moletom verde-limão
com zíper, enfiando meu cabelo todo lá dentro, pois começa a garoar.

— Camila?

— Ah-hã.

— Você matou aula hoje?

Meus olhos saltam para fora e olho para a Verô.

— O que foi? — Ela fala sem produzir nenhum som.

Eu faço que não com a cabeça, para que ela não fale nada.

— Hum, não. Eu cheguei meio atrasada, mas fui sim.

— Pois eu acabei de receber uma ligação do seu diretor, e ele tem outra opinião sobre isso.

— Eu juro, mãe, eu fui à escola hoje. Cheguei atrasada porque tropecei e caí em uma poça
bem em frente à escola e tive de ir correndo para casa me trocar. Eu só perdi uma parte da aula, mas fui.

— Eu lhe dou liberdade porque confio em você, Camila.

Que droga.

Eu acabo dando risada, porque o que ela está dizendo é totalmente ridículo. Ela me dá liberdade porque prefere trabalhar a ficar comigo ou com o Shawn.

Percebo tarde demais o que fiz, e agora não tem volta.

— Você está rindo de quê?

— O quê?

— Você tem alguma coisa para me dizer?

Só olho para cima.

— Não. Nada, mãe.

— Eu lhe dou tudo, Camila. Eu trabalho o dia todo para a nossa família. Não se esqueça disso.

— Mãe, eu preciso ir. A gente se fala mais tarde — digo, desligando antes de me enrolar ainda mais.

Verô está me esperando na área coberta da entrada do shopping, e dou uma corridinha até lá.

— O que aconteceu?

— Ela descobriu que eu faltei à aula hoje e queria me passar um sermão.

— Que saco!

— É. Ela tenta dar uma de “mãe do ano”. É irritante. Eu podia usar uma fantasia de galinha gigante todo dia para ir à escola e ela nem saberia se ninguém contasse.

Verô faz que sim com a cabeça.

— Mande uma foto para o BlackBerry dela. Quem sabe ela presta atenção.

Eu sorrio. A Verô entende perfeitamente como a minha família funciona e sempre me faz sentir melhor, mesmo que tudo seja uma droga e que a vida na casa dela seja perfeita. Ela me deixa reclamar uma hora inteira se eu precisar.

Make Your Wish - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora