1818

Capítulo 7 A troca.

~~ Freya

— Aqui está, senhorita Dclair, seu café.

Assenti em agradecimento enquanto ela colocava a bandeja na mesinha.

— Meus pais desceram?

— Não senhorita, eles pediram no quarto também.

— Obrigada, você pode ir.

Ela assentiu e saiu.

Era de se esperar que eles não descessem, quanto a mim depois de ontem queria o máximo de distância possível de Agnes. Tomei o café o mais rápido que pude e desci as escadas em direção a biblioteca.

— Juliete... — sussurrei assim que me aproximei.

— Estou aqui. — Ela disse com um sorriso quando nossas imagens ficaram nítidas no espelho. — Bom dia.

— Bom dia e obrigada por ter vindo — Falei retribuindo o sorriso.

— É bom está aqui, mas infelizmente não poderei ficar, meu irmão chegará de viajem a qualquer momento, eu e tia Sophia  estamos organizando tudo para sua chegada.

— Uma pena — Proferi com um pouco de tristeza. Esperava que pudéssemos conversar, que ela pudesse me fazer esquecer da minha realidade por um tempo.

— Poderemos nos ver amanhã novamente, no mesmo horário. – Juliete sugeriu com carinho.

— Claro, Juliete, vá ficar com seu irmão — disse com um meio sorriso, ela estava com um certo brilho de felicidade nos olhos.

— Já faz quase um mês que não nos vemos, estava a ponto de enlouquecer.

Eu prendi um suspiro. Eu também estou.

— Juliete... Irmã... — ouvimos uma voz masculina um tanto abafada.

— Ele chegou — ela abriu um sorriso que cobria todo o rosto.

— Bom então é melhor que eu vá, com certeza não queremos que ele veja isso — falei fazendo um gesto para nossas imagens — divirta-se com seu irmão, Juliete.

Ela assentiu.

— Nos vemos amanhã, Freya. — Juliete disse se afastando, eu fiz o mesmo.

— Oh como senti sua falta Ju — eu ouvi novamente a voz, mas não tão abafada como dá outra vez e embora eu soubesse que o melhor seria me afastar de uma vez, o impulso de me virar para ver a cena foi mais forte.

Virei-me no mesmo instante, nesse exato momento os dois se desprendiam de um abraço afetuoso e começavam a sair do quarto, a imagem do espelho começou se desfocar e ficar embaçada, mas antes eu pude ver um rosto, um rosto muito familiar, que eu pensei que nunca mais veria...

Noah...

Meu coração acelerou e por um momento eu pensei que iria desmaiar, ele estava lá, como antes do acidente Noah estava lá...

— Juliete... — gritei enquanto corria em direção ao espelho — Juliete!

A imagem foi se desfocando e se desfocando, quando minhas mãos finalmente tocaram o espelho só havia meu reflexo, triste, amedrontado e desolado.

Não, Noah, não me deixe outra vez. Supliquei franzindo a testa no espelho. Por favor, fica.

***

Franzi os lábios impaciente andando de um lado para o outro. Porque ela estava demorando? As últimas vinte quatro horas foram aterrorizantes, não, agoniante... Eu havia feito de tudo para raciocinar de formar correta, para tentar me convencer que o que eu vira, não era o Noah era o irmão de Juliete, que se parece com o meu como eu me pareço com ela, mas a verdade é que isso não entrava na minha cabeça por que havia sido muito real, e familiar a forma como ele a abraçou como ele olhou para ela como Noah me olhava... No que importa que não fosse ele, se eram exatamente iguais, se era como ter meu irmão novamente, como se ele nunca tivesse morrido.

— Freya... — a voz que eu tanto queria ouvir me saudou com um sorriso.

— Juliete... — disse me aproximando o máximo possível do espelho.

— O que ouve? — ela perguntou em um tom preocupado.

— Eu o vi, vi seu irmão, e ele é exatamente igual ao meu, igual ao Noah.

Juliete ficou em silencio por alguns segundos, pareceu pensar bastante no que eu disse.

— Por isso está tão abalada? Isso era de se esperar, já que nós somos tão parecidas.

— Não, você não entende, era como se fosse o Noah, por alguns segundos, foi como se eu tivesse acordado de um pesadelo horrível.

— Oh Freya, eu sinto muito de verdade — ela disse com tristeza nos olhos.

— Então por favor me ajuda — supliquei sem conseguir conter as lagrimas — Juliete, por favor, um dia, é o que eu peço, um dia em seu lugar.

Seus olhos se abriram em espanto.

— Freya isso...

— Se coloca no meu lugar, se você tivesse perdido ele, se tivesse perdido seu irmão, seu único irmão, a única pessoa que te amou e te protegeu por toda a vida, não faria tudo o que estivesse ao seu alcance para vê-lo, uma última vez? Você terá toda a sua vida para ficar ao lado dele — soltei um soluço — eu só tinha meu irmão e agora não tenho mais nada.

Fiz uma pausa tentando me controlar.

— Por favor, Juliete, por favor... — supliquei.

Quando olhei para seu rosto, havia lagrimas também. E então ela assentiu e eu pude dá um suspiro de alivio.

— Obrigada — sussurrei — muito obrigada.

Juliete suspirou.

— Você atravessa, ou eu? — ela perguntou olhando indecisa para o espelho.

— Eu... — disse me repreendendo mentalmente pelo medo. Nunca havíamos tentado atravessar por completo antes.

Tomei todo o folego possível e elevei a mão até o espelho, foi assustador, mas estava funcionando, logo depois a cabeça e então, eu estava no quarto de Juliete.

— Foi muito assustador, mas já faz um tempo que queria fazer isso — ela disse me abraçando e eu retribuí, sempre seria grata a Juliete por isso.

— Obrigada — sussurrei mais uma vez.

— Por favor, só não se machuca mais, embora se pareçam ele não é o Noah, é o Ethan e podem ser muito diferentes um do outro, não crie expectativa.

Assenti. Eu estava ciente disso.

— Então troquemos de roupa, e me diga o que terei que fazer. – Juliete continuou.

— Certo...

Minhas roupas não foram difíceis de tirar e Juliete vesti-las logo em seguida, já o vestido dela foi um desafio para tirá-lo e colocá-lo em meu corpo.

— Você ficará todo o dia em casa — ela dava Instruções enquanto me ajudava a colocar o vestido — não precisa saber o nome de ninguém que não seja da nossa tia Sophia e do Ethan, receberemos visita de algumas aproveitadoras.

— Aproveitadoras?

Juliete revirou os olhos com um sorriso.

— Caça maridos e suas mães, Ethan é um bom partido, elas fazem de tudo para conquistá-lo.

— Ah.

Isso era familiar.

— Nós temos um trato, eu sempre o ajudo a se livrar delas.

Assenti. Isso também.

— Haja naturalmente e tudo vai dá certo. E desfrute do dia com ele.

Assenti de novo. Estava começando a ficar nervosa.

— Não a muito o que fazer na minha casa — comecei vacilante.

— Você estar brincando? Eu vou para 2017, ninguém nunca em meu tempo vai poder dizer o mesmo que eu.

Sorri de sua animação.

— Espero que goste — falei com sinceridade.

— Eu vou.

— Só tenta se manter longe dos meus pais, com o Charles ainda dá pra conversar, mas com a Agnes... — meneei a cabeça — e não toque no nome do Noah.

A menos que queira levar um tapa. Acrescentei mentalmente.

— Certo, entendi. Mas você terá que tirar isso. — Ela falou olhando para meu braço onde estava a pulseira que Noah havia me dado.

Instintivamente eu atraí meu braço para mim.

— Eu nunca a tirei, desde que ele morreu... — Divaguei fitando-a no meu pulso — Você irá cuidar dela? — sussurrei com emoção.

— Como se fosse minha.

Engoli um seco tirando e entregando a ela.

— Então, vamos?

Juliete me abraçou novamente e depois se encaminhou para o espelho, atravessou com mais agilidade e elegância do que eu, me deu um aceno de boa sorte e se afastou. Eu suspirei. Era realmente real, eu o veria novamente. Sentei-me a cama tentando me acalmar.

— Senhorita Dclair — alguém bateu a porta e eu me pus em pé de uma vez — o senhor Dclair deseja vê-la na sala de visita.

Era a hora.

— Sim, sim — disse com muito esforço me encaminhando para a porta — já estou indo.

Não foi tão difícil encontrar a sala, a casa não havia mudado muito até o meu tempo, então era como se realmente estivesse nele, ou quase isso. Assim que cheguei, dei um grande suspiro tentando me acalmar. Era isso, eu veria seu rosto novamente, depois de tudo...Entrei na sala e ele foi o primeiro que vi.

— Irmã... — ele sorriu me fitando também.

Noah...