Falando Sozinha

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Disse um Curto tchau pra Jessie.

Passei no RH e pedi demissão.

As meninas pareciam não acreditar mas fiquei calada enquanto elas passavam o pedido pro sistema formalmente, depois disse que voltaria no dia seguinte pra buscar as minhas coisas e vim pra casa.

No caminho só queria chorar, por que em minha mente vinham todas as coisas que passei e me sujeitei pra entrar no The Jornal, passei muitas dificuldades emocionais e financeiras pra alguém chegar e me chamar de gorda na cara dura, e pior, me remanejar pra um outro setor pelo simples fato de vincular a minha imagem ao setor.

Isso mexeu comigo, e está me machucando lentamente.

Me tranquei em meu apartamento desde que cheguei, tomei um banho e com a ducha as lágrimas foram caindo porque com elas me virem lembranças nas quais tento banir da minha vida para sempre, mas elas não vão, elas se instauraram dentro de mim e vão deixando as feridas abertas, elas nunca cicatrizam.

Me peguei lembrando do dia do casamento, o pior dia da minha vida, o dia em que fiquei plantada num altar esperando pelo cara no qual confiei todos os meus planos de vida, alguém a quem entreguei meu corpo e meu coração verdadeiramente, no qual confiei e amei desde sempre, e chorei muito por conta disso.

Fechava os olhos e me lembrava do eu vestido, dos convidados nos bancos, da igreja decorada, dos meus pais me olhando na expectativa e de toda a felicidade que eu mantinha dentro de mim quando cheguei ao lugar pro dia mais feliz da minha vida, e em seguida de ver todos os convidados indo embora, papai tentando achar Timmy e mamãe tentando me consolar enquanto eu não conseguia aceitar a dura realidade: ele não iria.

Não foi a pior vergonha da minha vida, foi a pior dor que sofri em minha vida.

Meu maior sonho sempre foi me casar de branco, ter minha família presente e poder ter alguém ao meu lado que me desse um lar estável e bebês, muitos bebês, eu sempre quis filhos, um cachorro, essas coisas, acabei jogando meu buquê de noiva no lixo, queimando meu vestido de noiva e doando toda a comida da festa pra alguns moradores de rua da minha cidade.

Fiquei meses isolada em casa, reclusa, não tinha uma forma de melhorar e sair de toda mágoa, meus pais tinham vergonha dos vizinhos, a família de Tymmi não sabia onde enfiar a cara, principalmente seus pais, pois crescemos juntos e as duas famílias se conheciam a anos.

Depois disso saber através de outras pessoas que ele me largou por que eu era acima do peso foi o maior golpe de todos, senti-me humilhada, ultrajada, e só me restou partir, por que ficar ali suportando uma vida de abandono e fofocas estava me matando.

E eu estou convicta desde que parti, que cada dia mais as pessoas nunca irão me aceitar pelo meu tamanho e peso, já me sentia distante no meu cargo, pois sou a única redatora—ou era—gordinha de todo o jornal, não tem muitas garotas como eu lá, agora o chefe deixa bem claro isso, é algo que me machuca profundamente.

Acho que preciso de um chá.

Levanto e coloco uma blusa quente, depois vou me arrastando até a cozinha, meu nariz está avermelhado e meus olhos inchados, agora que chorei posso enfim ficar em paz comigo mesma, já é quase 16:00 horas, o dia passou bem rápido depois que saí do jornal.

Abro as minhas persianas e fungo enquanto coloco a chaleira no fogo.

As coisas na minha vida não têm sido fáceis, fico me lembrando do que a Brenda falou, parece que quando estamos mal, vamos juntando tudo e ficando ainda piores por aquilo.

PluS SiZe (Livro I) - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora