Se jogar ou não?

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Pulei aquela grade, agora já do outro lado, segurava firme na mesma para não cair. Não ainda.

A chuva só estava ficando cada vez mais forte, e minha roupa cada vez mais molhada, mas não vai fazer diferença quando eu me jogar.

Eu estava tentando tomar coragem pra me jogar de uma vez, acabar logo com isso.

Acabar com todo esse sofrimento de uma vez.

Olhei toda a extensão da vista da cidade várias vezes, respirei fundo e fechei os olhos quando...

- Oi...

Uma pessoa disse do além. Okay, não foi do além porque quando olhei para o lado havia realmente uma pessoa, do mesmo jeito que eu, com a roupa toda molhada, inclusive o capuz e segurando na barra de ferro olhando em um ponto fixo em sua frente. As pessoas brotam agora?

Eu estava tão perdido em meus pensamentos que nem percebi quando essa pessoa chegou.

- Oi... - Respondi meio com receio, voltei com o meu olhar para frente. - Você tá aí a muito tempo?

- Na verdade eu cheguei primeiro que você. - Eu franzi o cenho totalmente confuso. - Achei a ponte primeiro que você - Que palhaçada - Portanto, eu posso ficar sozinho aqui.

- Fique sabendo que eu não vou embora daqui. - Respondi firme.

- Abusado. - Um silêncio se formou naquele instante, escutava-se apenas o som da chuva. - Você vai se jogar? - Após um tempo pergunta. Quem faz esse tipo de perguntar para uma pessoa que está a beira de uma ponte?

- Sim. Você também vai? - Eu sou um idiota.

- Vou. - Todo mundo tá querendo se matar agora. - Posso perguntar porque vai se jogar? - Perguntou e eu sorri fraquinho desacreditado.

- Bom... Aconteceu umas merdas e eu me fodi. Estou sofrendo por alguém que provavelmente já até esqueceu que eu existo. - Suspirei. - E você?

- Que engraçado... - Fiz uma careta. - Eu também... A vida é injusta.

Assenti fracamente com a cabeça, eu com certeza eu o entendia. A vida é tão injusta que no começo de tudo, me dei muito bem, mas no final...

- Você é daqui mesmo? -  Perguntou.

- Não, sou do Texas.

- Ah... Eu vim de lá de perto, não é importante.

Soltei uma risada nasal e neguei com a cabeça.

- Qual sua cor favorita? - Estava mesmo me perguntando isso?

- Por que essas perguntas agora?

- Já que vamos morrer, por que não se conhecer antes?

Era uma lógica idiota e ao mesmo tempo inteligente. Por que não?

- Ah... Gosto de azul, e você?

- Marrom.

- Mas isso é cor de bosta.

- Não pra mim.

Eu queria rir mas eu não conseguia, olhei pra baixo e suspirei. Tão alto... Olhei de novo para frente e eu já podia sentir a minha franja grudar na testa.

- Você vem sempre aqui? - Perguntei.

- Na ponte?

- Sim né.

- Sim... Eu venho sempre aqui... Mas nunca consigo me jogar sabe? Não é falta de coragem mas... É meio estranho.

Acho que ninguém consegue se jogar de primeira. Eu tô aqui e tô querendo me jogar de primeira, eu sou um belo de um idiota.

- Entendo...

- Por isso que eu disse que achei primeiro, mas pode ficar aí, eu deixo. - Eu queria socar a cara dessa pessoa. - E você?

- É a primeira vez que venho... - Falo simples. Meus braços estavam presos a grade. Eu estava tomando muita coragem para pular.

- Você me parece uma pessoa legal, mas infelizmente a nossa pequena "amizade" acaba aqui. E hoje.

Suspirei pesadamente. Ele estava certo.

- Isso é estranho né?

- O que?

- Eu venho me matar e você já está aqui tomando conta da ponte. Começamos uma "amizade" mas ela já vai acabar porque a gente vai se jogar.

Ele ficou em silêncio e eu estava quieto ainda olhando a água lá em baixo.

- Antes de pular... - Comecei - Já que vamos morrer... Pode segurar a minha mão?

Ele continua em silêncio e estende a mão em minha direção que rapidamente eu a seguro. Parecia que já tava morto, já que a sua mão tava muito gelada.

- Er... Acho que deveríamos contar... - Eu disse engolindo em seco.

- Contar o que?

- Contar até 10.

- Pra que?

Revirei os olhos e neguei com a cabeça. Que lerdeza.

- Contar pra pular.

- Ah... - Ele chegou um pouco mais perto e pude ver ele baixar o olhar para a água.

- Você começa? - Ele assentiu

- 10

- 9

- 8

- 7

- 6

- 5... Espera. - Interrompi.

A ponte - PentatonixOnde histórias criam vida. Descubra agora